O Mestre Omraam Mikhaël Aivanhov (1900-1986) nasceu na Bulgária. Em 1937 partiu para França, onde transmitiu o essencial do seu ensinamento.
Aquilo que nos espanta, desde a primeira abordagem, na sua obra, é a multiplicidade de pontos de vista sob os quais lé apresentada esta única f questão: o homem e o seu aperfeiçoamento. Qualquer que seja o tema abordado, ele é invariavelmente tratado em função do homem, em tunção do uso que este pode fazer desse tema, para uma melhor compreensão de si mesmo e uma melhor conduta na sua vida.
«Quais são os seres que suscitam respeito e admiração?
Aqueles que lutaram, que se ultrapassaram. que triunfaram sobre os obstáculos e as provações. Porque é que os jovens admiram tanto os desportistas? Precisamente porque eles procuram sempre superar-se. Mesmo que se trate apenas de correr, de saltar, de nadar. de escalar, o gosto pelo esforço, a resistência, a coragem, são considerados como grandes qualidades. Mas não valerá a pena tentar manifestar estas mesmas qualidades na vida de todos os dias? Em lugar de concentrar todos os seus esforços tentando correr ou nadar mais depressa, ou durante mais tempo, saltar mais alto, agarrar melhor uma bola e introduzi-la num cesto ou numa baliza, é mais útil dizer para consigo: “Serei mais paciente nas dificuldades, vencerei a tristeza e o desgosto, terei mais autocontrolo”. Sim, neste domínio também se podem cometer proezas e obter vitórias. Porque não tentais?»
Omraam Mikhaël Aivanhov
XIX – PROTEGEI A POESIA DO VOSSO AMOR
Os jovens estão satisfeitos por terem conseguido libertar-se de todos os “tabus sexuais”, como eles dizem, e se sentirem, finalmente, livres. Sim, eles sentem-se felizes por serem livres, mas será que aquilo que fazem dessa liberdade os torna felizes?… Não, pelo contrário, até se verifica entre os jovens um número cada vez mais elevado de suicídios ou de tentativas de suicídio, o que prova bem que as suas experiências sexuais não lhes trazem o amor. Se lho trouxessem, eles nunca pensariam em pôr termo à sua vida, porque o amor está ligado à vida. Quem ama tem vontade de viver, pois extrai do seu amor os elementos que, sejam quais forem as dificuldades que encontre, o reforçam e dão sentido à sua vida. Só que, ainda que não se possa negar que eles estão ligados, o amor não é a sexualidade. E, em vez de se regozijarem com a conquista da liberdade sexual e de se apressarem a aproveitar-se dela, os jovens deveriam antes pôr a tónica no amor, para compreenderem melhor a sua verdadeira natureza e encontrarem as melhores maneiras de o manifestar.
O que é o amor, na realidade? Não é algo que venha de um homem ou de uma mulher. O amor é uma energia cósmica que está espalhada por todo o Universo. Podemos encontrar o amor na terra, na água, no ar, no Sol, nas estrelas… Podemos encontrá-lo nas pedras, nas plantas, nos animais…1 E também podemos encontrá-lo nos humanos, claro, mas não exclusivamente neles, pelo que não deveis considerar-vos privados de amor apenas por não terdes um moço ou uma moça para abraçar e beijar. Não compreendeis que é a vós mesmos que tornais infelizes com essas vossas conceções tão limitadas? Não é o corpo, não é a carne, que vos dará o amor. Ele não se encontra aí. O amor pode servir-se do corpo físico como suporte, mas encontra-se para além dele, em toda a parte. É uma luz, um néctar, uma ambrósia que preenche o espaço.
Porque não vos observais, para tirardes conclusões de experiências que, por certo, já fizestes? Amastes alguém e, durante os primeiros tempos desse amor, vivestes maravilhados. Bastava pensardes que o outro existia e que talvez fôsseis encontrá-lo na rua ou em qualquer lugar para vos sentirdes mergulhados em poesia, em música. Certo dia, pudestes obter um objeto em que ele tocara ou que lhe pertencera e, mesmo tratando-se de uma coisa insignificante, para vós foi o tesouro mais preciosodo mundo, pois estava impregnado dos eflúvios desse ser; era como um talismã para vós. Depois, começastes a encontrar-vos e, passo a passo, as coisas seguiram o seu curso… “normal”, como se costuma dizer. Então, certamente vos deliciastes com outros prazeres, outras alegrias, mas perdestes tudo o que fazia a magia dos vossos primeiros encontros. E como é que tudo acaba, geralmente? Em mal-entendidos, zangas, separações…
Para preservardes o vosso amor, deveríeis ter compreendido que ele não residia na posse física desse ser, mas em algo subtil, que, através dele, vos ligava a todo o Universo, à beleza das flores, das florestas, das nascentes, do Sol, das constelações… Ao quererdes suprimir completamente a distância que vos separava dele, perdestes, pouco a pouco, todo esse mundo subtil, nada vos ficou, a não ser o lado material, prosaico.
Se quiserdes preservar o vosso amor, não tenhais pressa de vos aproximar fisicamente, pois, uma vez passadas as primeiras ebulições, rapidamente vos cansareis e começareis a notar o lado negativo um do outro. Para protegerdes a vossa inspiração, tentai manter uma certa distância. Aqueles que querem conhecer e experimentar logo tudo, ao fim de pouco tempo já não sentem curiosidade em relação um ao outro, já nem sequer têm vontade de se encontrar, porque já viram, já experimentaram e já comeram demasiado, já estão saturados, e, para eles, acabou-se! O seu lindo amor acabou. Eles sacrificaram o amor que lhes trazia todas as bençãos, que lhes proporcionava o Céu, por alguns minutos de prazer! Porque não tentam estar mais vigilantes? Porque se privam tão depressa daquelas sensações tão subtis e poéticas? Dir-se-ia que elas são demasiado belas e que eles têm pressa de acabar com tal poesia, com tal beleza.
Dirão alguns que bem gostariam de viver esse amor, mas não sabem como. Sim, é claro, eu compreendo, e dir-lhes-ei que, para conhecerem o verdadeiro amor, deverão começar por estabelecer uma ligação com o mundo divino, porque é essa ligação que dá o verdadeiro gosto às coisas, inclusive ao amor. Quando tiverdes realizado essa ligação, sentireis que uma onda de energias superiores vos inunda. Deveis procurar a presença destas energias divinas, que dão um sabor requintado ao vosso amor, como se comungásseis com toda a Natureza, com todo o Universo.2
Mas, sobretudo, ficai cientes de que o vosso amor será sempre o reflexo de vós mesmos. Acreditais que o amor virá do exterior, sob a forma de um ser que será exatamente como esperáveis: agradável, belo, generoso, paciente? vós sois resmungões, egoístas, coléricos, e o amor deveria apresentar-se-vos sob a forma de um Anjo? Não será assim; e, ainda que tivésseis um Anjo ou um Arcanjo nos braços, não sentiríeis nada do seu esplendor, pois estais fechados ao mundo divino.
Repito-vos: nenhum homem nem nenhuma mulher poderá dar-vos o amor absoluto que procurais. E não poderá dar-vo-lo porque é apenas o seu depositário. A fonte, o dispensador do amor, é a Divindade, e, se não vos ligardes a ela, não conhecereis o verdadeiro amor. O amor é uma qualidade da vida divina, pelo que nunca o encontrareis, se não conseguirdes fazer circular em vós essa vida, uma vida purificada e iluminada pela prática das virtudes.
É claro que, apesar de estar a apresentar-vos estas ideias, eu sei que não ireis compreendê-las e realizá-las imediatamente na vossa vida. Quando se é jovem, é difícil admitir esta visão das coisas, tanto mais que nem a família, nem a escola, nem a sociedade vos instruem neste sentido. Algumas vezes, num poema, num romance ou num filme, encontrais a evocação de um amor excecional, mas é tão raro! E, embora fiqueis maravilhados, não pensais que podeis realizá-lo na vossa vida, remeteis tudo para o domínio da poesia e do sonho. Pois bem, estais enganados, ele é realizável. Talvez não imediatamente, mas é realizável. Para isso, o essencial é manterdes preciosamente essa ideia em vós, fazendo dela uma luz para a qual deveis caminhar, com a convicção de que, quaisquer que sejam as vossas experiências, é dessa luz que deveis aproximar-vos.
Notas 1. Cf. L’amour et la sexualité, Œuvres complètes, t. 14, cap. xvII e t. 15, cap. xvIII: «L’amour répandu partout dans l’univers», I e II.
2. Cf. La pierre phisophale – des Évangiles aux traités alchimiques, Col. Izvor n.º 241, cap. v: «Gouter la saveur du sel: l’amour divin».