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OS SEGREDOS DO LIVRO DA NATUREZA

10.00

Informação adicional

Peso170 g
ISBN

978-989-8147-81-3

Ano

2012

Edição

1

Idioma

Formato

110×118

N. Pág.

199

Colecção

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«Vivemos numa civilização que exige que saibamos ler e escrever, e isso está muito bem, será sempre necessário ler e escrever, mas trata-se de duas actividades que é preciso saber exercer noutros planos. Para um Iniciado, ler é ser capaz de decifrar o lado subtil e escondido dos objectos e das criaturas, interpretar os símbolos e os sinais colocados em toda a parte pela Inteligência Cósmica no grande livro do universo. E escrever é cada um deixar nesse grande livro a sua marca, agir sobre as pedras, as plantas, os animais e os homens com a força mágica do seu espírito. Portanto, não é somente no papel que é necessário saber ler e escrever. mas em todas as regiões do universo.»

O PODER DO FOGO
Toda a gente tem as suas manias e eu também.
Como vedes, não há exceção. Estais sempre a ouvir‑me repetir a mesma frase: «O que está em
baixo é como o que está em cima…» e as mesmas palavras sobre o grande livro da natureza viva.
Mas esta é uma mania verdadeiramente útil, e vou provar‑vos isso mostrando‑vos uma vez mais que, para mim, esta frase é uma chave.
Lembro‑me de que, quando eu era novo, por volta dos treze ou catorze anos, me dava gozo experimentar toda a espécie de ofícios.
Evidentemente, eles não duravam muito tempo: alguns dias ou algumas semanas. Era durante as férias, não havia escola e, em vez de ir brincar com as outras crianças, eu preferia enfiar‑me
em qualquer lado para aprender outros ofícios… e foi assim que me tornei alfaiate! Sim, mas não por
muito tempo, apenas um dia, pois, sinceramente, não me agradou: adormeci! A única coisa boa
naquele trabalho é a posição; vós sabeis o que é estar “sentado à alfaiate”, com as pernas cruzadas,
um pouco como os yogis em posição de lótus. Mas eu adormecia, porque, na verdade, coser não era
nada apaixonante: nunca mais se acaba! E depois também picava os dedos… Então, eu achei que
aquela profissão não era para mim e, ao fim de um dia, deixei‑a.
Mas coser um dia inteiro sempre deixa marcas e, durante toda a minha vida, eu continuei a coser,
assim, sem parecer, à minha maneira. Não fui ao ponto de abrir uma loja para ganhar dinheiro,
mas continuo a fazer a minha própria roupa. Sim! Estais surpreendidos? Eu entro em certos armazéns
que conheço, escolho os melhores tecidos e faço para mim as mais belas vestes, casacos, mantos
extraordinários… As roupas exteriores, físicas, dou‑as a fazer ou compro‑as, mas as outras roupas,
as interiores, apercebi‑me de que só eu poderia escolhê‑las e fazê‑las a meu gosto. Portanto, eu
sou o meu próprio alfaiate… Vá, agora interpretai!
Mas há sobretudo um ofício que deixou em mim muitas marcas. Nos meus passeios, eu passava muitas vezes à porta da oficina de um ferreiro, e impressionou‑me tanto ver como ele martelava um pedaço de ferro incandescente para he dar uma forma, que quis trabalhar com ele, e fiquei lá várias semanas; o trabalho agradava‑me, mas, como eu não tinha sandálias, as faúlhas que caíam sobre os meus pés nus faziam‑me bolhas.
Não posso esquecer aquilo. Claro que passei por toda uma aprendizagem: comecei por ativar o fogo
com o fole e, entretanto, observava o ferreiro… jamais pude esquecer o magnífico espetáculo que
eram aquelas faúlhas!
E agora gostaria de tirar uma lição deste trabalho junto do ferreiro, para vos mostrar como utilizo a chave da analogia. Toda a gente sabe que, para forjar o ferro, é necessário pô‑lo no
fogo e esperar que ele se torne vermelho e depois incandescente. Em geral, ninguém procura decifrar
o grande segredo iniciático oculto neste fenómeno.
Trata‑se, no entanto, de uma das páginas mais importantes do grande livro da natureza viva: como
é que a chama pode comunicar ao ferro o seu calor e mesmo a sua luz? É um mistério. O ferro torna‑se exatamente como o fogo, luminoso, radioso, abrasador; ele, que era cinzento, baço, frio, duro, transforma‑se e adquire novas propriedades…
O homem também é comparável ao metal, ao ferro, por exemplo, e só um contacto com o fogo pode torná‑lo irradiante, brilhante e caloroso.
Evidentemente, eu refiro‑me ao fogo espiritual e não ao fogo físico, pois há muitas espécies de fogo.
Só os místicos conhecem bem este contacto com o fogo espiritual: é um ardor, um amor, um êxtase,
uma espécie de vida intensa. Sim, este fogo é uma vida que vos queima e vos transforma noutro ser…
Assim como o fogo físico tem a propriedade de tornar o ferro suficientemente flexível e maleável
para receber novas formas, assim também o fogo celeste, que é o amor divino, pode mergulhar o
homem num estado espiritual onde ele se liberte da sua velha forma, que era dura, opaca, baça, para
receber uma nova, luminosa, radiante.
Este segredo era conhecido pelos verdadeiros místicos, pelos verdadeiros profetas e pelos
verdadeiros Iniciados de todos os tempos. Eles sabiam encontrar o verdadeiro fogo, que é o da
alma e do espírito, e, mergulhando nele, chegar a um estado de perfeita maleabilidade, para
depois baterem, martelarem, a fim de darem a si próprios uma nova forma e, finalmente, porem
o metal de molho para fixarem definitivamente essa forma. Eis mais um detalhe que não se soube
interpretar. Depois de se ter aquecido o ferro ao rubro, é necessário mergulhá‑lo em água fria para
que a nova forma se torne dura e resistente, e é também assim no domínio espiritual. A água fria
são as provações, as dificuldades. O fogo liquefaz os metais e a água endurece‑os, ao passo que em relação à terra é o inverso: a água torna‑a mais maleável e o fogo seca‑a.
Eis mais um aspeto da linguagem da natureza viva.
Há diversas espécies de fogo, e pode‑se classificá‑las em três categorias: o fogo físico, visível, que consome e devora os objetos; o fogo astral, que nos queima e nos atormenta: é por exemplo, o fogo do amor humano puramente passional, sexual; e, finalmente, um terceiro fogo, o fogo divino, o fogo do sol, que não consome, não faz sofrer, antes nos dá a luz, a alegria, o êxtase, sensação sublime de estar em comunicação com o próprio Deus. É isso o fogo celeste. Ao passo que o fogo passional que os humanos conhecem quando gritam: «Estou a arder, estou a consumir‑me…», muitas vezes é somente um fogo de palha; no entanto, eles gostam deste fogo que os faz sofrer, emagrecer, arrancar os cabelos de desespero… São muito poucos os que sabem ir mais alto e mergulhar no fogo que preenche as regiões superiores. Eu conheço este fogo, Deus concedeu‑me, ao longo da minha existência, a oportunidade de viver momentos onde experimentei verdadeiramente este fogo celeste.
Para nos transformarmos, para remodelarmos o nosso temperamento, as nossas tendências, os
nossos hábitos, até a nossa hereditariedade, devemos atrair o fogo celeste, chamar por ele, suplicar‑lhe que desça, e soprar, soprar continuamente sobre ele para que consiga fazer‑nos
fundir; e, em seguida, devemos pedir a alguém que venha modelar‑nos, ou então modelarmo‑nos
a nós próprios, se formos suficientemente conscientes para o fazer. Eis como eu interpreto o trabalho do ferreiro.

Tudo aquilo de que vos falo, eu próprio o verifiquei, e é por isso que posso dizer‑vos como conseguireis transformar‑vos completamente. Vós aqueceis, quer dizer, rezais, suplicais para atrair
o fogo celeste e, quando o fogo penetra em vós, experimentais uma tal efervescência que ficais
fundidos. Depois de momentos semelhantes, não podereis continuar a ter interiormente as mesmas
formas; e até fisicamente vos transformais pouco a pouco, conseguis modelar um novo rosto.
Sim, eu experimentei tudo aquilo de que vos falo. Tive a felicidade, o privilégio, de conhecer, de
provar este fogo, e foi então que compreendi que o fogo pode fundir e mudar as velhas formas. Por
isso, deveis desejar exclusivamente o fogo celeste, pensar nesse fogo, contemplar esse fogo, até que ele venha abrasar e revolver o vosso coração, todo o vosso ser. Não conteis com as explicações ou com as leituras, elas de nada servirão enquanto o fogo não se acender em vós para vos fazer vibrar, estremecer, enquanto o fogo não estiver presente em vós para vos tornar um ser vivo como o sol. Sim, pois o sol é um fogo e é por isso que deveis ir contemplá‑lo todas as manhãs a fim de restabelecerdes o contacto com o fogo celeste. Se vos ligardes ao sol, se vos deixardes abrasar pelo sol, com todo o vosso amor, com toda a vossa inteligência, as chamas começarão
a envolver‑vos, a brotar de vós. O Espírito Santo não é senão o fogo sagrado do sol. Contai com o sol, pois só ele pode comunicar‑vos este fogo, inflamar‑vos, fazer‑ vos arder,
brilhar. Ocupai‑vos do sol diariamente, conscientemente, até que venha a vós este fogo, o fogo divino, que pode revelar‑vost udo. É o que dizem todas as Iniciações: se não chegardes até este
fogo, não chegareis a nada. É necessário chegar até este fogo, sem ter medo de ser queimado, porque ele não queima, transforma. Bom, é verdade que queima, mas somente os detritos, as impurezas, não queima o que é puro, nobre, divino. Um fogo não faz mal a um outro fogo, não pode destruir o que é da mesma natureza que ele.
Podeis ler nas Escrituras que um serafim tocou nos lábios do profeta Isaías com um carvão ardente, e que o profeta Ezequiel e também S. João receberam de um anjo um livro para que o engolissem… Sob diferentes formas, é semprea mesma coisa: pela respiração, pelo ar, recebe‑se um espírito; chamai‑lhe Espírito Santo, se quiserdes. Os hindus dizem que é uma espécie de prana celeste, outros dizem que é fogo ou luz…
Pouco importa aquilo que lhe chamam, é um espírito que o homem recebe pelo ar, respirando.
É por isso que certos Ensinamentos iniciáticos dão tanta importância à respiração. A inspiração
e a expiração são o começo e o fim, são o próprio Deus, a vida eterna. A vida começa com a primeira
inspiração; e, quando um homem morre, diz‑se que ele “expira”. Deveis compreender bem a
importância da respiração e estar muito atentos.
Por exemplo: tendes o hábito de pensar em respirar bem durante as refeições? Não. As pessoas
ficam doentes porque, quando estão à mesa, falam, gesticulam, engolem e respiram mal… Sem uma
respiração harmoniosa, a nutrição não se processa como deve ser. Eis mais uma coisa que ainda
não foi tomada a sério. É muito importante não falar durante as refeições para se poder respirar
corretamente, pois pela respiração atraem‑se elementos mais subtis e acumulam‑se reservas
para todo o dia. Aparentemente, fazer algumas respirações profundas durante as refeições é um
método pouco interessante, mas, na realidade, ele contém grandes segredos. Só que as pessoas estãotão longe de tudo isto! Por isso, eu aconselho todos os que se abeiram do nosso Ensinamento a nunca se surpreenderem, nem criticarem, nem compararem os nossos métodos com a instrução que receberam no mundo. Sejam pacientes, estudem e, no dia em que a luz surgir, ficarão maravilhados ao ver a riqueza do nosso ensinamento e das nossas práticas: parecem insignificantes, mas, na realidade, dão acesso a possibilidades além das que são conhecidas presentemente.
Vedes agora de onde provém a minha filosofia? Eu não a extraio das minhas leituras, mas da minha experiência. O que vos revelo, pratiquei‑o incessantemente e ainda hoje continuo a praticar para conhecer, para experimentar, para chegar a outras verdades, na esperança de um dia vo‑las
apresentar. Confiai em mim, decidi‑vos hoje a conhecer a força do fogo celeste, a
senti‑lo, a possuí‑lo. Para tal, concentrai‑vos muito mais profundamente no sol, no fogo que
enche o universo. Procurai compreender a sua natureza, como ele vem até nós para nos revolver
profundamente e como pode comunicar‑nos as suas propriedades. É necessário conseguirmos absorvê‑lo para que as velhas formas já endurecidas em nós se fundam com o seu calor e possam serremodeladas. Em certos domínios, é necessário trabalhar com a água, porque ela sabe modificar
tudo o que é terra e pedra em nós; para tudo o que é metal, é o fogo que se deve usar.
Aprendei a servir‑vos do poder do fogo celeste…
É frequente os humanos deixarem‑se queimar e atormentar pelo outro fogo, o fogo astral, que
liberta uma grande quantidade de fumo e deixa muitas cinzas. O fogo celeste não produz fumo,
não deixa detritos, apenas dá a luz, o calor e a vida. Infelizmente, os homens e as mulheres preferem
sempre acender o fogo devorador do plano astral e dizem: «Estou a arder, estou a arder…» Aliás,
ninguém duvida disso, ninguém se surpreende e lhes pergunta o que é esse fogo, pois todos sabem
como a coisa se passa! Mas para o fogo celeste não encontrareis muitos candidatos.
Há três espécies de fogo; na realidade, existem milhares, mas, para simplificar, eu classifico‑as
em três grandes categorias: o fogo físico, que não distingue os bons dos maus e queima tudo e
todos; o fogo astral, ou infernal, que tem uma enorme predileção pelas pessoas que transbordam
de paixões, de desejos, de cobiças, de maldade, e que está sempre pronto a lançar‑se sobre elas para as consumir, pois estão em perfeitas condições para lhe servir de alimento (sobre os seres que
permanecem ligados a Deus ou aos anjos, ele não tem qualquer poder); e o fogo celeste, que procura os que são absolutamente puros e luminosos e, quando os encontra, lança‑se sobre eles, abrasa‑os e eles tornam‑se filhos de Deus, belos, luminosos, resplandecentes como o sol.
Portanto, o fogo físico não escolhe; é‑ lhe indiferente que a pessoa seja justa ou injusta, isso
não é da sua conta, ele queima‑a e pronto. Mas os outros dois fogos escolhem. O fogo divino não desce onde calha, é um raio que não cai sobre qualquer um. Sim, é uma espécie de raio;
os que recebem a graça, as bênçãos do Céu, são fulminados por um raio divino. Fala‑se de raio a
propósito do amor: «Assim que a vi, fui trespassado por um raio», diz um rapaz e, infelizmente, todo
o seu destino está já traçado: sofrer, chorar, talvez como a coisa se passa! Mas para o fogo celeste não encontrareis muitos candidatos.
Há três espécies de fogo; na realidade, existem milhares, mas, para simplificar, eu classifico‑as
em três grandes categorias: o fogo físico, que não distingue os bons dos maus e queima tudo e
todos; o fogo astral, ou infernal, que tem uma enorme predileção pelas pessoas que transbordam
de paixões, de desejos, de cobiças, de maldade, e que está sempre pronto a lançar‑se sobre elas para as consumir, pois estão em perfeitas condições para lhe servir de alimento (sobre os seres que permanecem ligados a Deus ou aos anjos, ele não tem qualquer poder); e o fogo celeste, que procura os que são absolutamente puros e luminosos e, quando os encontra, lança‑se sobre eles, abrasa‑os e eles tornam‑se filhos de Deus, belos, luminosos,resplandecentes como o sol.
Portanto, o fogo físico não escolhe; é‑lhe indiferente que a pessoa seja justa ou injusta, isso não é da sua conta, ele queima‑a e pronto. Mas os outros dois fogos escolhem. O fogo divino não desce onde calha, é um raio que não cai sobre qualquer um. Sim, é uma espécie de raio; os que recebem a graça, as bênçãos do Céu, são fulminados por um raio divino. Fala‑se de raio a propósito do amor: «Assim que a vi, fui trespassado por um raio», diz um rapaz e, infelizmente, todo o seu destino está já traçado: sofrer, chorar, talvez mesmo cometer um assassínio… Porquê este raio? Para ensinar certas coisas graças ao sofrimento. Outros recebem também um raio, mas um raio celeste, e também eles estão sempre a chorar, mas de êxtase. Quantos santos e místicos receberam esta graça! Lede as suas biografias. Vereis como S. João da Cruz, Santa Teresinha e muitos outros ficaram subitamente apaixonados pelo Cristo; ou mesmo certos poetas, certos artistas. Para mim, nada é mais precioso, mais raro, mais maravilhoso, nenhuma graça pode ser comparada ao raio celeste
do fogo sagrado; nada existe acima dele.
Mas não é porque se foi atingido por este raio que se sabe tudo, que se conhece tudo, não; o fogo
celeste não nos torna repentinamente omniscientes e omnipotentes, dá‑nos simplesmente possibilidades para nos transformarmos e, portanto, cabe‑nos a nós trabalhar com ele para nos desenvolvermos idealmente, perfeitamente… Infelizmente pode acontecer que se perca esta graça, que se perca o Espírito Santo, e esse é o maior mal que existe, a perda mais terrível que um ser humano pode ter. Muitos ocultistas, místicos ou Iniciados possuíram este fogo, mas perderam‑no
por qualquer razão; alguns conseguiram reconquistá‑lo, mas à custa de quantos sofrimentos, quantas lágrimas, quantas mágoas, quanto trabalho! Este fogo é tão consciente que – dir‑se‑ia
– fica “ofendido” pelo facto de a pessoa ter sido negligente ao ponto de o deixar escapar… Ela deve humilhar‑se, chorar, suplicar durante muito tempo para que ele aceite voltar; mas, se ele aceita, agarra‑se tão fortemente, lança e enterra as suas raízes tão profundamente no nterior do ser, que não mais o deixa! Eu estudei muitos casose vivi numerosas experiências e, todos os dias, estou continuamente em conversa com o Fogo interiormentemte, exteriormente, interiormente, exteriormente, só o fogo me interessa. Desde que nasci que tenho uma predileção pelo fogo; mas, enquanto na minha infância deitava fogo às quintas, mais tarde compreendi que não devia continuar a ocupar‑me do fogo exterior e que o que me cabia era acender, em primeiro lugar, o meu coração, e depois, o dos outros.
Agora, vou dar‑vos um conselho: assisti diariamente ao nascer do sol com a consciência de que existe nele uma centelha, uma chama na qual podeis atear o vosso coração. Como acontece
pela Páscoa nas igrejas ortodoxas. Na manhã do domingo de Páscoa, a igreja está cheia; o
sacerdote acende uma vela, transmitindo a chama ao fiel mais próximo; este, por sua vez, acende a
vela do vizinho, e assim, de vizinho em vizinho, toda a igreja fica iluminada. Portanto, uma única
vela acende todas as outras: é simbólico… O sol é também uma vela na qual podemos acender a
nossa. Há casos em que são necessários anos para se conseguir, porque interiormente faz vento ou
então chove, mas, um belo dia, pronto!, consegue‑se acender a vela e começa‑se a emitir um pouco de luz. Então, o vizinho diz para consigo: «Oh, eis onde poderei iluminar‑me!» e vem acender
também a sua vela, depois vem um segundo, depois um terceiro… E, se se continuar, um dia o
mundo inteiro poderá encher‑se de velas acesas.
Vou dar‑vos uma outra imagem, mas um pouco mais prosaica: a de um homenzito que tenta
acender o cigarro com um isqueiro de pedra. Não é muito gloriosa, mas enfim, consideremos esta
imagem. Neste caso, o sol é o sílex (o que não ouvis vós acerca do sol!) e vós tendes o pedaço
de ferro. Todas as manhãs chegais e raspais com o pedaço de ferro no sílex e, um belo dia, a centelha brota. O sílex está sempre lá, o ferro é que nem sempre é fiel ao encontro. Deveis, pois, apresentar‑vos com este ferro e raspar, quer dizer, trabalhar com a vontade, para que a centelha surja; é a vós que compete raspar.
Nós é que temos sempre de nos desenvencilhar, não o sol. O sol já se desenvencilhou há muito.
Nós é que devemos ir ao seu encontro, nós é que temos de fazer o nosso trabalho e acender a nossa vela na grande vela que é o sol… Está claro, agora?
Estou a interpretar bem as imagens e os símbolos do grande livro da natureza viva?

ÍNDICE

I – O livro da natureza
II – O dia e a noite
III – A nascente e o pântano
IV – O casamento, símbolo universal
V – O trabalho do pensamento: extrair a quinta-essência
VI – O poder do fogo
VII – Contemplar a verdade toda nua
VIII – A construção da casa
IX – O vermelho e o branco
X – O rio da vida
XI – A nova Jerusalém e o homem perfeito
I – As portas da nova Jerusalém: a pérola
II – Os alicerces da nova Jerusalém: as pedras preciosas
XII – Ler e escrever