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LINGUAGEM SIMBÓLICA, LINGUAGEM DA NATUREZA

Autor:Aïvanhov, Omraam Mikhaël

19.00

Informação adicional

Peso400 g
ISBN

978-989-8691-85-9

Ano

2018

Edição

1

Idioma

Formato

145×210

Encadernação

Cartonada

N. Pág.

260

Colecção

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«Para se compreender o mundo dos símbolos, é preciso compreender o que é uma semente. Vós tendes uma semente minúscula que plantais e, um dia, ela torna-se uma árvore formidável.
No passado, os sábios verificaram que na Natureza, na alma e nos pensamentos ocorrem os mesmos processos de desenvolvimento e, por isso, aprenderam a condensar, também eles, toda uma árvore numa semente. Essa semente é um símbolo.
O Iniciado planta-o na sua cabeça, rega-o frequentemente e, quando a árvore aparece, ele trabalha e regozija-se à sombra dessa árvore… Depois recolhe as sementes e recomeça tudo…
A vida trabalha com símbolos e manifesta-se por seu intermédio.
Para se penetrar na vida, há que trabalhar com os símbolos e, inversamente, para se descobrir os símbolos e compreender tudo o que eles contêm, é preciso viver a verdadeira vida.»

VIII
O verdadeiro casamento
Segunda parte:

Nos filmes, nos romances, nas canções, nos poemas, qual é o tema? Sempre o amor, o amor e o casamento. Sobre o amor e o casamento, não é preciso discutir, os homens e as mulheres vêm à terra com esta tendência inata: amam-se e casam. Evidentemente, o amor e o casamento nem sempre andam a par. Umas vezes, há amor sem casamento; outras, há casamento sem amor. Contudo, em geral, os homens e as mulheres pensam que, quando se amam, devem casar-se para estarem juntos e para que ninguém venha tirar-lhes o seu amado ou a sua amada. Por isso, em geral, os homens e as mulheres amam-se e casam. E assim vai o mundo…
E se eu agora questionar: «É ponto assente: a vossa principal preocupação é o amor e o casamento. Mas qual é o vosso entendimento a este respeito? Porque é que deveis casar?… Ou melhor, em vez de falar do casamento… Porque é que pensais que deveis estabelecer um contacto com outro ser, unir-vos a ele e, pelo menos por uns segundos, ser um com ele?» Ninguém me responderá, porque as pessoas não se questionam nestes termos; como as coisas são assim, não é preciso dar cabo da cabeça com isso. Mas os Iniciados, que têm o hábito de refletir sobre todas as manifestações da existência para as aprofundarem, descobriram que esta tendência tão natural, tão comum, para procurar outro ser a quem se unir, tem por detrás um dos maiores segredos do Universo, e que, se o homem compreendesse o significado desta tendência e soubesse utilizá-la nos seus trabalhos espirituais, tornar-se-ia uma divindade.
Antes de existir na terra, o casamento começou por existir no Alto. No Alto, entre os princípios cósmicos masculino e feminino, ocorre incessantemente uma união, uma troca, que aqui, no plano físico, se reflete sob a forma do casamento. Isto é-nos revelado pela Ciência Iniciática. Está escrito no Génesis: «No começo, Deus criou o Céu e a terra.» O Céu e a terra são dois símbolos que é necessário interpretar, assim como as relações que existem entre eles; são os símbolos dos dois princípios, emissivo e recetivo, masculino e feminino. Estes dois princípios unem-se e desta união nascem filhos. Tudo o que vedes e mesmo tudo o que não vedes é uma criação dos dois princípios. Tudo o que é gerado na terra é filho desta união entre a terra e o Céu. Se a terra corta a ligação, se deixa de estar ligada ao Céu, o Céu não lhe dará as suas energias nem o seu impulso e ela tornar-se-á um deserto. O Céu e a terra, o princípio masculino e o princípio feminino, já existem como realidades nos reinos sublimes do Alto, e depois refletem-se em todas as regiões e em todos os domínios, até ao plano físico.
Por toda a parte, tudo o que se vê é a união dos dois princípios, masculino e feminino, e esta união produz uma força, uma energia. Quando quereis ligar um aparelho elétrico, utilizais uma ficha, que é “macho”, e uma tomada, que é “fêmea”, mas já reparastes que cada uma delas está polarizada? Há dois mais dois… Sim, cada coisa, cada ser, tem em si mesmo os dois polos. A terra, o Céu, o homem, a mulher, todos têm em si dois polos. Por isso, quando se unem isso perfaz quatro, e as forças circulam, os filhos nascem. Mas sem este contacto, sem esta união, sem esta fusão, sem esta troca, nada existe.
Se agora transportarmos esta questão para o domínio da vida interior, compreenderemos que, enquanto o homem não estabelecer contacto com qualquer outra coisa que o ultrapassa e que é o Céu, o mundo divino, estará só; se permanecer só, será estéril, improdutivo, e um dia desaparecerá sem deixar rasto. Direis: «Mas eu tenho mulher (ou marido), tenho filhos!…» Sim, no plano físico, mas isso não basta. O verdadeiro casamento é saber como trabalhar com os dois princípios em todos os domínios. Se se preencheu as condições no plano físico, material, surgem os resultados: toda uma população, toda uma criançada. Sim, mas nos outros domínios está-se solitário, é-se estéril, porque não se compreendeu esta lei do casamento em todas as regiões: no plano astral, no plano mental, etc.
Os Iniciados, que procuraram a realização em todos os domínios, descobriram que, enquanto o homem não estiver ligado a algo que é o seu complemento indispensável, não obterá qualquer resultado, e ocultaram esta verdade em símbolos e em fórmulas que temos de decifrar.
Para que um circuito funcione, tem de estar ligado. Reparai no organismo: no sistema circulatório, no sistema nervoso, no sistema respiratório, assim que surge uma rutura, acabou-se, já nada funciona, é a morte. E reparai no que acontece também relativamente à circulação rodoviária, à água, ao gás, à eletricidade e a todas as telecomunicações, tudo funciona com canalizações, tubagens, ligações… Todo o Universo é feito de ligações, de contactos.
As pessoas que não conhecem a importância desta questão das ligações no domínio espiritual estão sempre a cortar o contacto com o Céu, e depois ficam surpreendidas: «Mas porque é que eu sou infeliz? Porque é que não tenho nenhuma inspiração, nenhum entusiasmo? Porque é que me sinto morto?…» É porque romperam as ligações. É preciso restabelecê-las. Para restabelecer as ligações no plano físico, existem engenheiros e técnicos de toda a espécie: eletricistas, canalizadores, soldadores, cirurgiões… Até as crianças sabem isto. Mas, quando se trata do domínio psíquico, espiritual, as pessoas não sabem o que fazer nem a quem se dirigir.

Está escrito na Tábua de Esmeralda: «Tudo o que está em baixo é como o que está em cima, e tudo o que está em cima é como o que está em baixo.» “Em cima” ou “no Alto” é o domínio divino; “em baixo” é o plano físico. Tudo o que se encontra no plano material corresponde a uma verdade no plano espiritual. No plano espiritual, como no plano físico, é preciso saber restabelecer contactos, e os Iniciados ocultaram esta verdade no símbolo da serpente que morde a própria cauda. É este o símbolo do verdadeiro casamento. Direis vós: «Como? Uma serpente que morde a sua cauda é o símbolo do casamento?» Sim, porque o verdadeiro casamento no ser humano é a fusão da cabeça com a cauda. O outro casamento não passa de um reflexo deste. O homem e a mulher unem-se porque tentam, deste modo, reencontrar a unidade que constituíam no passado, numa época em que o ser humano era hermafrodita. Depois, houve a separação dos sexos, e é por isso que, agora, o homem e a mulher se procuram, para viverem de novo em plenitude.
E na sua consciência o homem também está separado de si próprio. Ele deve, pois, encontrar essa parte que não conhece e unir-se a ela. É a ideia que também está expressa na fórmula «Conhece-te a ti mesmo», que estava inscrita no frontão do templo de Delfos. Mas muito poucos compreenderam o sentido desta inscrição. Um dia, li o comentário feito sobre essa fórmula por um professor da Sorbonne e fiquei verdadeiramente siderado: mesmo os mais eruditos não compreendem nada e explicam esta frase como se fossem crianças; não há nada de verdadeiro nem de profundo nas suas explicações.
Conhecer-se não é conhecer o seu próprio carácter, com as suas qualidades, os seus defeitos, ou então conhecer os limites da condição humana. Se fosse só isto, até crianças seriam capazes de se conhecer. «Conhece-te a ti mesmo.» O que é “ti mesmo”? Os braços? As pernas? O cérebro? Não. Os sentimentos? Os pensamentos? Também não. Ti mesmo… si mesmo… é uma parte de Deus, uma centelha, um espírito imortal, algo infinito, muito longínquo, muito elevado… É aí que o homem deve encontrar-se para se conhecer, nessa entidade que é imortal, que é omnisciente, que é omnipotente: Deus… e tomar consciência de que depende d’Ele, de que faz parte d’Ele, de que não existe como existência nem como atividade separada d’Ele. Nesse momento, descobre que tudo o que pensava, tudo o que sentia, era uma ilusão, uma coisa irreal, que a realidade é este Eu, este Si interior que é o próprio Deus, e que, se fizer todos os esforços para se unir a Ele, para sentir que faz parte d’Ele, que forma uma unidade com Ele, a sua consciência funde-se no Eterno, ele colhe a força, a luz, o amor do Eterno; já não se sente como algo separado, pequeno, sofredor, sente-se como o próprio Deus!
Já vos expliquei que, enquanto o homem se identifica com o seu corpo físico, permanece vulnerável, fraco e mortal como o corpo físico e é afetado por tudo o que nele se passa. Mas, quando deixa de se identificar com o seu corpo físico, para se identificar com o centro do Universo, com a fonte da vida, com o Criador, afasta-se cada vez mais da fraqueza, da doença e da morte, e aproxima-se d’Aquele que é imortal, omnisciente, omnipresente.1 Por isso os Iniciados insistiam neste “ti mesmo”, pois, enquanto o homem se limitar a conhecer o que não é ele, nunca atingirá aquilo a que aspira: a liberdade, a paz, a felicidade. Conhecer-se é fundir-se com a imensidão que é Deus.
Por isso – compreendei-me bem –, quando os Iniciados da antiga Grécia disseram: «Conhece-te a ti mesmo», não preconizavam que as pessoas se conhecessem no que respeita a todas as suas fraquezas e a todas as suas limitações, porque as fraquezas, as lacunas, os vícios, não são “si mesmo”. É isto que, finalmente, é preciso compreender!

Evidentemente, esta fusão com Deus não pode ser feita rapidamente. Mesmo em toda uma existência, alguns não conseguem chegar a esta consciência superior, graças à qual sentem que formam uma unidade com o Eterno. De vez em quando, têm uns laivos, mas no dia seguinte sentem-se novamente separados d’Ele, fracos, infelizes. Aquele que realizou esta fusão com o seu Eu superior vive na paz e na luz, sente-se imortal. Chegou a um grau de consciência tão elevado, tão vasto, que considera todas as criaturas como se fizessem parte de si mesmo, e já não tem inimigos, já não pode fazer mal a ninguém, ama todos os seres, porque sente que é ele próprio que vive em todas as criaturas. Obedece, pois, a uma moral superior. Eis mais um sentido da fórmula «Conhece-te a ti mesmo».

Evidentemente, para se chegar a este estado de consciência, é preciso praticar toda uma ascese. Na Índia, chama-se-lhe Jnani-yoga. Para chegarem à consciência da sua identidade com Deus, os yogis hindus usam a fórmula «Eu sou Ele.» Quando medita longamente nesta frase, o yogi toma consciência, um dia, de que o seu eu não existe, que o eu não é senão “Ele”, o Senhor… Ele que é único, todo-poderoso, a única realidade.

E agora vamos aprofundar o significado da palavra “conhecer”. Podeis ler na Bíblia: «Adão conheceu Eva.» e Caim nasceu… Ele não a conhecia antes? O conhecimento subentende um contacto. É uma aproximação de dois polos que querem fundir-se, quer dizer, provar um do outro. O que fazem as crianças quando são muito pequenas? Agarram tudo o que têm à mão e levam-no à boca. É assim que aprendem a conhecer as coisas. Para a criança, o órgão do conhecimento não é o cérebro, mas a boca; ela quer provar tudo. E vós, para conhecerdes um cheiro, ou um som, ou uma imagem ou um pensamento, o que fazeis? Deixai-los entrar no vosso nariz, ou nos vossos ouvidos, ou nos vossos olhos, ou na vossa cabeça. Por isso, o conhecimento não é outra coisa a não ser deixar penetrar num dos nossos órgãos o objeto que queremos conhecer. Mesmo para o nascimento dos filhos, a lei é a mesma. O conhecimento ocorre, pois, pela penetração: algo penetra em nós para se fundir connosco.

Nesta fusão com um objeto ou com um ser, nós vibramos em harmonia com ele, no mesmo comprimento de onda que ele. Suponde que tendes dois diapasões cujas hastes são do mesmo comprimento… Quando fazeis vibrar um, o outro responde, porque tem o mesmo comprimento de onda. Por isso, para nos conhecermos, para conhecermos esse ser divino que está em nós, é preciso conseguirmos vibrar no mesmo comprimento de onda que ele. Só assim existe conhecimento.

Retomemos agora o símbolo da serpente que morde a sua cauda. Ela morde a cauda, isto é, junta os dois polos, o masculino e o feminino, porque quer conhecer-se… Mas imaginai que a serpente é muito comprida: quinhentos, mil, dez mil metros… Um dia, ao passear, ela encontra por ali uma cauda, pergunta a si própria o que será, e morde-a… Então, descobre que é a sua própria cauda! Como os gatinhos: brincam com a sua cauda e, quando a mordem, gritam; compreenderam, então, que é a sua própria cauda. Com o homem, acontece o mesmo. O homem é um ser cuja realidade ultrapassa em muito a aparência física: o que se passeia aqui na terra é a sua cauda… E a sua cabeça, onde é que está?… Enquanto os seus dois polos – a cabeça e a cauda – estiverem separados, ele limitar-se-á a rastejar.

A cauda tem de juntar-se à cabeça para a conhecer; a cauda, o eu inferior, deve juntar-se à cabeça, o Eu superior que está no Alto, no Céu. Nesse momento, o contacto é feito e há uma circulação de energias harmoniosa, contínua. No homem, esta serpente encontra-se na coluna vertebral, é a serpente Kundalini, que, quando desperta, se eleva ao longo da coluna vertebral. Quando, finalmente, os dois polos se reúnem, isto é, quando Kundalini, vinda de baixo, se une em cima ao espírito universal, Shiva, o homem conhece-se, vive na plenitude.2

«Conhece-te a ti mesmo.» “Ti mesmo” não é a cauda que mexe muito, aqui no plano físico, mas a cabeça, o espírito que está no Alto. O verdadeiro casamento é o verdadeiro conhecimento. Mas o homem ainda não realizou este casamento nele próprio; só o realiza fora de si: faz conexões, ligações, por todo o lado, põe circuitos em funcionamento nas fábricas, nos escritórios, na política, na economia, por todo o lado, exceto no seu interior. Aí, ele não sabe ligar nada, e é por isso que se sente incompleto.

A maior realização que o ser humano pode alcançar é unir o eu inferior ao Eu superior, a cauda à cabeça. Evidentemente, a cauda tem algumas qualidades, tem pelo menos a força para se mover. Mas a cabeça tem muitas mais: os olhos, os ouvidos, a boca, o nariz, o cérebro. Por isso, se conseguirmos unir-nos ao nosso Eu superior, que tem faculdades muito desenvolvidas, conheceremos tudo o que ele conhece, veremos tudo o que ele vê, ouviremos tudo o que ele ouve, e seremos perfeitos. Mas, enquanto estivermos separados, enquanto formos só uma cauda que se move, estaremos privados de todas essas riquezas.

É preciso juntar a cauda à cabeça… É preciso “juntar as duas pontas”. Há séculos que os Iniciados lançaram esta expressão no mundo, mas os seres humanos perderam-lhe o sentido; usam-na só em relação ao lado material, e lá pelo fim do mês, quando o dinheiro começa a faltar, dizem: «Não consigo juntar as duas pontas.» Na realidade, essas duas pontas são a cauda e a cabeça da serpente. Juntar as duas pontas é conseguir desenvolver sucessivamente todos os chacras, do Muladhara, em baixo, até ao Sahasrara, em cima, para fazer a unidade. Enquanto não se conseguir juntar as duas pontas, vive-se na miséria e nas privações. Sim, isto é tão verdadeiro no plano espiritual, como no plano físico.

Todos os poderes de criação se encontram no casamento. Já vistes algum homem ou alguma mulher que tenham gerado filhos sozinhos? Não, são necessários dois. Por isso, todos os que não se casam com o Céu nunca poderão tornar-se criadores, ficarão sempre solteiros. Todos temos de nos casar, caros irmãos e irmãs! Eu sou casado com o Céu… ou, digamos, com a Fraternidade Branca Universal, e tenho muitos filhos. Meteu-se-me na cabeça povoar a Terra com os meus filhos! Está escrito no Génesis: «Crescei e multiplicai-vos!» Mas os homens compreenderam esta prescrição só no plano físico. Cada mandamento tem, pelo menos, três interpretações, mas os humanos limitam-se a compreender as coisas no plano físico e é aí que está o erro. É necessário crescer e multiplicar-se, mas porque não no mundo dos pensamentos e dos sentimentos, para povoar a Terra, noite e dia, com pequenas criaturas aladas que irão influenciar o mundo inteiro no sentido da realização do Reino de Deus?…

É preciso pensar no casamento, mas no Alto. Eis a nova compreensão, a nova filosofia, o novo Céu e a nova terra, caros irmãos e irmãs. Então, quando tiverdes essa possibilidade, em vez de deixardes sempre as vossas energias dispersarem-se, recolhei-vos em vós mesmos para vos reencontrardes.

Nós vamos ver o nascer do Sol porque o Sol é um centro, o centro do nosso sistema solar, e, ao olharmos para ele, dirigimo-nos ao nosso próprio centro. O nosso Eu, o nosso verdadeiro Eu, não habita aqui; está muito longe, fora do nosso corpo, habita no Sol. Mas ele está ligado ao nosso pequeno eu ilusório, que se encontra aqui na Terra, e, sempre que conseguimos estabelecer conscientemente a comunicação entre eles, o nosso pequeno eu é atraído para o Sol e aí vive na alegria, na luz. Aliás, eu ensinei-vos um exercício para fazerdes ao nascer do Sol: imaginai que estais no Sol e que, lá de cima, olhais para vós mesmos no rochedo, sorrindo, e dizeis: «Ah, coitado! Estás aí no Rochedo, mas se soubesses como é melhor estar aqui!» Assim, faz-se uma ligação entre o vosso eu inferior e o vosso Eu superior, restabeleceis a ligação convosco próprios, reencontrais-vos.3 Se fizerdes este exercício durante anos, conseguireis receber as qualidades do vosso Eu superior. Como o vosso Eu superior é imortal, conhece toda a história do mundo e poderá comunicar-vo-la. Como ele é livre, dar-vos-á poderes. Como ele está mergulhado num oceano de felicidade, dar-vos-á uma felicidade indescritível.

Quando os homens e as mulheres se fundem, sentem uma alegria imensa, mas não sabem o que significa essa alegria. Ela tem a ver precisamente com a veracidade deste método: juntar as duas pontas. Quando o homem foi capaz de juntar as duas pontas, conseguiu reencontrar-se e vive na plenitude. É a mesma alegria, a mesma dilatação que o invade, mas de uma natureza muito mais subtil. São os êxtases de que falam todos os santos, yogis e Iniciados que conseguiram reencontrar-se.

Os homens e as mulheres amam-se, supostamente, mas esse amor não os leva a descobrir nada, porque eles ficam só ao nível das sensações, nenhuma luz surge nas suas cabeças. Ora, a sensação não basta, é preciso ir até ao pensamento, até à luz. Vou dar-vos uma imagem. Os primitivos, para fazerem fogo, pegavam em dois pedaços de madeira e friccionavam-nos um no outro. Esta fricção começava por produzir calor e, por fim, surgia uma chama. Mas o que fazem os humanos quando se amam? Ficam pelo calor, isto é, pela sensação, não vão até à luz: o seu amor não os leva até à compreensão, à iluminação. Falta-lhes atingir um outro degrau e, enquanto não o atingirem, as suas sensações transformar-se-ão em cinza, em amargura. Que se amem, percebe-se, ninguém os impede disso, mas devem ir mais longe, até que a luz jorre. Por enquanto, eles não fazem nenhuma descoberta, porque se limitam a procurar o prazer.4

Quando tomais um comboio, vedes na estação um letreiro que indica o destino: “Versalhes”, por exemplo; e, se seguirdes nesse comboio, ireis parar a Versalhes. Se puserdes na vossa cabeça o letreiro “prazer”, o vosso comboio parará numa parvónia que se chama “prazer”, e, como é uma parvónia muito pantanosa, ireis chafurdar e afundar-vos sem conseguirdes de lá sair. Os Iniciados, que conhecem os perigos do prazer, fixam sempre para si próprios um outro destino: o trabalho, um trabalho gigantesco… E o mundo inteiro recebe alguma coisa de todos os jorros de forças divinas e luminosas que eles projetam no espaço. Os Iniciados não param no calor, vão até à luz; aí também têm sensações, mas sensações superiores, um deslumbramento e um êxtase indescritíveis.

Apresentei-vos em algumas palavras o segredo do casamento. Deveis casar-vos, mas não apenas com criaturas exteriores a vós, pois no exterior perdeis as vossas energias. É com vós próprios que deveis casar-vos, para que todas as vossas energias se multipliquem. Quando se sabe juntar as duas pontas, aumenta o conhecimento, aumenta a felicidade, aumenta o poder, e assim reforça-se a trindade formada, no homem, pelo intelecto, pelo coração e pela vontade.

Caros irmãos e irmãs, o casamento é o maior mistério que existe. Aqui, na terra, ele é apenas um reflexo. Para se compreender o esplendor e a profundidade do verdadeiro casamento, é preciso subir até muito mais acima. Reparai na atenção que os humanos, em geral, dão à cerimónia do casamento: todos aqueles preparativos, aqueles banquetes, aquelas fatiotas. Mas eles não procuram perceber qual é a sua origem, não veem que há nas regiões subtis um casamento milhares de vezes mais importante. Todos sabem que, sem o casamento, a humanidade desapareceria, por isso se casam. As pessoas estão muito preocupadas com o futuro da humanidade, percebeis? Isso fica-lhes muito bem! E eu, que não sou casado, não trabalho para a humanidade, claro. Pois bem, eu considero as coisas de um modo diferente. Os homens e as mulheres que se casam podem, com isso, fazer morrer a humanidade, porque não sabem o que é o verdadeiro casamento.

Na realidade, a questão não está em ser casado ou solteiro no plano físico. O verdadeiro casamento, como já vos disse, está na ligação com o Céu. Por isso, o que é desejável é que os homens e as mulheres casados continuem a trabalhar espiritualmente, apesar das suas ocupações e dos seus problemas quotidianos, e que os solteiros, pelos seus pensamentos e sentimentos, possam povoar a Terra com filhos angélicos para a realização do Reino de Deus.

…Há ainda tantas coisas a dizer neste domínio! Mas tende paciência; em breve, tudo se esclarecerá.

Le Bonfin, 19 de julho de 1968

ÍNDICE

I A alma ……………………………………………………………. 9
II O ser humano e as suas diferentes almas …………….. 35
III O círculo (o centro e a periferia) ………………………… 53
IV O tempo e a eternidade …………………………………….. 91
V Os doze trabalhos de Hércules …………………………… 113
VI A grande Primavera ………………………………………….. 135
VII O primeiro dia da primavera ……………………………… 141
VIII O verdadeiro casamento ……………………………………. 155
IX Porque é que o homem arrastou os animais na queda? ……. 179
X Como os dois princípios estão contidos na boca …….. 197
XI O Espírito Santo ………………………………………………. 213
XII A linguagem simbólica …………………………………….. 231