SINOPSE
Desde há milénios, Sábios do Oriente e do Ocidente têm perscrutado o interior da alma humana, descobrindo a sua natureza última e o sentido da existência. Chamamos Sabedoria Antiga ao conjunto desses Ensinamentos que nos dizem que:
– nem o homem nem o universo se esgotam numa dimensão meramente material, mas que existem outras dimensões e planos de existência que permitem olhar o mundo de uma forma infinitamente mais abrangente da alcançada com os órgãos dos sentidos.
– à medida que se observa o mundo do alto desses níveis mais subtis, torna-se evidente que todos os seres possuem uma natureza última comum, que poderemos designar de “espiritual” que, contudo, não é detectável nem pelos cinco sentidos nem pela mente material, incapazes de enxergar para lá do véu das diferenças meramente físicas ou psicológicas.
– o sentido último da existência humana é a descoberta da sua natureza espiritual através da experiência material e a aplicação dos valores espirituais – altruísmo, compaixão e desapego – na vida quotidiana, na relação com os outros e com a natureza.
PARTE II
PEQUENO CONTO TEOSÓFICO
A MONADAZINHA TRAQUINA
Há muito, muito tempo, num recanto remoto mas tranquilo duma vasta galáxia a que poeticamente chamavam a “Via Láctea”, reinava um grande Senhor. Chamavam-lhe, carinhosamente, “o Pai”, pela forma meiga e bondosa como geria os seus vastos domínios. Tão vastos, na verdade, que havia quem dissesse que se estendiam por territórios que a vista não alcança. Planos – chamavam alguns; Dimensões – diziam outros. O que constava é que esses territórios ocultos estavam vedados
a olhos físicos, deixando-se apenas entrever por aqueles que privavam de perto com o Pai. Os Senhores vizinhos, que habitavam territórios contíguos, estranhavam que o Pai não tivesse
descendência. Afinal, quem herdaria tão vastos territórios?
O que lhes aconteceria quando o Pai deixasse aqueles planos?
Todos sabiam que o Pai não morria, mas suspeitavam que, num futuro ainda remoto, Ele rumasse para outras paragens de ninguém conhecidas. Certo é que, ninguém suspeitava que também o Pai se preocupava com isso. Pensava na sua idade vetusta (milhões de anos, diziam alguns; biliões, juravam outros) e cada vez mais ponderava deixar larga prole que gerisse e até expandisse tão vastos territórios. Sabia-se que o Pai, apesar do seu aspecto másculo e poderoso, era, na verdade, um ser andrógino capaz de criar vida pelo simples poder da sua vontade infinita. Mas, por qualquer razão, reinava ainda supremo e solitário naquele recesso sossegado da galáxia. Até um dia…
Nesse dia memorável, o Pai, por um esforço supremo da sua vontade infinita, trouxe à existência, num abrir e fechar de olhos, uma vasta descendência. Tão vasta que, temiam alguns, aqueles
domínios fossem exíguos para a todos albergar. Mas não. O pai não comete erros desses. Olhos treinados contaram cerca de 40 biliões de crianças, mais alma menos alma que, subitamente,
animaram aqueles lugares habitualmente sossegados. Poder-se-ia suspeitar que aquele recanto tranquilo, subitamente, se transformasse num espaço de algazarra e alarido infantil. Longe disso. Aquelas crianças, sumamente bem-comportadas, nasceram todas com um tino e uma sensatez bem pouco juvenis.
Agora, que o Pai já tinha tratado da sua descendência, grandecuriosidade reinava para saber que nomes seriam colocados à criançada. Faziam-se apostas discretas, mas ninguém acertou.
Uma vez mais, o Pai a todos surpreendeu com as suas decisões inesperadas. Tão grande era o seu sentimento de igualdade em relação aos seus filhos que decidiu a todos dar o mesmo nome –
MÓNADAS. Quem iria adivinhar tal? Afinal, como é que o Pai distinguiria os seus filhos? Mal sabiam todos que o Pai dispunha de um método infalível para o fazer. Colocou a todos uma pequena pulseira diferente (que outros chamavam “ritmo vibratório”) que lhe permitia instantaneamente saber onde se encontrava cada um dos da pequenada. Quarenta biliões de crianças que se davam maravilhosamente bem, sem aquelas lutas e conflitos que desesperam os comuns dos pais. Todas brincavam como crianças da sua idade, mas com uma pose tão madura, tão atilada que não pareciam a idade que tinham.
Mas, no meio da criançada, uma monadazinha parecia mais traquinas do que as suas irmãs. Mais agitada, menos obediente, mais curiosa talvez, atrevia-se aqui e ali a testar a paciência infinita do Pai. Por onde esta monadazinha passava, as suas irmãs tornavam-se imediatamente mais barulhentas e espevitadas, influenciadas que eram pelo seu temperamento alegre, vivo e jovial. O Pai, talvez pela serenidade que uma longa idade sempre traz, em vez de a repreender, tratava-a com uma bonomia e tolerância que só a encorajava a ir mais longe na sua curiosidade infantil.
Mas, um dia, a nossa monadazinha, num acesso acriançado de entusiasmo, resolveu, sozinha, explorar os limites da propriedade de seu pai. Caminhou até aos limites conhecidos e olhou o desconhecido. O que viu, assombrou-a. Para lá, muito para lá do que já conhecia, viu no céu aquilo que, mais tarde, soube chamarem-se planetas, vastos orbes suspensos no horizonte que giravam à volta da propriedade central. Não sabia o que pensar já que nunca sonhou a existência de tão extraordinárias paisagens. Mas, o Pai, sempre atento, chamou a monadazinha e explicou-lhe, com palavras simples e doces, que um dia tudo aquilo lhe pertenceria. Mas, antes desse dia chegar,
teria de aprender a conhecer esse vasto território e aqueles vastos orbes que tinha vislumbrado naquela aventura solitária.
Explicou-lhe que, para tal, teria que habitar esses mundos para aprender o muito que tinham para lhes ensinar. Disse-lhe também (como se falasse com um adulto) que não se iludisse com aquilo que conseguia ver. Na verdade, aqueles vastos territórios, espalhavam-se por áreas que a vista não podia alcançar e que o Pai designava de Planos. Explicou-lhe que havia, pelo menos, sete e disse-lhe que, nesses Planos, a vida não seria tão fácil nem agradável como ali, pois ocultavam perigos e desafios para os quais ainda não estavam preparados e de que ali estavam
bem protegidos. Satisfeita com a explicação do Pai, a monadazinha voltou ao convívio tranquilo dos seus irmãos e não mais pensou naqueles Planos e mundos remotos. Até um dia…
Nesse dia, a nossa monadazinha, sempre curiosa, descobriu num dos quartos do vasto castelo de seu Pai, um armário cujas portas estavam entreabertas e apenas encostadas. Dominada pela curiosidade, não resistiu e abriu-as. O que viu, fê-la recuar, assombrada. O armário guardava seis fatos muito estranhos e muito diferentes uns dos outros. Uns, muito grossos e pesados, tinham a forma a que costumavam chamar “humana”; outros, muito mais leves e subtis, moldavam-se facilmente a qualquer forma. Era, na verdade, uma visão muito estranha…Quando olhou os fatos mais atentamente, reparou que cada um estava identificado com uma etiqueta. Curiosa, leu-as. Diziam – corpo físico, corpo astral, corpo mental, corpo causal, corpo búdico, corpo átmico. Inicialmente, aqueles nomes nada lhe diziam. Mas, depois, começou a pensar no que o Pai lhe dissera tempos antes e deduziu que para visitar os tais Planos teria de vestir os diferentes fatos que pendiam no armário. Porquê, não sabia. Curiosa como era, resolveu, uma vez mais, fazer uma
experiência sem nada dizer a ninguém. Pegou, então, no fato mais pesado, no que dizia “corpo físico” e, com muito custo, pois era muito pesado, vestiu-o.
CORPO FÍSICO
Mal fechou o fecho éclair, sentiu-se sugada irresistivelmente por uma força que parecia surgir do nada, que a afastava daqueles lugares serenos que habitava. Deixou-se levar sem resistir, pois apercebeu-se que não dispunha de forças para tal. Quando o torvelinho parou, a nossa monadazinha encontrava-se num lugar estranho, completamente diferente da propriedade do Pai
onde brincava todos os dias. Olhou à sua volta e, primeiro pensou estar numa festa pois todos se vestiam como ela – com aquele fato que se chamava corpo físico. Mas, o que mais estranhou
foi a forma como reconhecia todos os outros. Apercebeu-se que possuía diversos apêndices no seu fato que lhe permitiam reconhecer e comunicar com eles. E, aparentemente, esses apêndices
tinham nomes. Alguns chamavam-se “olhos” e conseguia “ver” com eles. Outros chamavam se “ouvidos” e conseguia “ouvir” uma coisa estranha chamada “sons”. Apercebeu-se também
que se “tocasse” algo com a mão, “sentia” impressões estranhas que, mais tarde, soube chamarem-se “tacto”. Um outro apêndice, colocado bem na parte superior do fato e a que chamavam
“nariz” permitia-lhe sentir outra coisa a que chamavam “cheiro ou odor”. E, alguém lhe sugeriu que, se experimentasse comer (– comer? perguntou-se a monadazinha. O que será?) certos alimentos,
eles teriam um óptimo sabor. Experimentou fazer como os outros, levou um certo objecto à boca e…ficou bastante satisfeita com o resultado…tão satisfeita que não resistiu a repetir a
experiência. Apercebeu-se então que aquele fato lhe permitia fazer um conjunto de experiências bastante interessantes e conhecer aquele mundo tão estranho de uma forma que nunca antes havia experimentado. Apesar de traquinas, a nossa monadazinha era uma criança atilada e conscienciosa e, assim, decidiu por fim àquela estranha experiência. Tirou então o fato e, de repente, viu-se outra vez envolvida naquele torvelinho já familiar e encontrou-se de novo em casa. Gostou tanto da aventura que decidiu repeti-la mal a oportunidade se proporcionasse.
Algum tempo depois, acicatada pela curiosidade, a monadazinha regressa ao quarto do armário e tira cuidadosamente outro fato. A etiqueta que lhe correspondia dizia “corpo astral”.
CORPO ASTRAL
Uma vez mais, aquele torvelinho que já conhecia voltou a surgir do nada e a sugá-la para outro território. Para sua surpresa, viu-se num mundo muito semelhante ao anterior, talvez um pouco mais fluído e luminoso, habitado por seres que se vestiam, uma vez mais, como ela. Mas, quando tentou ver e ouvir o que diziam, ficou surpreendida. Não era capaz. Aquele fato era bastante diferente do anterior e trouxe-lhe novas sensações que desconhecia. Em vez de ver, ouvir e outras experiências que já conhecia, sentia-se agora, de uma forma totalmente inexplicável, ora profundamente atraída ora intensamente repelida por alguns dos seres que a rodeavam. Por outros, ainda, sentia
apenas algo que, mais tarde, soube chamar-se “indiferença”. Na verdade, era como se lá não estivessem. Era tudo o que era capaz ……………………………….
de fazer com aquele fato. Experiências de grande atracção,
em que se sentia imensamente bem e com desejo de permanecer
longamente nesse estado (soube mais tarde chamar-se isso