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A PEDRA FILOSOFAL – dos Evangelhos aos tratados alquímicos

10.00

Informação adicional

Peso280 g
ISBN

978-989-8994-07-3

Ano

2020

Edição

1

Idioma

Formato

11 x 18

Encadernação

Cartonada

N. Pág.

220

Colecção

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«Os Evangelhos podem ser compreendidos e interpretados à luz da ciência alquímica. Aparentemente, apenas relatam a vida de um homem, Jesus, nascido há mais de dois mil anos na Palestina; mas, na realidade, por intermédio das diferentes etapas da sua vida, do nascimento até à morte e à ressurreição, também descrevem processos alquímicos.

Apesar das condenações a que foi votada pelo clero, a alquimia impregnou profundamente a mística e o esoterismo cristãos. E se se estudar certas figuras que existem no exterior e no interior de catedrais como a Notre Dame de Paris ou a Notre Dame de Chartres, descobrir-se-á que os construtores de catedrais tinham conhecimentos alquímicos que a arquitectura e a escultura amplamente testemunham».

X

A PEDRA FILOSOFAL, FRUTO DE UMA UNIÃO MÍSTICA

A palavra “alquimia” evoca geralmente uma ciência e técnicas misteriosas que terão permitido a algumas personagens do passado fabricar ouro. Mas ela também terá levado muitos outros buscadores, quiméricos ou charlatães, a fazerem experiências nas quais se esgotaram, perderam todos os seus bens e, às vezes, até a razão. Sim, porque, para transformar os metais em ouro, primeiro era necessário obter essa substância com propriedades maravilhosas chamada “pedra filosofal”, cuja preparação é extremamente demorada e complicada.

Os alquimistas referiram-se à preparação da pedra filosofal como «trabalho de mulher e brincadeira de criança». Mas o que pode entender desta fórmula alguém que não estudou os grandes princípios que operam no Universo? Em primeiro lugar, os alquimistas, que costumavam revelar coisas dissimulando-as (o que torna os seus tratados tão difíceis de compreender), inverteram a ordem dos termos, que deveria ser: brincadeira de criança e trabalho de mulher. E que brincadeira de criança é esta? O berlinde, os soldadinhos de chumbo, as bonecas?… E o trabalho de mulher: a limpeza, a cozinha, o tricô?… Claro que não, trata-se de uma brincadeira e de um trabalho muito específicos relacionados com o papel e a vocação dos dois princípios, masculino e feminino.

O trabalho da mulher é trazer no ventre e dar à luz um filho. O resto não é essencial, o homem também pode fazê-lo. O verdadeiro trabalho da mulher é o trabalho que o homem não pode fazer, enquanto a “brincadeira de criança” é exclusiva do homem, é a ele que cabe “brincar” para dar à mulher o germe que ela trará em si e fará amadurecer. Esta brincadeira dura pouco tempo, enquanto o trabalho da mulher é muito mais demorado, dura meses.

Quem quiser desvendar o segredo da pedra filosofal deve, pois, conhecer os elementos e os processos que entram em ação quando o homem e a mulher concebem um filho, e depois, quando o filho já foi concebido, como ele é formado no ventre da mãe. A preparação da pedra filosofal obedece às mesmas leis que a conceção e a gestação, porque os diferentes reinos da Criação são regidos pelas mesmas leis.1
Na alquimia, os dois princípios, masculino e feminino, são o enxofre e o mercúrio, que se unem para produzir um filho: o sal. Trata-se, pois, do mesmo processo cósmico: o trabalho do espírito sobre a matéria. O espírito fecunda a matéria introduzindo nela a sua quintessência; e o filho nascido desse trabalho é todo o Universo, com a multiplicidade de criaturas que o povoam

Atualmente, a alquimia não é levada a sério pela maioria dos químicos, que a consideram, na melhor
das hipóteses, como o antepassado da sua ciência, um antepassado muito primitivo e completamente ultrapassado. Não vou entrar nessa discussão. Recordo apenas que um dos fundamentos da química é a reação “ácido + base = sal (+ água)” e que a pedra filosofal – o objetivo do trabalho alquímico – é um sal produzido pela união do enxofre com o mercúrio. O ácido, tal como o enxofre, representa o princípio masculino; a base, tal como o mercúrio, representa o princípio feminino; em ambos os casos, a sua união produz um sal. Como as realizações e os propósitos dos químicos não são os mesmos que os dos alquimistas, eles não devem criticar-se nem menosprezar-se uns aos outros.

A pedra filosofal, que os alquimistas descrevem como um pó vermelho, tem como propriedades essenciais transformar os metais em prata ou em ouro e as pedras comuns em pedras preciosas, curar doenças, prolongar a vida e, finalmente, desvelar os segredos da Natureza. A transmutação dos metais, em particular a do chumbo em ouro, tem sido a vertente mais realçada. Durante muito tempo, esta busca foi considerada como uma fantasia de alguns sonhadores. Mas os avanços na física nuclear vieram revelar que tal transmutação é possível.

Um átomo de chumbo contém oitenta e dois eletrões e oitenta e dois protões, e um átomo de ouro contém setenta e nove eletrões e setenta e nove protões. Portanto, para transmutar chumbo em ouro, basta modificar a sua estrutura atómica, retirando três eletrões, três protões e alguns neutrões. Sim, basta esta pequena modificação. Fizeram-se experiências bem-sucedidas nesse sentido, mas os meios que é preciso utilizar são tão caros, que é mais vantajoso continuar a procurar ouro na Natureza.

Ora, os alquimistas não se contentam com o que a Natureza lhes dá. Os processos de transformação da matéria mineral nas entranhas da Terra são extremamente demorados. Foram necessários muitos milhões de anos para que se formassem as primeiras jazidas de ouro ou de pedras preciosas! Os alquimistas procuram acelerar os processos, mas também “melhorar”, “aperfeiçoar”, a matéria, transformando os metais vis em metais preciosos. E o segredo para este aperfeiçoamento está nessa substância chamada “pedra filosofal”, cuja preparação foi e ainda é objeto de muitas pesquisas e muitas experiências.

A preparação da pedra filosofal consiste em cozer uma matéria colocada num recipiente chamado “ovo filosófico”, que depois é colocado num forno chamado “atanor”. Mas os alquimistas não especificam a que temperatura ela deve ser cozida e, acima de tudo, nunca dizem com exatidão o que é esta matéria, à qual dão uma grande variedade de nomes. Referem apenas que ela resulta da combinação de um metal com um mineral e que, de todos os metais e minerais da Terra, apenas um de cada categoria podem combinar-se.

Quando postos no cadinho, o metal que representa o princípio masculino e o mineral que representa o princípio feminino devoram-se. Aparece então um terceiro tipo de matéria, que não é mineral nem metal, mas sim uma substância que já não pode ser decomposta. E também neste ponto os alquimistas se opõem aos químicos. Sempre que um químico combina metais com minerais, usando certos processos pode voltar atrás e desfazer a combinação. Mas os alquimistas afirmam que conhecem um mineral e um metal que, ao devorarem-se mutuamente, produzem a base da matéria da qual será extraída a pedra filosofal, e que essa matéria já não pode ser decomposta, pois a combinação é irreversível.

Esta teoria é compreensível e aceitável se a transpusermos para outro domínio. Um filho que nasce é o resultado do encontro entre um pai e uma mãe. Mas como é que podemos “decompor” essa criança para voltar a ter, de um lado o seu pai e do outro a sua mãe? Não é possível. Esta criança é uma nova entidade, o produto de uma combinação que não pode ser desfeita para se voltar aos seus pais. A pedra filosofal é o filho de uma união mística.

Apesar de todos os seus aspetos obscuros, a alquimia é uma ciência que não deve ser negligenciada, pelo contrário. Se nos dermos ao trabalho de aprofundar os seus princípios, descobriremos que, na realidade, ela apenas se refere a questões que são vitais para nós. Eu disse-vos que, ao participar na transformação da matéria, o alquimista quer ajudar a Natureza. Pois bem, nós também podemos ajudar a Natureza nos esforços que ela faz relativamente a nós.

A preparação da pedra filosofal está inscrita no grande Livro da Vida, e o Livro da Vida é o Universo, mas também o ser humano. Agindo sobre a nossa própria matéria, podemos tornar-nos mais rapidamente aquilo em que devemos tornar-nos: o “ouro temperado pelo fogo” que é mencionado no Apocalipse. É o fogo que permite acelerar o processo, e este fogo é amor. Quando tiverdes compreendido que sois vós próprios a matéria que deve ser cozida e que o amor é o fogo no qual deveis cozê-la, tereis o conhecimento essencial para preparar a pedra filosofal e obter ouro.

É pelo calor que a Natureza faz com que o ouro e todos os outros metais cheguem à maturidade; ele é também como um alimento que a cozinheira põe no forno: precisa de calor. Na Natureza, o ouro forma-se muito lentamente, porque o calor que o coze é muito fraco. Para produzirmos ouro em nós, temos a possibilidade de proceder mais rapidamente: basta aumentarmos o calor. Mas também devemos ter o cuidado de não queimar tudo. O aprendiz de alquimista pode ser comparado ao aprendiz de cozinheiro, que ainda não sabe usar o fogo na medida certa: ou deixa queimar os pratos ou o calor é tão baixo que eles não ficam suficientemente cozidos.

Para realizarmos a grande obra e encontrarmos a pedra filosofal, devemos acender o fogo do amor em nós e aprender a regulá-lo. É por intermédio do amor que se acelera o processo: aumentando o amor, reduz-se o tempo de preparação. Mas o amor também requer um grande controlo, senão pode-se queimar tudo. O amor é o fogo mais terrível se não se sabe controlá-lo, por isso deve sempre ser temperado com a sabedoria. Agora compreendeis melhor… A pedra filosofal é o estado de consciência divino que pode ser alcançado por intermédio do amor e da sabedoria.

O fogo tem um papel tão importante no processo alquímico porque a própria vida é uma espécie de combustão. A maturação dos metais, como a dos frutos, não é mais do que uma combustão. A vida é mantida por um fogo, mas um fogo que não consome, que não calcina. E em nós essa maturação faz-se pelo fogo do amor, que age sobre a nossa matéria psíquica. Como vedes, encontramos sempre as manifestações dos dois princípios: o princípio feminino, a matéria, simbolizada pela água, sobre a qual age o princípio masculino, o espírito, o fogo.2

Encontramos na vida espiritual todos os trabalhos que os alquimistas realizam e para os quais usam diferentes recipientes e instrumentos: cadinhos, retortas, alambiques, atanores… O cadinho, a retorta, o alambique, o atanor, são o próprio homem, e ele é também a matéria sobre a qual serão realizadas as operações. Para estas operações, o homem precisa do fogo, mas um fogo muito especial, que requer um grande saber para que o procedimento obedeça às regras.

Então, fica claro: nós possuímos a matéria e temos também o recipiente para a cozer, pois somos esse recipiente, mas o fogo e o conhecimento precisamos de os adquirir. Este fogo é, portanto, o amor, mas não um amor qualquer, não o amor que consome e destrói, mas sim o amor que preserva, que vivifica. Alimentando em nós o fogo do amor, conseguimos extrair a quintessência da nossa matéria, e é esta quintessência que introduzimos em tudo o que fazemos para o transformar em ouro.

Os alquimistas não dizem em que consiste a matéria da pedra filosofal. Mas, no que diz respeito à nossa própria matéria, sabemos o que ela é: tudo o que em nós não é a quintessência pura de Deus é matéria. Expliquei-vos isso quando vos disse que o ser humano é constituído por diferentes corpos: físico, astral, mental, causal, búdico e átmico. Relativamente à centelha divina que habita em nós, estes diferentes corpos são matéria, mais pura ou menos pura, mais subtil ou menos subtil, mas, em todo o caso, matéria.3 É sobre estas diferentes matérias que devemos trabalhar, sabendo que elas estão em correspondência com os quatro elementos do Universo.
Sempre que pomos em ação a luz e o calor, sempre que agimos com sabedoria e amor, formamos em nós a pedra filosofal, que transmuta toda a matéria em ouro. E é aí que nos tornamos verdadeiros alquimistas. A ciência alquímica não é só para pessoas que se trancam durante anos numa pequena sala rodeadas de velhos tratados indecifráveis e alambiques com formas bizarras. Mesmo que consigam fabricar ouro, para que é que isso lhes servirá? Esses anos de trabalho tê-las-ão envelhecido, desgastado, já nem sequer estarão em condições de utilizar o ouro que obtiveram. Em breve deixarão a terra e, quando a deixarem, não o levarão consigo.
Alguns dirão: «Está a pregar a quem já está convencido! Não temos qualquer intenção de procurar a pedra filosofal para fabricar ouro, isso não nos interessa.» Muito bem, mas não podeis escapar à procura interior desta pedra. Mais cedo ou mais tarde, a vida agarrar-vos-á e colocar-vos-á no cadinho sem pedir a vossa opinião.

A vida do homem, o seu desenvolvimento, a sua evolução, estão assentes no poder que ele tem de transformar a matéria, a matéria física e a matéria psíquica. A nutrição é o exemplo mais instrutivo neste sentido. Como é possível não ficar maravilhado com a complexidade e a subtileza de todos os processos que entram em jogo desde o momento em que colocamos um pedaço de pão ou um fruto na boca, até àquele em que a quintessência desses alimentos entra no nosso sangue, para se tornar saúde, pensamento, sentimento, inspiração?4

No plano psíquico, também podemos transformar tudo, fazer com que tudo sirva para a nossa evolução. E mesmo isso vai ainda mais longe… Sim, a não ser em casos excecionais, o organismo físico não pode absorver qualquer substância, e é necessário não só escolher os alimentos, mas também prepará-los, porque há sempre alguma coisa a remover: as espinhas do peixe, a casca do queijo, a pele de certos vegetais e frutos, os caroços, as grainhas, etc. Mas no plano psíquico tudo pode ser absorvido e transformado, não só as energias brutas que trazemos em nós na forma de paixões, de vícios, mas também os venenos que nos vêm do exterior.

A verdadeira ciência alquímica aplica-se à vida. Ela não se limita a transformar em ouro os metais vis, tudo o que no nosso organismo físico e no nosso organismo psíquico se opõe a que recebamos a luz, para nos alimentarmos e saciarmos a nossa sede; também transforma as pedras comuns em pedras preciosas. A lapidação, essa tortura que consiste em matar homens ou mulheres apedrejando-os, já não é praticada nos países ditos civilizados. Mas há tantas outras maneiras de atirar pedras a alguém: as suspeitas, a maledicência, as calúnias… Eu fui alvo de muitas pedras destas! Não tendes a menor ideia das acusações que fizeram e ainda fazem contra mim… Mas, em vez de me deixar sepultar debaixo dessas pedras, agarrei-as uma a uma, trabalhei-as, transformei-as em pedras preciosas, e são elas que agora vos dou sob a forma de luz e de amor.

Eu não direi que possuo a pedra filosofal – nunca devemos enaltecer-nos! –, mas trabalho nela e todos os dias acumulo ouro, rubis, esmeraldas, safiras, granadas, topázios, para vo-los distribuir. Estais cientes disso, ao menos? Compreendeis que eu também obtenho o meu saber a partir de todas as pedras que me atiraram? E, acima de tudo, estais prontos a usar os mesmos métodos que eu para transformardes tudo o que é escuro e mau, dentro e fora de vós, em ouro puro e pedras preciosas?
Não precisais de procurar a pedra filosofal noutro lugar que não seja em vós mesmos, pois não há pedra filosofal mais poderosa do que o espírito. No dia em que chegardes ao estado de consciência em que sentireis que o vosso espírito, o vosso Eu superior, é um princípio imortal, eterno, uma entidade indestrutível que viaja pelo espaço e penetra em toda a parte, compreendereis que nada é mais importante do que usar esse poder para trabalhar a matéria, a vossa própria matéria, para a purificar, a vivificar, a ressuscitar.
A pedra filosofal é a quintessência que transforma tudo em ouro, em luz, desde logo em vós mesmos, mas também em todas as criaturas ao vosso redor, porque tudo se propaga. É esta a dimensão sublime da pedra filosofal.

Notas
1. Cf. «Cherchez le Royaume de Dieu et sa Justice», Parte VIII, cap. 2, IV: «L’essence solaire de l’énergie sexuelle».
2. Cf. Os esplendores de Tiphéreth, Obras completas, t. 10, cap. XXI: «As três espécies de fogo».
3. Cf. «Et il me montra un fleuve d’eau de la vie», Parte VI: «Les niveaux de la conscience».
4. Cf. O yoga da alimentação, Col. Izvor n.° 204, cap. I: «Alimentar-se, um ato que diz respeito à totalidade do ser».

ÍNDICE

I – Acerca da interpretação das Escrituras …… 7 1
– «A letra mata e o espírito vivifica» ……. 9 2
– A palavra de Deus …………………………… 18

II «Não é o que entra pela boca que torna o homem impuro…» ………………. 31

III «Vós sois o sal da terra» ………………………. 51
1 – Marcar a matéria com o selo do espírito … 53
2 – A fonte das energias ………………………… 70

IV «E se o sal perde o sabor…» …………………. 79

V Provar o sabor do sal: o amor divino ………. 95

VI «Vós sois a luz do mundo» ……………………. 103

VII O sal dos alquimistas …………………………… 115

VIII «E como todas as coisas são e provêm de Um» ………………………………… 125

IX O trabalho alquímico: o 3 por cima do 4 …………………………………. 135

X A pedra filosofal, fruto de uma união mística ……………………. 149

XI A regeneração da matéria: a cruz e o cadinho ………………………………… 163

XII O orvalho de maio ……………………………….. 179

XIII O desenvolvimento da semente divina ……. 189

XIV O ouro do verdadeiro saber: o alquimista e o pesquisador de ouro ……….. 201