O Mestre Omraam Mikhaël Aïvanhov (1900-1986), filósofo e pedagogo de origem búlgara, foi para França em 1937. Embora a sua obra aborde os múltiplos aspectos da ciência iniciática, ele precisa: «Cada um deve trabalhar para o seu próprio desenvolvimento, na condição de não o fazer unicamente para si próprio, mas para o bem da colectividade. Nesse momento, a colectividade torna-se uma fraternidade. Uma fraternidade é uma colectividade onde reina uma verdadeira coesão, porque, ao trabalhar para si mesmo, cada indivíduo trabalha também, conscientemente, para o bem de todos.»
Animal fantástico comum a todas as mitologias e presente até na iconografia cristã, o dragão não é, de modo nenhum, uma ficção longínqua: é o símbolo das forças instintivas do ser humano. E toda a aventura da vida espiritual consiste em domar, em domesticar e orientar essas forças, a fim de utilizá-las como meios de propulsão para alcançar os altos cumes espirituais. Pois o facto de este monstro, com cauda de serpente e boca flamejante, possuir igualmente asas, é bem a prova de que as forças que ele encarna têm um objectivo espiritual. «A força sexual é uma energia que podemos comparar ao petróleo, diz o Mestre Omraam Mikhaél Aïvanhov; os ignorantes e os incapazes são queimados — esta força queima a sua quinta-essência —, ao passo que aqueles que sabem utilizá-la, os Iniciados, voam no espaço.» Eis o significado do Dragão alado.
Pergunta: «Mestre, quer dizer-nos qual é, para si, a diferença entre o amor e a sexualidade, e como se pode utilizar a sexualidade na vida espiritual?»
Eis uma pergunta muito interessante, que aborda o que há de mais importante na vida e diz respeito a toda a gente. Sim, aos jovens e aos velhos…
Eu não direi que sou muito qualificado para responder a todas as questões que este problema levanta. Aquilo que tenho de particular é que gosto sempre de ver as coisas de um certo ponto de vista, e dediquei toda a minha vida a obter esse ponto de vista. Começarei, pois, por dizer-vos duas palavras, para que não comeceis a criticar-
-me, dizendo: «Oh!, eu já li livros sobre o amor e a sexualidade onde explicam muito mais coisas. Este instrutor é ignorante!» Pois sim, por que não hei-de eu ser ignorante?… Mas os que escreveram esses livros não tinham o meu ponto de vista e, por isso, não entenderam esta questão como eu a entendo. Portanto, se quiserdes, podereis informar-
-vos lendo tudo quanto os psicanalistas e os médicos têm escrito sobre a sexualidade, mas eu, pelo meu lado, desejo encaminhar-vos para um outro ponto de vista, quase desconhecido até agora.
Qual é esse ponto de vista? Por vezes, tenho-o ilustrado com uma imagem divertida: – Um professor, diplomado por três ou quatro universidades, trabalha no seu laboratório, onde leva a cabo toda a espécie de pesquisas e experiências… Mas eis que o seu filho de doze anos, que anda a brincar pelo jardim, sobe a uma árvore e grita: «Papá, estou a ver o tio e a tia a vir para cá…» O pai, que nada vê, pergunta-lhe: «A que distância estão eles? O que é que trazem?» E o filho dá-lhe todas as informações. Mau grado toda a sua ciência, o pai nada podia ver, ao passo que a criança, pequenina e ignorante, era capaz de ver mais longe, pela simples razão de que o seu ponto de vista era diferente: tinha subido mais alto, enquanto o pai ficara em baixo.
Claro que isto é só uma imagem, mas que poderá fazer-vos compreender que, se é útil ter-se faculdades intelectuais e conhecimentos, o ponto de vista é ainda mais importante. Consoante se observar o Universo do ponto de vista da terra ou do ponto de vista do sol, obter-se-ão resultados completamente diferentes. Toda a gente diz: «O sol nasce, o sol põe-se…» Sim, isso é verdade, mas é falso. É verdade do ponto de vista da terra; do ponto de vista geocêntrico, tendes razão. Mas do ponto de vista heliocêntrico, solar, é falso. Toda a gente vê a vida segundo o ponto de vista da terra e, evidentemente, desse ponto de vista, as pessoas têm razão. Elas dizem: «Há que comer, ganhar dinheiro,
gozar os prazeres…» Mas, se adoptassem o ponto de vista solar, isto é, o ponto de vista divino, espiritual, veriam as coisas de modo diferente. E é esse ponto de vista que eu possuo e que me permite apresentar-vos a natureza do amor e da sexualidade de um modo completamente diferente.
À primeira vista parece difícil separar a sexualidade do amor. Tudo vem de Deus, e tudo o que se manifesta através do homem como energia é, na origem, uma energia divina: mas essa energia produz efeitos diversos consoante o condutor através do qual se manifesta. Podemos compará-la à electricidade. A electricidade é uma energia cuja natureza se ignora, mas que, ao passar através de uma lâmpada, se transforma em luz, se bem que não seja luz. Se passar por um fogão, será calor; se passar por um íman, será magnetismo; se passar por um ventilador, será movimento. Do mesmo modo, existe uma força cósmica original que assume este ou aquele aspecto conforme o órgão do homem através do qual se manifesta. Através do cérebro, torna-se inteligência, raciocínio; através do plexo solar ou do centro hara, torna-se sensação e sentimento; quando passa pelo sistema muscular, torna-
-se movimento; e, finalmente, quando passa pelos órgãos genitais torna-se atracção pelo outro sexo. Mas é sempre a mesma energia.
A energia sexual vem, pois, de muito alto, mas ao passar pelos órgãos genitais produz sensações, uma excitação, um desejo de aproximação, e pode acontecer que nestas manifestações não exista amor absolutamente nenhum. É isso que se passa com os animais. Em determinados períodos do ano, eles acasalam, mas será que o fazem por amor? Por vezes, eles maltratam-se e, em algumas espécies, como o louva-a-deus e certas aranhas, a fêmea come o macho. Isto é amor? Não, é pura sexualidade. O amor começa quando essa energia toca simultaneamente outros centros do homem: o coração, o cérebro, a alma e o espírito. Nesse momento, essa atracção, esse desejo que as pessoas sentem de se aproximar de alguém, é iluminado por pensamentos, por sentimentos, por um gosto estético, já não se procura uma satisfação puramente egoísta sem ter absolutamente nada em conta o companheiro.
O amor é sexualidade, se quiserdes, mas alargada, esclarecida, transformada. O amor possui tantos graus e manifestações que se torna impossível enumerá-los ou classificá-los. Pode acontecer, por exemplo, que um homem ame uma mulher jovem e bela sem, no entanto, se sentir muito atraído fisicamente por ela: deseja acima de tudo vê-la feliz, de boa saúde, instruída, rica, bem na sociedade, etc… Como explicar isso? Não é apenas sexualidade, mas amor; trata-se, pois, de um grau superior. Mas, apesar de tudo, há-de haver também um pouco de sexualidade nesse amor, pois poderá pôr-se esta questão: por que é que esse homem não se prendeu a qualquer outra pessoa, a uma mulher velha e feia, ou a outro homem? Sim, se analisarmos bem, descobriremos pelo menos um fraco grau de sexualidade.
A sexualidade… o amor… afinal é somente uma questão de graus. O amor é quando não vos limitais, quase exclusivamente, a algumas sensações físicas grosseiras, mas sentis os graus superiores dessa força cósmica a invadir-vos e comungais com as regiões celestes. Mas quantos seres não há que, uma vez satisfeito o seu desejo, se separam, quando não começam a bater um no outro! Para eles o que conta é apenas descarregar-se, desembaraçar-se de uma tensão, e se, algum tempo depois, essa energia se acumula de novo neles, voltam a estar sorridentes e ternos, mas unicamente para satisfazer de novo a sua animalidade. Que amor há nisso?
As pessoas têm necessidades, desejos, e isso é normal, sobretudo quando se é jovem. A Natureza, que previu tudo, entendeu que isso era necessário para a propagação da espécie. Se o homem e a mulher ficassem frios em frente um do outro, se eles deixassem de ter os seus impulsos e instintos, seria o fim da humanidade. É, pois, a Natureza que impele as criaturas a aproximarem-se fisicamente, mas o amor é outra coisa.
Pode dizer-se que a sexualidade é uma tendência puramente egocêntrica que impele o ser humano a procurar somente o seu prazer, e isso pode levar às maiores crueldades, pois ele não pensa no outro, procura apenas satisfazer-se a si mesmo. Ao passo que o amor, o amor verdadeiro, pensa antes de mais na felicidade do outro, é baseado no sacrifício de tempo, de forças, de dinheiro, para ajudar o outro, para lhe permitir desabrochar e desenvolver todas as suas possibilidades. E a espiritualidade começa justamente onde o amor domina a sexualidade, quando o ser humano se torna capaz de se privar a si mesmo para o bem do outro. Enquanto não forem capazes de se privar seja do que for, as pessoas não manifestam amor. Quando um homem se atira a uma moça, será que ele pensa no mal que poderá causar-lhe? Não, ele até é capaz de matar para satisfazer os seus instintos. A sexualidade é isso, um instinto puramente animalesco. Vós direis: «É evidente que não há nada de divino nisso!» Há, sim! A sexualidade é de origem divina, mas, enquanto o ser humano não souber dominar-se, as suas manifestações não serão, evidentemente, divinas. O que há de bom na sexualidade é que ela trabalha para a propagação da espécie, mas, se for orientada apenas para o prazer, é um atoleiro. Actualmente, inventam-se coisas inacreditáveis neste domínio. Há a pílula, claro, mas vendem-se também produtos e objectos que eu não quero sequer nomear. Aí, já não se trata da propagação da espécie, mas exclusivamente de prazer.
Não me demorarei sobre este assunto para discutir se essas coisas devem ou não existir. No estado actual da humanidade, até os moralistas, até os religiosos têm achado necessário, inevitável, que elas existam, porque a natureza inferior, a natureza animal no homem, é ainda de tal forma poderosa que, se não a deixassem manifestar-se, ela produziria fenómenos ainda mais prejudiciais. Não quero, pois, discutir este assunto e apenas digo que é pena os humanos não serem instruídos sobre as vantagens que há em controlar esta energia e em utilizá-la com uma finalidade divina, para trabalhos espirituais, em vez de recorrerem a toda a espécie de produtos com o fim de se atolarem no prazer.
Nas suas manifestações exteriores, não há gran-de diferença entre o amor e a sexualidade: são os mesmos gestos, os mesmos abraços, os mesmos beijos… A diferença está na direcção que as energias tomam. Quando sois impelidos apenas pela sexualidade, não vos preocupais com a outra pessoa, ao passo que, se a amais, pensais sobretudo em torná-la feliz. A sexualidade e o amor não têm, pois, grande diferença no plano físico, mas sim no plano invisível, psíquico, espiritual. E é justamente isso que eu quero revelar-vos.
Todos aqueles que têm estudado a questão da sexualidade – os psicólogos, os psiquiatras, os sexólogos – não descobriram o que se passa no domínio subtil, etérico e fluídico durante o acto sexual. Eles sabem que se produzem excitações, tensões e emissões, e até as classificaram. Mas o que eles não sabem é que, quando se trata de sexualidade puramente física, biológica, egoísta, se produzem nos planos subtis erupções vulcânicas de toda a espécie que se manifestam por meio de formas grosseiras, de emanações muito espessas com cores baças, mescladas, onde predomina o vermelho, mas um vermelho sujo… E todas essas emanações se entranham na terra, onde criaturas tenebrosas aguardam o momento de tomar o seu repasto e se regalar com essas energias vitais. São criaturas pouco evoluídas e que se alimentam muitas vezes à custa dos amantes. Estais espantados, mas é esta a verdade: os amantes dão festins no mundo invisível.
No passado, acontecia que, por ocasião de um nascimento, de um casamento ou de uma vitória, os reis e os príncipes promoviam festejos públicos que duravam vários dias. Então, todos os mendigos, os vagabundos, os deserdados, vinham regalar-se, visto que se distribuía comida a toda a gente. E – estais a compreender? – é o mesmo fenómeno que se repete, mas sob uma forma que a ciência ainda não descobriu. Quando um homem e uma mulher se sentem atraídos um pelo outro, se amam e se unem, também eles dão um festim e esse festim é oferecido publicamente em frente de muitas outras criaturas. Mesmo que a sua união se mantenha secreta, eles recebem visitas do mundo invisível e, infelizmente, são as larvas, os elementais, que vêm regalar-se à sua custa e absorver tudo, uma vez que nessas efusões quase não existiam elementos para a alma, para o espírito, para o lado divino.
Eis por que as trocas que os amantes fazem raramente lhes trazem grandes benefícios; pelo contrário, eles até se empobrecem: no seu olhar, no brilho dos seus olhos, nos seus movimentos e em toda a sua maneira de ser, aparece algo que já não é tão vivo e luminoso. É porque o seu amor, ainda muito inferior, atraiu criaturas tenebrosas. Por que é que eles não convidaram antes os espíritos da natureza e, até, os anjos e todos os espíritos luminosos, que também têm necessidade de se alimentar?
Quando um mago quer fazer uma cerimónia, começa por traçar um círculo em redor de si próprio para se proteger, e os espíritos malfeitores, embora lá estejam, rondando-o, ameaçando-o, procurando prejudicá-lo, não conseguem entrar, porque dentro do círculo o mago está protegido deles como se estivesse numa fortaleza. Mas nunca ninguém ensinou os homens e as mulheres a protegerem-se das entidades tenebrosas, e foi isso que um dia me levou a dizer algo muito ousado: na origem de todos os males da humanidade está o amor inferior dos homens e das mulheres. Sim, as guerras e as epidemias acontecem por causa de todos aqueles que fazem amor como os animais, de maneira estúpida, repugnante, infernal, pois desse modo eles fornecem os materiais necessários aos espíritos desejosos de fazer mal à humanidade, eles alimentam-nos e reforçam-nos. Se os homens e as mulheres soubessem isso, ficariam tão tristes,
sentir-se-iam tão infelizes com as coisas que fazem, que procurariam aprender a amar.