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PARAPSICOLOGIA, ENTRE A CRENÇA E A CIÊNCIA

18.00

Informação adicional

Peso380 g
ISBN

978-989-8147-69-1

Ano

2011

Edição

1

Idioma

Formato

145×210

Encadernação

Cartonada

N. Pág.

293

Colecção

REF: 625 Categorias: , , ID do produto: 23456
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Num artigo de jornal Pacheco Pereira tentou descredibilizar o trabalho dos investigadores de Parapsicologia que recebem Bolsas da Fundação Bial, instituição criada por Luís Portela, proprietário da maior farmaceutica portuguesa. Das duas uma: ou o opinion maker desconhecia que os projectos apresentados pelos bolseiros, nacionais e estrangeiros, são aprovados pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas ou então sabia, mas preferiu ignorar esse facto. Só que, a despeito da pretensa autoridade de certos opinion makers, a Parapsicologia tem há várias décadas sede própria no edifício académico, tendo inclusive motivado projectos de investigação com interesses políticos, ao abrigo de agências como a CIA e o KGB. Aliás, a investigação de fenómenos PSI cativou mesmo diversos prémios Nobel e motivou a constituição de um departamento específico na multinacional Sony. Devido à natureza complexa do seu objecto de estudo, esta é uma área difícil, mas se isso fosse razão para abandonar a investigação, então mais valia colocar de parte quaisquer esforços de pesquisa sobre buracos negros, matéria escura ou a singularidade pré Big-Bang.

7. (In)Conclusão: comunidade científica ou comunidades de cientistas?

Somos frequentemente informados pelos media de factos tão notáveis como a existência de anarquia no Iraque ou no Ruanda. Que pena Bakunine e Proudhon já não estarem entre nós para desfrutar do doce sabor da vitória. Ao menos se a reencarnação existisse! O que seria, pelo menos, tão notável como a existência de uma sociedade anarquista em Bagdad!
Mas, afinal, o que tem a anarquia no Iraque em comum com o tema do presente livro? É simples! A constatação de que certos jornalistas e opinion makers que peroram placidamente sobre a anarquia no Iraque serem os mesmos que costumam fazer afirmações de rigor matemático como “os cientistas dizem que sorrir faz bem à pele” ou “a comunidade científica rejeita liminarmente a existência de fenómenos PSI”. Ou seja, a forma como determinadas asserções dogmáticas, de natureza semântica e factual questionáveis, serem alimentadas pelos media e ruminadas de forma acéfala por uma população acrítica.
Quando se afirma publicamente que os “cientistas dizem que sorrir faz bem à pele” somos levados a crer que uma conclusão desta natureza é perfeitamente consensual entre qualquer profissional do ramo. Da mesma forma, se “a comunidade científica rejeita os fenómenos PSI”, parecem não restar dúvidas de que esta posição é assumida, sem reservas, por todos os cientistas em actividade nos quatro cantos do globo. Se assumirmos este imperativo, então teremos de descartar a ciência como uma actividade plural e democrática, concluindo que se trata de uma instituição de natureza eclesiástica, assente numa doutrina única, que comunica com os leigos através de comunicados oficiais que veiculam mandamentos irrefutáveis como “sorrir faz bem à pele” e “os fenómenos PSI não existem”. Seguindo esta linha de raciocínio, aos jornalistas e opinion makers devotos da “Santa Igreja Científica” – apesar de eventuais semelhanças, não confundir com Igreja da Cientologia – cabe a tarefa de transcreverem fielmente, como bons monges copistas, princípios canónicos que circunscrevem como herética qualquer tentativa de estudo de fenómenos PSI.
Só que, à revelia daqueles, existem sempre alguns hereges que se recusam a actuar em rebanho e a seguir cegamente os dogmas imaculados da Sagrada Ciência. Mais, alguns destes heréticos chegam mesmo – pasme-se! – a questionar venerações idólatras da Ciência como um templo de saberes unívocos e intocáveis. O Nobel Niels Bohr disse que “não existem objectos indignos de ciência” e Thomas Kuhn, o mais emblemático filósofo das ciências, (autor de A Estrutura das Revoluções Científicas) teve a ousadia de afirmar que “a descoberta começa com a consciência da anomalia, ou seja, a impressão de que a Natureza, de uma maneira ou de outra, contradiz os resultados esperados no quadro do paradigma que governa a ciência normal”. Afinal, será que nem todos os cientistas defendem as teses de que “sorrir faz bem à pele” ou de que “os fenómenos PSI não existem”? Significará isto que, ao contrário do que os profetas da Ciência única nos querem fazer crer, não existe uma comunidade científica de pensamento consensual, mas sim comunidades de cientistas com sensibilidades e perspectivas muitas vezes antagónicas? A ser verdade, e a provar-se que não se trata de blasfémia, vai ser difícil voltar a olhar para a Ciência já não como uma religião institucionalizada, mas sim como um território livre e plural, onde podem coexistir pacificamente pessoas com diferentes conceitos, hipóteses e modelos de trabalho.
Claro que, ainda assim, nada nos garante que “cientistas que estudam fenómenos PSI” estejam no mesmo nível dos seus congéneres que “demonstraram rigorosamente que sorrir faz bem à pele”. Só pelo facto de alguns excêntricos como Thomas Kuhn ou Niels Bohr terem a mania de democratizar o exercício da Ciência, isso não significa que não existam cientistas de primeira e outros de segunda. E aqueles pacóvios que se põem a estudar fenómenos PSI inserem-se, de certeza, no segundo grupo. Até porque devem ter feito carreira em universidades do Terceiro Mundo – ao contrário do que sucede com respeitáveis cientistas que correlacionaram o sorriso e a pigmentação da pele. Vejamos, então, quem são alguns desses “amadores” que se têm arrogado no direito de manifestarem interesse por fenómenos de fronteira ou por certas “anomalias” da mente:

– Brian Josephson, físico, vencedor do prémio Nobel de Física em 1973 pela descoberta do Efeito Josephson, dirige o “Projecto de Unificação Mente-Matéria”, na Universidade de Cambridge

– Wolfgang Pauli, doutorado em Física pela Universidade Ludwig Maximilian, em Munique; vencedor do Prémio Nobel ao descobrir o “princípio de exclusão de Pauli”; investigador do Instituto Niels Bohr, em Copenhaga; professor de Física Teórica no Instituto de Tecnologia de Zurique; investigou, com o seu amigo Carl Jung, o conceito de sincronicidade, procurando criar um novo modelo teórico para a teoria do psiquiatra suíço

– David Bohm, doutorado em Física pela Universidade de Berkeley; um dos principais investigadores de Física Quântica e da Teoria da Relatividade; juntamente com o neurocientista Karl Pribram, desenvolveu a Teoria do Cérebro Holográfico

– Karl Pribram, neurologista e professor nas Universidades de Stanford e Radford; presidente-fundador da Sociedade Internacional de Neuropsicologia; um dos principais proponentes da Teoria Holográfica do funcionamento cerebral

– Edwin May, doutorado em Física pela Universidade de Pittsburg; director do Laboratório de Ciências Cognitivas em Menlo Park, 1991-1995; director-executivo do Laboratório de Ciências Cognitivas, em Palo Alto, desde 1995

– Harold Puttoff, Doutorado em Física pela Universidade de Stanford; investigador na Universidade de Stanford, na General Electric, na Sperry, na National Security Agency, no SRI International e na NASA; director do Institute for Advanced Studies, em Austin; presidente da Science Advisory Board of Bigelow Aerospace, consultor do Congresso norte-americano

– Robert Morris, doutorado em Psicologia pela Universidade de Duke; investigador-assistente na Universidade de Duke, 1971-73; leitor de Parapsicologia na Universidade da California, em Santa Bárbara, 1974-78; professor de Parapsicologia no Departamento de Psicologia da Universidade de Edimburgo, desde 1985

– Dean Radin, doutorado em Psicologia Educacional pela Universidade de Illinois; director da Divisão de Investigação sobre a Consciência, na Universidade de Nevada, 1993-1997; bolseiro-senior da Unidade de Parapsicologia na Universidade de Edimburgo

– Jessica Utts, doutorada em Matemática e professora de Estatística na Universidade da Califórnia; autora conjunta com Ray Hyman da revisão estatística dos resultados das experiências desenvolvidas pelo American Institutes of Research, ao abrigo da CIA

– Russel Targ, doutorado em Física na Universidade de Columbia; investigador pioneiro de tecnologias laser; fundador do Stanford Research Institute, autor de diversos trabalhos ao abrigo do Institute of Electrical and Electronics Engineers e da American Association for the Advancement of Science, vencedor de dois prémios atribuídos National Aeronautics and Space Administration

– Daryl Bem, doutorado em Psicologia Social pela Universidade de Michigan; doutorado em Física pelo MIT; professor nas Universidades de Stanford, Harvard e Cornell; fundador do programa de investigação de Parapsicologia na Universidade de Cornell

– Stanley Krippner, doutorado em Psicologia Educacional pela Northwestern University; director do Dream Laboratory, em Nova Iorque; director do Child Study Center, na Universidade de Kent State; membro e consultor da International Society for the Study of Dissociation, da American Psychological Association, da Society for the Scientific Study of Sex, da American Psychological Society, da American Society of Clinical Hypnosis e da Society for the Scientific Study of Religion.

– Richard Broughton, doutorado em Psicologia pela Universidade de Edimburgo; investigador convidado na Universidade de Utrecht; professor-assistente no Departamento de Ciências Comportamentais, na Universidade de Nova Iorque

– Dietrich Lehmann, professor jubilado de Neurofisiologia e Consultor da Clínica Psiquiátrica Universitária, da Universidade de Zurique

– Dick Bierman, doutorado em Física e professor nas Universidades de Amesterdão e de Utrecht; investigador referenciado nos domínios da Inteligência Artificial

– Albert Hoffman, investigador de Química na Universidade de Zurique; investigador nos laboratórios Sandoz, onde descobriu o célebre LSD-25; director do departamento de plantas medicinais nos laboratórios Sandoz, onde investigou correlações entre o LSD e determinadas plantas com potencialidades psicadélicas

– Stanislav Grof, doutorado em Medicina, pela Universidade de Praga; professor assistente de Psiquiatria no Johns Hopkins University School of Medicine de Balyimore, director do Departamento de investigação de Psiquiatria no Maryland Psychiatric Research Center, presidente da Associação Internacional de Transpessoal; desenvolveu pesquisas acerca do uso do LSD com uma bolsa atribuído pelo Congresso norte-americano; vencedor do Prémio VISION 97 atribuído pela Fundação Dagmar e por Vaclav Havel

Pronto, é verdade que, afinal, existem uns quantos cientistas com currículo a interessarem-se por temas estranhos. Vá se lá saber por que raio é que, na cabeça desta gente, um fenómeno PSI ou a complexidade da consciência são mais importantes do que estudar assuntos tão prementes como a possibilidade de um “sorriso fazer bem à pele”?
Além disso, só pelo facto de alguns destes cientistas terem recebido o Nobel e fazerem investigação em universidades de prestígio, isso não significa que não sofram de graves psicopatologias. Se calhar, é isso: são apenas loucos em fuga que conseguiram escapar de instituições psiquiátricas. Aqui está uma boa hipótese académica que, a ser bem sucedida, poderia arredar de vez esta gente da comunidade científica. Eureka. Se submetermos este bando de lunáticos – é pena que alguns já não estejam entre nós, mas sempre podemos ridicularizá-los à posteriori – a testes de saúde psíquica, vamos, de certeza, chegar à conclusão de que eles não funcionam com os “parafusos” todos. Mas e aqueles que, da lista citada, se consideram cépticos e continuam a pugnar por interpretações estritamente materialistas? Só podem ser doidos varridos na mesma, caso contrário não perdiam tempo com este tipo de “palermices” – a continuarmos assim, qualquer dia não existem cientistas para estudar as potencialidades miraculosas de um sorriso como forma de obter uma pele de sonho…E se os testes de validade psíquica forem inconclusivos, então, há que recorrer a medidas mais extremas…Retomar os autos de fé seria uma boa medida para calar essas vozes insanas.
O problema é abafar casos mais bicudos. O que fazer, por exemplo, quando o porta-voz da Sony Corporation declara publicamente que a multinacional encontra provas dos fenómenos PSI, mas não sabe como fazer dinheiro com esta descoberta? Fingir que nada aconteceu, claro. Ainda recentemente tivemos o exemplo de uma revolução na Islândia que passou em branco nos meios de comunicação social. Porquê? Porque não interessava, obviamente. E não interessava a quem? Às oligarquias que temem perder os seus feudos, ou seja, os poderes político e económico, que usam e abusam do seu braço “armado” dilecto, a comunicação social, pornográfica e estrategicamente condicionada através da concentração de jornais e televisões em grupos de media. Ou seja, os órgãos de informação estão nas mãos justamente daqueles a quem não interessam as revoluções. A não ser que estas lhes tragam mais lucros, privilégios ou horizontes de expansão dos seus impérios, claro!
“O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”, reza o velho ditado. Talvez seja chegada a hora de menos poder e mais verdade. Mais amor também, porque não? Palavras estranhas na política, na comunicação social e na ciência. E que diferença fariam. Quando Thomas Kuhn afirma que a ciência não pode viver sem a anomalia, Niels Bohr proclama que não existem objectos indignos de estudo ou Heisenberg e Schrodinger procuram novas interpretações do real no Vedanta e no Budismo estão a dizer simplesmente isto: ninguém pode colocar a verdade num cárcere. Algo que o nosso Carvalho Rodrigues já corroborou, deixando bem claro que os cientistas que estudam as áreas de vanguarda não têm que se envergonhar daquilo que fazem. E esta procura da verdade é um acto de amor. Aliás, talvez só o amor possa salvar a ciência. E, já agora, a própria democracia…

ÍNDICE
Prefácio
Introdução
1. “Anomalias”, fenómenos PSI e Parapsicologia
2. Um longo caminho até à Universidade
2.1. Os relatos segundo a História e a Antropologia
2.1.1. Registos Históricos
2.1.2. Registos Antropológicos.
2.2. Das Sociedades Psíquicas ao estudo científico das “Anomalias”
2.2.1. A Era Científica
2.2.2. A adesão da Academia
2.2.3.Sony Corporation: encontra “provas PSI” mas não encontra uso comercial
3. Metodologia em Parapsicologia
3.1. Métodos Quantitativos e Métodos Qualitativos
3.2. O Futuro do Estudo das “Anomalias”
4. A Parapsicologia Científica em Portugal
4.1. A Fundação Bial
4.1.1. O “mecenas” da Parapsicologia
4.1.2. Cientistas financiados pela Fundação Bial
4.1.3. A Voz do Medium
4.1.4. Estados Alterados de Consciência
4.1.5. O acaso e o “Paranormal”
4.1.6. Fenómenos PSI no consultório
4.2. “Ficheiros Secretos” entram em universidade do Porto
4.3. Experiências de Quase Morte
4.4. Estados Alterados de Consciência, Transe e Ondas Cerebrais
5. Parapsicologia, Psicologia e Sociologia do “Paranormal”
5.1. A Crença no “Paranormal” e a Parapsicologia
5.2. A Crença como um Objecto de estudo legítimo
5.3. Psicologia da Crença no “Paranormal”
6. A Crença do “Paranormal” em Portugal
6.1. Variáveis Cognitivas e Crença no “Paranormal”
6.1.1. Objectivos do Estudo
6.1.2. Instrumentos
6.1.3. Procedimentos
6.1.4. Descrição da Amostra
6.1.5. Resultados
6.1.6. Diferenças e semelhanças importantes entre a amostra de estudantes e apopulação em geral
6.1.7. Sheep-Goats e BPR
6.1.8. Sheep Goats e Teste de Pseudo PK
6.1.9. Sheep-Goat e Experiência Aparente de Telepatia
6.2.Discussão
6.2.1 Referência Bibliográfica
6.2.3. “Experiência Psíquica”
6.2.4 “Poder da Mente”
6.2.5. “SUPERSTIÇÕES”
6.2.6.“REGIÕES ONDE FORAM IDENTIFICADAS CRENÇAS E PRÁTICAS
6.2.7. NO DOMÍNIO DAS PARACIÊNCIAS
6.2.8. NO DOMÍNIO DA RELIGIOSIDADE
6.2.9. CRENÇA NO “PARANORMAL” E CRENÇAS RELIGIOSAS
6.2.10. CRENÇA EM “FÁTIMA”
P26. Frequência de peregrinação ao santuário de Fátima
APÊNDICE
7. (In)Conclusão: Comunidade Científica ou Comunidades de Cientistas?