SINOPSE
Com a idade, a alma ou psique de cada um, o mar imenso de milhões de partículas e ondas que formam o conjunto das suas tendências e emoções, sentimentos e pensamentos, vai-se caracterizando e definindo e, ao fortificar as suas ligações com o Espírito, com a Centelha Divina e individualidade íntima, torna-se uma alma já não meramente animal ou racional, mas também e primacialmente estética e ética, ecológica e compassiva, sábia e espiritual, aberta ao Cosmos e aos seus seres, com os sentidos espirituais e o discernimento mais despertos.
A tal passagem se chama o Caminho que se vai fazendo e este livro testemunha essencialmente tal demanda, em alguns aspectos, e são meditações e reflexões, intuições e desvendamentos partilhados com o objectivo de poderem ajudar outras almas no Caminho a compreender melhor os sentidos da Vida, a conhecer alguns ensinamentos tradicionais e a receber ou a despertar mais a Luz, o Amor e o Poder nas suas peregrinações ou vidas.
CAPÍTULO XVII
DA MORTE E DA ARTE DE BEM MORRER
Quando enfraquecemos ou adoecemos fisicamente, de certo modo, aproximamo-nos da morte, e podemos mesmo ser tão tocados por ela, apanhados ou vencidos, que acabamos a nossa vida terrena. Ora o roçar da fronteira do além aproxima-nos também dos seres que, já mortos para o corpo físico, estão ainda próximos ou capazes de entrarem na zona terrena, pelas mais diversas razões, e que nos podem subitamente surgir em pensamentos e lembranças, sonhos e intuições…
Sabermos então estar atentos ao longo da vida e dos seus momentos mais difíceis ou belos e orar neles, não só por nós, pelos que sofrem, pelos que estão a morrer, mas também para os que
já morreram, é então importante.
Oremos para que eles consigam encontrar, por entre as neblinas do além e os choros do aquém, a luz ascensional e o amor quente nas suas almas, despertando para uma nova fase de vida, nos planos subtis. E oremos para que os seus familiares e mais próximos consigam rapidamente comunicar com o coração e sentir a união do Amor invencível e, deixando de chorar ou lamentar-se excessivamente, não os façam sofrer nem ficar ainda mais presos à Terra.
Há, todavia, muitos mistérios quanto à eficácia de oração e meditação, pois nunca sabemos bem a quantidade e a intensidade que devemos disponibilizar ou empenhar em tal tarefa luminosa, de modo a que, por exemplo, os que acabaram de morrer sejam fortificados ou desprendidos, harmonizados, curados e aliviados substancialmente…
Sabemos com efeito ainda muito pouco das formas e dos efeitos da irradiação energético-anímica das nossas orações, que partem dos nossos corpo subtis e do cérebro, pelos que morreram, e que se nos afiguram ou admitimos como necessitando de mais luz e forças no seu caminho…
Ou seja, quais são as melhores formas de tornarmos as orações ou preces mais eficazes, bem como o tempo e regularidade delas, embora certamente a interioridade, o amor, a sensibilidade
e a intensidade que desenvolvermos sejam o mais importante…
Naturalmente, o fechar os olhos e meditar, para avaliar a situação interiormente e intuitivamente, e depois o orar, com sensibilidade, observando os impulsos orativos ou irradiativos que nos surgem, e logo modificando o modo (orações, visualizações, sentimentos, frases, raios) com que o estamos a realizar, ou mantendo por mais tempo a prática, será melhor método para aferirmos da eficácia das orações do que se oferecer uma regra geral e abstracta…
Claro que sabermos erguer no firmamento psíquico, ou introduzir nos veios subterrâneos subconscientes da Humanidade, algumas orações, visualizações, cantos ou mantras para que
todos possamos vivenciar melhor a passagem para o além e os primeiros tempos lá é certamente uma tarefa valiosa e que, à excepção de alguns raros espíritos mais contemplativos, poucos farão, pelo que nunca será demais orarmos pelos que conhecemos, e estão a partir ou já partiram, para que algumas energias luminosas, coloridas, floridas e amorosas os vitalizem na sua fase ou caminho consciencial ascensional, participando assim nós da Santa Campanha ou corpo Místico da Humanidade, na qual todos podemos dar as mãos e almas pelo Bem e o Divino…
Associado a esta prática orativa e encaminhadora das almas nos mundos post-mortem há uma outra tarefa que todos deveríamos cultivar de quando em quando e que tradicionalmente se chama Ars Moriendis, a Arte de Morrer, e que ao longo dos séculos teve numerosos cultores e escritores, nomeando-se apenas Erasmo e a sua Preparação para Morte, na qual defende entre outras valiosas considerações, o “vive bem para que morras bem”.
Referiremos ainda a utilização de caveiras ou ossos por ascetas das várias tradições para se lembrarem da impermanência da vida, ou que o tempo foge e vaidade pouco dura, o que a arte, pintura e escultura com grande qualidade representaram, oferecendo também nas suas obras, nomeadamente as representando Maria Madalena ou S. Jerónimo, pontos de apoio à meditação na efémera vaidade mundana e impulsionando à conversão e intensificação espiritual.
Com efeito, uma prática espiritual, de que pouco se fala, mas
que é valiosa, é o confronto interior com a ideia da morte nossa, já que a dos outros está tão banalizada pelos media que já pouco impressiona pois, como um dia todos morreremos fisicamente,
antecipar tal é preparar e fortificar o nosso ser para tal desenlace…
Como exercício meditativo é então uma preparação útil para esse transe, muitas vezes difícil ou doloroso, pois ao confrontarmos com sabedoria a ideia da Morte, tão rica de diversas associações, despertamos as nossas energias mais fundas ou plutónicas de imortalidade e somos fortificados, desprendidos e mais ancorados espiritualmente, além de ficarmos gratos por tudo o que vivemos e ainda viveremos, e decididos até a diminuir os efeitos negativos do que eventualmente causamos e a
intensificar os luminosos…
Poderemos, primeiro, rever rápida ou mais demoradamente a nossa vida e ver o melhor e o pior que fizemos, arrependendo-nos do último e alegrando-nos do primeiro. E, em seguida, pensar e aprofundar meditativamente assim: “Já nos momentos que antecederão a morte e durante a transição, eu estarei identificado com o espírito imortal, invencível, e estarei direccionado
e apontado aos planos espirituais, invocando ou reverenciando os guias, anjos e a Divindade, com pensamentos de alegria e destemor perante a separação do corpo e a penetração no misterioso Além, rumo ao mundo espiritual e ao Divino.
Quando morrer, o meu corpo ficará em terra e começará a desagregar-se mas a minha consciência e identidade espiritual permanecerá, desprender-se-á dos laços e atracções ao corpo, soltar-se-á dele, não sofrerá com a sua decomposição nem se assustará com a cremação. Partirei para o alto, provavelmente com o meu Anjo ou o Guia, aspirando a elevar-me o mais possível e a reencontrar os familiares ou os guias que me auxiliarão também a avançar nos mundos subtis e espirituais, rumo a
uma maior proximidade da Fonte Divina do Cosmos”.
Estas considerações são em si já valiosas e melhor ainda serão se ficarmos depois alguns momentos vibrando nelas apenas como almas-espíritos, semi-libertas dos laços, medos e véus terrenos e aspirando ao alto, à Verdade e a Deus.
Controlemos a entrada de outros pensamentos ou preocupações e serenemos os riachos da mente, tornando-a um lago calmo e unificado para a consciência determinada e aberta aos eflúvios espirituais, deixando que as bênçãos e inspirações espirituais e a autoconsciência do Ser encontrem o caminho desobstruído para chegarem e permanecerem no écran da nossa consciência e no nosso corpo psico-espiritual…
O ser que faz esta meditação na morte e na imortalidade, e na ligação ao Divino, intensifica as vibrações luminosas da sua aura e alma e torna-se um foco de irradiação clarificadora, amorosa e verdadeira, mais destemido e não entravando a marcha incessante e perene da Humanidade, algo travada nos que passam o tempo com medo da morte no final da sua vida…
Com efeito, o poder da concentração, o uso acertado da vontade para intensificar o sentimento ou o pensamento, realizado de forma perseverante, corajosa e regularmente, faz milagres não só quanto à melhoria da constituição íntima da alma, o que se pode fazer até ao último minuto da vida, como também nas próprias capacidades e realidades no mundo material, pois a ligação entre os mundos é grande e no fundo a vida e a morte são duas faces da mesma realidade, e descontrair-nos
dos receios da morte ajuda à fluidez mais apropriada e luminosa na vida.
Outro exercício correlacionado é subitamente imaginarmos que vamos morrer dentro de poucas horas, por exemplo lançados para o interior de um vulcão… E, sentindo intensamente tal eminência da morte, interrogar-nos: O que queremos deixar aos que nos conheceram e gostaram mais de nós, ou aos que nós mais amamos?
Não me refiro só a objectos, dinheiros e livros mas sobretudo palavras, mantras, ensinamentos e energias anímicas que cada uma dessas pessoas acolherá e levará consigo, celebrando a Unidade supracorporal e espiritual consigo…
Envie então essas forças anímicas para tais pessoas e consciencialize- se das que ainda tem de desenvolver, cumprir ou culminar na Terra, para que, chegada a hora, não fique preso ao que não fez ou disse, não deu ou completou.
Discernir bem, em tais momentos de assunção da morte eminente, o que foi prometido e não cumprido, o que foi desejado e intencionado e não realizado, é importante para se libertar mais no resto de tempo de vida terrena que tiver ainda, cumprindo ou completando o que lhe falta, ou esgotando os seus impulsos e desejos limitadores…
Que a sua meditação da morte lhe dê mais consciência do que há a fazer, maior despreendimento e identificação espiritual e, especialmente, mais amor à vida eterna e gratidão aos antepassados, aos Mestres e Anjo e à Divindade que lhe permitiram chegar até este ponto, o aqui e agora onde tudo está…
Força e Amor…
Morra e renasça florida e libertadoramente…
ÍNDICE
Prefácio
I Das Tertúlias e eas Amizades, do Amor e do Conhecimento
II Sobre a Consciência e as Práticas Espirituais, o Espírito e o Divino
III Da Voz do Silêncio, do Som Interno, das Orações e Mantras ao Divino
IV Da Singulariedade do Ser e da Sua Nacionalidade e Tradição
V Da Não-Violência e a Educação para a Paz em Portugal
VI Da Meditação
VII Dos Mandalas
VIII Da Pureza
IX Aborrecer o Mal, Fazer o Bem
X Da Harmonia Consigo Mesmo
e da Abertura aos Outros e à Natureza
XI Da Procura dos Mestres e do Espírito
XII Do Espírito da Verdade ou do Espírito Santo
XIII Da Noites Claras e Escuras e das Transições
XIV Do Diálogo e da Palavra Justa ou Sagrada
XV Dar-Se Inteiro ao Coração, Saber Com o Coração
XVI Da Dança Sagrada
XVII Da Morte e da Arte de Bem Morrer
XVIII Da Mística
XIV Diálogo Sobre a Mística e o Silêncio
XX Da Partilha e da Descrição
XXI Das Religiões e da Religião Universal do Espírito
XXII Da Biblioterapia
XXIII Das Escolhas e da Meditação
XXIV Do Amor
XXV Do Caminho Espiritual
XXV Do Começo do Dia, da Semana, do Mês e do Ano
XXVI Das Forças Negativas e da Luta Pelo Bem
XXVII Da Vida Como Sabedoria, Amizade e Habilidade na Acção
XXIV Das Amizades e do Amor
XXX Da Mulher
XXXI Do Ser Criador de Templos ou Templário
XXXII Das Peregrinações e do Caminho de Santiago
XXXIII Dos Anjos e Espíritos Celestiais