IX
O plexo solar e o cérebro
Talvez alguns de vós fiquem confundidos pelo facto de eu dizer, por vezes, que Deus está tão longe, tão inacessível, que é impossível comunicar com Ele, e noutras ocasiões, pelo contrário, que Ele é tão acessível, tão próximo, que quase se pode tocar-Lhe. Afinal, o que é verdade?… Será que estou a contradizer-me? Não, na realidade, não há qualquer contradição. Por um lado, Deus é tão poderoso que, quem tivesse acesso direto a Ele sem estar preparado, sem ser tão puro como um Querubim ou um Serafim, seria pulverizado e desapareceria. Com o exemplo da eletricidade, podeis ter uma pequena ideia do que aconteceria. Tocai num fio elétrico de alta tensão e morrereis. E o que é a eletricidade comparada com Deus? A eletricidade é uma linguagem que pode fazer-nos refletir… Sim, mas, mesmo que Deus seja inacessível para nós, mesmo que sejamos demasiado fracos e imperfeitos para suportar a sua presença, podemos comunicar com Ele.1 Como? Há toda uma hierarquia angélica que liga a Terra ao Céu e não há nada que possa impedir que a vida que Deus envia chegue até nós, ou mesmo ao centro da Terra e às profundezas dos oceanos. Mas isso acontece por meio de intermediários, de mensageiros, e essa vida, à medida que se afasta da fonte, pouco a pouco vai-se condensando, concretizando, até se tornar quase tangível. Portanto, a luz, o calor e a vida que nós conhecemos são apenas um aspeto bastante inferior da verdadeira luz, do verdadeiro calor e da verdadeira vida. Por detrás da luz do Sol, está a luz de Deus, mas nós não podemos conhecê-la, como não podemos conhecer o seu calor, o seu amor ou a sua vida, isto é, o grau mais intenso da vida. Portanto, não há contradição. Deus é incognoscível, impercetível aos sentidos e, simultaneamente, quase nos toca, mas sob uma forma muito distante, muito imperfeita. Não se deve pensar que a luz do Sol é a verdadeira luz de Deus.2 É um reflexo da verdadeira luz, e um reflexo muito fraco. A outra luz, não podemos conhecê-la nem compreendê-la; é tão subtil e tão poderosa que é trevas, para nós e mesmo para outros espíritos muito mais evoluídos do que nós. Na Ciência Iniciática, diz-se que as trevas produziram a luz. Na origem, era o caos, a matéria não organizada, hylé, como lhe chamam os Gregos. Este caos é representado por um círculo, o infinito, a matéria inanimada.3 Mas é muito difícil apreender estas noções; pelo intelecto, é quase impossível. Por isso é que os filósofos e os cientistas, que querem compreender tudo intelectualmente, não conseguem. Em relação às questões teóricas, o cérebro é capaz. Mas compreender verdadeiramente as coisas, quer dizer, senti-las, saboreá-las e vivê-las, isso não é dado ao cérebro, mas sim ao coração. Aliás, diz-se frequentemente que é o coração que compreende e fala-se da inteligência do coração… Mesmo os Evangelhos fazem alusão ao coração como o órgão da compreensão. Mas de que coração se trata? As pessoas julgam que é o coração físico, o órgão que envia o sangue. Não, o verdadeiro coração, o coração iniciático, é o plexo solar; é ele que sente, que compreende, que capta as grandes verdades cósmicas. O cérebro apenas sabe, um pouco, discutir, escrever, falar e “fazer figura”, sem sequer ter uma ideia clara das coisas. Reparai naquilo que se passa no mundo da quinta raça: explica-se, fala-se, escreve-se, mas, na realidade, as pessoas não compreendem nada, porque é impossível compreender corretamente com o cérebro. É preciso viver as coisas para as compreender, é preciso vivê-las com todo o seu ser. O plexo solar dirige todas as funções do corpo físico; é dele que dependem a respiração, a eliminação, a nutrição, o crescimento, a circulação…4 E foi ele que criou e alimenta o cérebro. Sim, o cérebro é um produto do plexo solar, é seu filho. É por isso que ele o alimenta, lhe envia energias e forças, e, quando ele para de as enviar, o homem adormece, perde as suas capacidades intelectuais, ou tem dores de cabeça. O cérebro não está separado do plexo solar, mas nem sempre pode beneficiar do seu apoio, porque ainda não sabe entrar em comunicação com ele. Já vos expliquei que o plexo solar é um cérebro invertido, pois no cérebro a matéria cinzenta está na parte externa e a matéria branca na parte interna, enquanto no plexo solar se passa exatamente o inverso. Disse-vos também que a matéria cinzenta permite pensar, ao passo que a matéria branca permite sentir. Portanto, graças à matéria branca, que nele está no exterior, o plexo solar sente tudo aquilo que se passa no ser humano, em todas as suas células; por isso, ele está sempre ocupado a restabelecer o equilíbrio. O cérebro, pelo contrário, não sente absolutamente nada, exceto quando as coisas vão mal e está tudo obstruído. Mas ele não sabe como solucionar a situação. Por exemplo, quando o coração bate demasiado depressa ou demasiado devagar, ou quando se tem dores de estômago, o cérebro é incapaz de fazer o que quer que seja. Aliás, isso não depende dele. No entanto, se forem dadas ao plexo solar boas condições para funcionar normalmente, ele restabelece tudo. Ele possui uma farmácia formidável, da qual não fazeis uma pequena ideia, e, como está em comunicação com todos os órgãos, com todas as células, sabe o que se passa e pode intervir. Ele está, pois, muito mais bem equipado do que o cérebro. Mas nada disto é explicado como deve ser, mesmo pela ciência médica. É também pelo plexo solar que o homem pode comunicar verdadeiramente com o Universo, porque o plexo solar está ligado a todo o Cosmos, o que não acontece com o cérebro. Na realidade, poder-se-ia estabelecer esta comunicação, mas o cérebro ainda não está suficientemente desenvolvido para tal, pois foi formado muito recentemente, ao passo que o plexo solar teve uma formação muito anterior. Nos homens e nos animais, o cérebro desenvolveu-se muito tarde, e até o cérebro da formiga, por exemplo, está muito mais bem organizado do que o do homem, porque as formigas são mais antigas do que ele. Se se comparar o cérebro das formigas com o do homem, fica-se espantado ao verificar como elas conseguiram organizar o seu cérebro tão minúsculo… O cérebro humano ainda não está bem organizado, mas está-lo-á mais tarde, pois tem a missão de gravar a totalidade dos conhecimentos e de conceber realizações fantásticas. Mas, repito, é o plexo solar que dirige, que comanda, tudo depende dele, em conjunto com o centro Hara, situado um pouco mais abaixo, pois eles estão em comunicação um com o outro. Só os sábios orientais conhecem bem este centro Hara, que se encontra exatamente quatro centímetros abaixo do umbigo. Os Ocidentais estão a destruir-se, porque toda a sua atividade está focada no cérebro: os estudos, os cálculos, as preocupações, etc… Mas, como o cérebro não está preparado para resistir a uma grande tensão, atualmente surgem muitas doenças nervosas, pois ele está demasiado sobrecarregado. Se os Ocidentais soubessem como repartir o trabalho entre o plexo solar e o cérebro, nunca estariam fatigados. Porquê? Porque o plexo solar nunca se cansa, é um reservatório quase inesgotável. Mas os humanos, que vivem uma vida estúpida, desregulam o funcionamento do plexo solar e depois sentem-se bloqueados, comprimidos, doentes dos nervos. Há imensos irmãos e irmãs que vêm queixar-se junto de mim: «Mestre, sinto que há aqui algo bloqueado, fechado…» Evidentemente, é o seu plexo solar que está contraído. Eles não vivem corretamente e estão a destruir o fator mais importante, do qual depende todo o seu organismo. Existem métodos para entrar em comunicação com o plexo solar e lhe ordenar ou lhe suplicar que solucione certas deficiências. É uma ciência completa, que será estudada no futuro. Por enquanto, não há grandes possibilidades de entrar em comunicação com o plexo solar; ele vive a sua vida independente e o homem não tem quase nenhum poder sobre ele, a não ser agir indiretamente, até conseguir fazê-lo diretamente. E como é que se age indiretamente? Esforçando-se por viver uma vida pura, sensata, luminosa, uma vida em harmonia com todo o Universo. Esta vida tem uma ação sobre o plexo solar, desbloqueia-o, liberta-o de certos entraves, e, quando ele está liberto, dá uma solução muito rápida a tudo, pois é extremamente poderoso, consegue até mudar a forma do corpo. Já vos disse muitas vezes, nas minhas conferências, para confiardes, acima de tudo, na vossa maneira de viver. Sim, não existe nada superior a isso. Ela será, eternamente, a chave de tudo. Mas as pessoas rejeitam a maneira de viver, como se fosse algo ineficaz, e atribuem uma importância incalculável àquilo que comem, àquilo que bebem e a tudo o que é exterior: a roupa, o alojamento, os aparelhos. É claro que o café, o vinho, as drogas, os excitantes ou os tranquilizantes, a companhia de uma jovem bonita, as viagens, etc., são coisas com uma força incrível, sem dúvida, ao passo que viver, mudar de vida… Meu Deus, como é dececionante! Não dá qualquer resultado, não se vê nada… Isso são conclusões de pessoas que não viveram o tempo suficiente para poderem verificar todas estas leis. No passado, existiram seres que viveram séculos, que tiveram todas as possibilidades de observar, anotar e classificar aquilo que viam, e elas concluíram que, a longo prazo, a maneira de viver é, de longe, o que há de mais importante, de mais eficaz. Os meios exteriores só são rápidos e eficazes aparentemente; depois, surgem os estragos, os danos, as dívidas para pagar… É uma grande embrulhada! Mas onde encontrareis alguém que vos fale da maneira de viver? Não serão certamente os médicos, nem os farmacêuticos, que vos dirão para viverdes uma vida sensata. Eles aconselhar-vos-ão: «Tome isto… engula aquilo… e sentir-se-á bem!» Ninguém refere a importância da maneira de viver, exceto os Iniciados, porque eles viveram, sofreram e compreenderam. Mas quem os escuta? As pessoas baseiam-se nas sensações do momento, sem pensarem nas consequências. Eu insisto e, mesmo que não acrediteis em mim, continuarei a dizer-vos: «Caros irmãos e irmãs, a maneira de viver está acima de tudo. Para mim, é uma verdade absoluta.» E, se me acontecem coisas desagradáveis, digo para comigo: «Isto sucede porque eu ainda não consigo viver divinamente; é por isso que estou neste estado.» Nunca acuso nada nem ninguém. Mas os humanos acusam sempre a mulher, os filhos, os vizinhos, os acontecimentos, o Estado… e, sobretudo, Deus! Nunca pensam que a sua maneira errada de viver talvez seja a causa essencial das suas dificuldades e das suas desgraças. Sei bem que aquilo que estou a dizer-vos não será aceite. As pessoas estão tão longe destas verdades! Elas correspondem tão pouco aos seus hábitos! Mas eu sou obridesagradáveis, procurai a explicação para esses factos e percebereis que a verdadeira causa é não viverdes como deve ser, ou seja, é não pensardes, não sentirdes e não agirdes corretamente. Caso contrário, não deveríeis ter todas essas dificuldades e esses estados de consciência deploráveis. Se uma pessoa se imagina perfeita, mas a sua vida corre mal, isso mostra, muito simplesmente, que ela não sabe raciocinar. Decidi-vos, de hoje em diante, a ter como critério a maneira de viver, e vereis que tudo se tornará claro para vós. Se me perguntardes: «E o Mestre, vive como deve ser?», responder-vos-ei sinceramente: «Se me comparar com muitas outras pessoas que tenho observado, vivo uma vida magnífica, sem dúvida, mas, se me comparar com as Divindades, penso que ainda tenho muito que trabalhar, para lá chegar.» Isto porque a vida tem graus. Suponhamos que pensais muito corretamente, muito luminosamente, que gostais de toda a gente, que trabalhais para o bem, etc. Um dia, quando fordes mais longe, surgirão diante de vós outros trabalhos e outras atividades, de um tal esplendor que nem sequer suspeitáveis. O que fazíeis antes estava muito bem, comparado com o que a generalidade das pessoas faz, era bom, mas, um dia, descobrireis que existem formas de atividade ainda mais perfeitas. É esta a verdade e, ao dizer-vos isto, eu não me sinto diminuído. Se me comparar com as formigas, é evidente que sou um elefante; mas, se me comparar com os Querubins e os Serafins, sou uma formiga, ou talvez menos ainda, uma pulga… E, se essa pulga vos incomodar, não queimeis tudo por causa disso!
Le Bonfin, 9 de agosto de 1970