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As Leis da Moral Cósmica

Autor:Aïvanhov, Omraam Mikhaël

19.00

Informação adicional

Peso400 g
ISBN

978-989-8994-45-5

Ano

2023

Edição

1

Idioma

Formato

145×210

Encadernação

Cartonada

N. Pág.

320

Colecção

Categorias: , ID do produto: 24080
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Os agricultores foram os primeiros moralistas. Quando não semeiam, não esperam fazer uma colheita, e se plantarem alfaces, sabem que não colherão cenouras. Então, porque é que um homem que semeia ódio e discórdia espera colher amor e paz? Para se ter um palácio de mármore, não se usa tijolos. Para se ter um corpo saudável, não se consome alimentos podres. Então, como se pode ter uma psique sólida e resistente, uma inteligência clara e um coração generoso, se se está sempre envolto em pensamentos e sentimentos desordenados, envenenados pela ganância ou pelo rancor? Há que fazer uma triagem nos pensamentos e nos sentimentos, como se faz relativamente à comida ou na construção de uma casa… As leis que regem o nosso psiquismo são as mesmas que foram descobertas noutros domínios da Natureza e da técnica. A moral não foi inventada pelos homens nem pelas sociedades, está inscrita em toda a Natureza, é o prolongamento das leis naturais no nosso psiquismo.

V
A LEI DA AFINIDADE: A PAZ

Todos os homens procuram a paz: a paz nas famílias, a paz nas sociedades, a paz entre os diferentes países e, apesar dos seus esforços, não conseguem obtê-la. Quanto à paz interior, nem vale a pena falar!

As pessoas não estão em paz, mesmo que vão sozinhas para a floresta ou para o alto de uma montanha. Porquê? Porque levam na cabeça o seu “transístor”, que está permanentemente ligado. E, muitas vezes, esse “transístor” está sintonizado nos postos do Inferno – porque o Inferno também tem as suas “emissões” – e então ouvem uma grande algazarra, uma grande cacofonia! No entanto, estão num ambiente de calma, de tranquilidade, de silêncio… Sim, exteriormente existe tranquilidade, mas interiormente está tudo frenético, porque o “transístor” está a receber, a captar, ou então elas continuam mentalmente as suas discussões com a mulher, o marido, a sogra, o patrão… A paz é uma das coisas mais difíceis de obter, pois para isso é necessário ter uma grande ciência.

O organismo humano representa um microcosmos construído exatamente à imagem do macrocosmos (o Universo), ou seja, entre o homem e o Universo existem correspondências. Toda a Ciência Esotérica está baseada na lei das correspondências. O homem é infinitamente pequeno, o Cosmos é infinitamente grande, mas entre o infinitamente pequeno e o infinitamente grande há uma correspondência total; cada órgão do nosso corpo está em afinidade com uma região do Cosmos. Não vamos pensar, evidentemente, que o Cosmos tem órgãos como os nossos, mas, na sua essência, os nossos órgãos e os órgãos do Cosmos têm algo de idêntico. Há, de facto, uma correspondência absoluta entre eles e, pela lei da afinidade, podemos estabelecer contacto com as forças do espaço, os centros e os mundos, que correspondem a certos elementos que em nós existem. Este conhecimento das correspondências abre-nos possibilidades incríveis. O corpo físico é constituído por um grande número de órgãos ligados entre si; cada um faz o seu trabalho específico, mas todos têm de estar em harmonia, em sintonia, senão surgem desordens, ocorre aquilo a que, em música, se chama dissonâncias. Quando todos os órgãos fazem o seu trabalho desinteressadamente, para o bem de todo o organismo, o homem tem saúde e vive em paz. Mas este bem-estar, esta paz, ainda são só etapas puramente físicas. Para se obter a paz da alma e do espírito, é preciso ir muito mais acima, é necessário que todos os elementos que constituem o organismo psíquico vibrem em uníssono, sem egoísmos, sem divisões, sem preconceitos, tal como os órgãos do nosso corpo físico, quando estamos com saúde. Para obtermos a paz e a harmonia, temos de conseguir elevar-nos muito alto. Mas, como esses estados estão, ainda assim, dependentes do nosso corpo físico, e os mínimos inconvenientes que neste ocorrem podem ter repercussões psíquicas, para que a paz possa verdadeiramente instalar-se é preciso que reine a harmonia em todos os planos.1

A paz como geralmente é compreendida ainda não é a verdadeira paz. Durante alguns minutos, não se sente interiormente qualquer agitação ou perturbação, mas isso ainda não é a paz, pois não é um estado duradouro. Ora, a verdadeira paz, uma vez instalada, não pode ser perdida. Sim, a paz não é simplesmente sentir-se tranquilo e sem preocupações durante uns momentos, é algo muito mais profundo, muito mais vasto, é já o resultado de um conjunto de elementos. Numa orquestra, quando todos os elementos estão perfeitamente afinados e todos os músicos seguem as diretrizes do maestro, o resultado é uma harmonia perfeita. No ser humano, a paz também é a consequência de uma sintonia perfeita entre todos os elementos, todas as forças, pensamentos e sentimentos… Esta paz profunda, inexprimível, é muito difícil de obter, porque para isso é preciso ter vontade, amor e um grande saber. Quando o discípulo começa a aprender e a compreender a Natureza, e as propriedades dos elementos que absorve nos domínios físico e psíquico, quando ele cuida de nunca introduzir em si seja o que for que possa perturbar a harmonia e consegue, finalmente, eliminar do seu corpo físico, dos seus pensamentos e dos seus sentimentos, tudo o que não vibra em uníssono, então sim, obtém a paz. Se fumardes ou comerdes e beberdes seja o que for, introduzireis no vosso organismo certos elementos nocivos que vos fazem ficar doentes; e se tiverdes dores de dentes, cólicas ou palpitações do coração, como podeis ter paz? Introduzistes em vós partículas que fecham ou obstruem a circulação, e é preciso eliminá-las. Esta lei também existe no domínio psíquico: enquanto o homem ignorar a natureza dos sentimentos, dos pensamentos, das paixões, dos instintos, e os respirar e se alimentar deles sem saber se lhe farão bem ou mal, nunca terá paz.

A paz é, pois, a consequência de um saber preciso sobre a natureza dos elementos. E depois, claro, como vos disse há pouco, é necessária uma grande atenção, a vontade de nunca introduzir ou deixar que se introduzam elementos perturbadores. Quando conseguirdes ser sensatos, prudentes, quando conseguirdes estar alerta, vigilantes, para protegerdes o vosso reino, o reino que vós próprios representais, então, e só então, podereis obter uma paz duradoura e estável. E que paz será essa? Uma felicidade indescritível, uma sinfonia ininterrupta, um estado de consciência sublime em que todas as células estão banhadas num oceano de luz, nadam nas águas-vivas e se alimentam de ambrósia. Viveis então numa tal harmonia, que o Céu vem refletir-se em vós e começais a ver todos os esplendores que antes vos tinham escapado por causa da vossa perturbação, da vossa agitação, que impediam o vosso olhar interior, e até o olhar exterior, de se fixarem nas coisas para as ver.

Só a paz permite ver e compreender as presenças subtis, e é por isso que os Iniciados que começam a saborear a verdadeira paz descobrem as maravilhas do Universo. Os outros, agitam-se, correm de um lado para o outro, tão inquietos, tão atormentados, que não têm tempo para ler e decifrar esse livro que existe à sua volta, que está neles, e atravessam a vida sem ver nada. Na realidade, a paz não pode surgir em vós enquanto todo o vosso ser não conseguir vibrar em uníssono com uma ideia sublime, desinteressada. Jamais conhecereis a paz enquanto não introduzirdes nas vossas células, em todo o vosso ser, pensamentos de amor, quer dizer, de indulgência, de generosidade, de perdão, de abnegação… pois são os únicos que trazem a paz. Se tendes qualquer coisa a censurar ao vosso vizinho, se não conseguis perdoar-lhe e dais cabo da cabeça a magicar em como haveis de vingar-vos… ou se uma pessoa vos pediu dinheiro emprestado e estais constantemente a pensar que ela tem de pagar-vos, não podeis ter paz, porque tudo isso são pensamentos demasiado pessoais, demasiado egoístas. Mesmo que estejais tranquilos durante alguns minutos, ou algumas horas, isso ainda não é a paz, é um pouco de repouso, uma acalmia (e essa paz até os malvados podem tê-la), mas depois ficais novamente presos em estados horríveis. A verdadeira paz é um estado espiritual impossível de perder, depois de ter sido obtido.
Quando tendes o desejo de cumprir a vontade de Deus, ou seja, de amar todos os homens, de os servir, de os compreender, essa ideia faz vibrar em uníssono todas as partículas do vosso ser, e então, sim, podeis sentir paz. E quando conseguis obter essa paz, ela segue-vos por toda a parte: tiveste-la ontem e hoje aí está ela de novo, durante todo o dia… E no dia seguinte, quando acordardes, lá estará ela novamente, e ficareis surpreendidos ao verificar que nem sequer precisais de esforçar-vos para recuperá-la. Antes, só conseguíeis apaziguar-vos depois de terdes passado imenso tempo a concentrar-vos, a orar, a cantar ou até a beber qualquer coisa; agora, isso já nem sequer é necessário.

Entre o homem e o Universo, entre o microcosmos e o macrocosmos, existe, pois, uma correspondência absoluta, mas, pela sua maneira de viver, o homem rompeu essa correspondência, já não está em relação ideal, perfeita, com o macrocosmos, com Deus. É esta relação que ele deve esforçar-se por restabelecer. E pode fazê-lo, pois, quando saiu das oficinas do Senhor, recebeu tudo o que precisava para se desenvolver e reencontrar, caso se perdesse, o caminho para a sua pátria celeste. Quando uma criança vem ao mundo, nada lhe falta; pode ter o coração ligeiramente deslocado para o lado direito, ou o estômago demasiado pequeno, ou os rins a funcionar mal, mas tem coração, estômago, rins, pulmões, etc., nada lhe falta. De igual modo, todos os espíritos que vêm encarnar-se na terra possuem órgãos e instrumentos que correspondem a todas as qualidades e virtudes que existem em cima, no Céu2 , e sendo assim podem fazer tudo; progressivamente, é claro, e desde que conheçam as leis.

E que leis são essas? Imaginai que tendes dois diapasões absolutamente idênticos: se fizerdes vibrar um, verificareis que o outro, mesmo sem lhe tocardes, também começa a vibrar. Diz-se que houve ressonância. Toda a gente conhece este fenómeno, mas as pessoas não se focam nele para o aprofundarem e compreenderem que o mesmo acontece com o ser humano. Se ele conseguir afinar o seu ser físico e psíquico com as vibrações do Universo, pode atingir as forças celestes para entrar em relação com elas e, desse modo, receber ajuda e consolo. Sim, é uma maneira de comunicar. Vós falais e sois ouvidos; podeis, até, provocar certas forças, para as atrairdes até vós e beneficiardes com isso. Tendes, pois, a possibilidade de entrar em relação com todas as regiões do Universo que desejardes, e foi justamente nessa relação, nessa troca, que Deus colocou as maiores possibilidades de aperfeiçoamento para o homem.

Questionareis: «Mas como é que harmonizamos o nosso organismo? Há tantos detalhes a ter em consideração!» Não vos inquieteis, isso sucederá por si mesmo. Se cultivardes o amor, a abnegação, a indulgência, a largueza de espírito, o organismo começará a harmonizar-se por si mesmo, porque trabalhais com forças que, automaticamente, harmonizam tudo o resto. Quando um homem desarranjou o seu sistema nervoso, fê-lo conscientemente? Será que ele sabia exatamente onde e como ia provocar uma desordem? Não, mas, ao introduzir em si mesmo pensamentos e sentimentos bizarros, desarranjou tudo. Para isso não precisou de conhecer a localização exata de todos os centros nervosos. Do mesmo modo, conseguireis harmonizar o vosso organismo trabalhando com pensamentos e sentimentos superiores, que farão vibrar harmoniosamente todos os vossos centros espirituais.

Certas pessoas lamentam-se constantemente de que a vida não tem sentido e afirmam que Deus não existe. Mas não é por essas pessoas serem estúpidas, infelizes e doentes, que não existem no mundo seres inteligentes, felizes e saudáveis. Sim, o seu raciocínio é que está errado… Mas suponhamos que vós estais infelizes, angustiados, e que nada vos corre bem. Que fazer? Pois bem, ao invés de ficardes a chorar e a andar de um lado para o outro, porque não procurais certos seres que podem ajudar-vos? Replicareis: «Mas onde é que eles estão? Onde se pode encontrá-los?» Eles estão sempre disponíveis e podeis dirigir-vos a eles e contactá-los, por intermédio do pensamento, graças à lei acústica da ressonância ou, como lhe fazê-las vibrar, sabendo que haverá forças, entidades e regiões que responderão.

Tenho-vos referido muitas vezes esta lei acústica do eco. Vós dizeis: «Eu amo-te…», estais sozinhos, mas ouvis uma multidão de vozes que vos respondem: «Eu amo-te… eu amo-te… eu amo-te…» E se disserdes: «Eu detesto-te…», o eco também o repete. Se isto é uma realidade no plano físico, porque não haveria de ser também uma realidade no plano do pensamento?

Pegai numa bola e lançai-a contra uma parede. Se não vos afastardes, ela volta e vai de encontro a vós. Trata-se de uma lei análoga à do eco: a lei do ricochete. Também neste caso se trata de uma lei conhecida no plano físico, mas as pessoas nunca pensam que ela também existe no domínio psíquico. Seja o que for que façais, de bem ou de mal, um dia isso terá necessariamente repercussão em vós. Cada sentimento que tendes é de uma determinada natureza e vai despertar no espaço formas da mesma natureza, que se dirigem para vós em virtude da lei da afinidade. Se o vosso sentimento for mau, o resultado será mau; se ele for bom, recebereis algo igualmente bom. É graças a esta lei que se pode atrair dos grandes reservatórios do Universo tudo o que se quiser, mas somente se se projetar pensamentos e sentimentos da natureza daquilo que se deseja. São estes pensamentos e estes sentimentos que determinam em absoluto a natureza dos elementos e das forças que serão despertadas muito longe, algures no espaço, e que, mais cedo ou mais tarde, chegarão até vós.

Para mim, esta lei da afinidade é a maior das chaves, o maior dos arcanos, a varinha mágica. Foi nela que baseei a minha vida. Conhecendo esta lei, trabalho num determinado sentido, pensando em tudo o que de melhor e de mais belo existe para mim, e aguardo os resultados. Muitas coisas já chegaram, outras chegarão mais tarde. Trabalho apenas com base nesta lei, pois ela abarca todas as outras. Graças a ela, posso explicar-vos tudo: a estrutura dos humanos, a sua inteligência e a sua estupidez a sua bondade e a sua maldade, as suas desgraças e as suas venturas, a sua riqueza e a sua miséria, tudo.

Reparai como as coisas se passam com os peixes, no mar. O mar contém todos os elementos químicos, todos os minerais; um dado peixe atrai uma dada partícula, e forma-se um corpo que é belo, colorido, fosforescente, mas um outro atrai outras partículas, que lhe dão um corpo feio e sem brilho. É claro que isto não se passa ao nível consciente, mas cada peixe atrai os elementos do mar que correspondem à sua natureza. O mesmo se passa connosco. Somos como peixes mergulhados num oceano etérico e, como este oceano tem todos os elementos que foram disseminados pelo Criador, tornamo-nos isto ou aquilo consoante os elementos que atraímos para formar o nosso corpo. É assim que tudo se explica. Por exemplo: uma pessoa que é feia, infeliz, que está sempre doente; isso não advém desta encarnação, mas sim de encarnações anteriores, em que ela não foi instruída nem esclarecida, e, na sua ignorância, atraiu elementos deploráveis dos quais não sabe desembaraçar-se.

Atenção, pois, caros irmãos e irmãs! Vós, que conheceis esta lei da afinidade, que é a lei mágica mais formidável que existe, a base de toda a Criação, deveis começar imediatamente a trabalhar para atrair partículas de uma natureza tão luminosa que, em vós, tudo começará a restabelecer-se. E quando as pessoas que vos rodeiam começarem a ver que estais mudados, que vos tornastes mais simpáticos, mais irradiantes, mais inteligentes e, até, mais fortes, toda a gente começará a considerar-vos de outra maneira e o vosso destino mudará. Percebeis como na vida tudo está ligado? Mas se fordes ignorantes, se não conhecerdes as leis em que está baseada a existência, se estiverdes sempre a destruir, a saquear, é evidente que as forças da Natureza não poderão ajudar-vos durante muito tempo, serão obrigadas a abandonar-vos. Poderão ajudar-vos durante um certo tempo, mas, se continuardes a destruir e a arruinar tudo o que Deus vos deu, deixar-vos-ão. E depois passareis por grandes tristezas e aflições!

Infelizmente, há muitos homens e mulheres que chegaram a este ponto. Quantos não tenho eu encontrado! Nem sequer sabiam como tinham chegado àquela situação e, aliás, eu não conseguia explicar-lhes as causas, de tal forma tudo era obscuro e ilógico na sua cabeça: não viam nenhum sentido, nenhuma ordem, nada. Teria sido necessário recomeçar tudo desde o princípio, instruí-los durante anos… e, sobretudo, seria necessário que eles tivessem a boa vontade de escutar. Mas não a tinham, e não era em cinco minutos que eu poderia mostrar-lhes o encadeamento dos factos: onde e quando tinham começado a transviar-se, e como, pouco a pouco, chegaram a uma situação deplorável. Infelizmente, a maioria das pessoas não aceita, não quer reconhecer este encadeamento das causas e das consequências. Mesmo que se lhes mostre com argumentos e provas quase tangíveis, elas rejeitam. Na realidade, tudo o que ocorre na existência ou no Universo foi previamente preparado. Sim, deveis apontar isto, pois esta verdade também estará inscrita no Terceiro Testamento, com muitas outras, como um ponto irrefutável.

Portanto, não penseis que, mudando de apartamento, de amigos, de profissão, de livros, de país, de religião… ou de mulher, tereis paz. Se fosse assim tão fácil, eu teria sido o primeiro a fazê-lo. Mas não acredito que a paz dependa dessas mudanças, e não o acrediteis vós também. Talvez tenhais um breve momento de tranquilidade, uma pequena trégua, sim, mas logo a seguir, onde quer que estejais, sereis assaltados por outros tormentos, porque não compreendestes que a paz depende apenas de uma mudança na maneira de pensar, de sentir e de agir. Fazei essa mudança e, mesmo que continueis nos mesmos locais e com as mesmas dificuldades, estareis em paz. A verdadeira paz não depende exclusivamente do lado exterior, a verdadeira paz vem de dentro, brota, invade-vos, apesar das turbulências e das trepidações do mundo inteiro.3 É como um rio que vem do Alto. E quando tiverdes esta paz e fordes capazes de derramá-la, de expandi-la à vossa volta como algo real, vivo, quando fizerdes um trabalho sobre o mundo inteiro levando a paz aos outros, tornar-vos-eis um outro ser, subireis na hierarquia, sereis um filho de Deus, representareis Deus na terra, ou seja, por meio dessa correspondência, dessa afinidade absoluta, propagareis as mesmas virtudes, as mesmas bênçãos, as mesmas riquezas, os mesmos esplendores que existem no Alto.

Entretanto, para poderdes chegar a esta paz, precisais de preparar o terreno, quer dizer, pagar as vossas dívidas para ficardes libertos, a fim de que ninguém venha incomodar-vos reclamando qualquer coisa. Se tiverdes atrás de vós toda uma matilha de pessoas a procurar-vos porque lhes deveis, porque roubastes ou saqueastes, como quereis estar em paz? «Fugindo dos credores», direis. Mas como fugireis dos credores que em vós existem, os pensamentos que vos perseguem? Se raciocinais deste modo, é porque tendes falta de sabedoria e de verdadeiros conhecimentos; não vos deixeis enganar a vós próprios, o pensamento apanhar-vos-á sempre. Agora conheceis a verdade, caros irmãos e irmãs. Não tenhais ilusões e fixai bem na vossa cabeça todas estas grandes leis. Quando se conhece as afinidades que ligam as coisas entre si, é-se obrigado, mesmo que não se queira, a melhorar a sua maneira de viver.

Para mim, a palavra “afinidade” é uma das mais significativas que existem, uma palavra mágica! Porque é esta lei da afinidade que nos permite atrair do oceano cósmico os melhores elementos, os mais irradiantes, os mais subtis, para construirmos o nosso corpo da glória, o corpo da imortalidade, o corpo da luz, que existe em cada um de nós. Já vos falei deste corpo da glória noutras conferências e também vos disse como podemos construí-lo, formá-lo.4 Ele é mesmo mencionado nos Evangelhos, mas não se encontra informações a seu respeito. Todos temos em nós o corpo da glória em potencial, mas devemos formá-lo dando-lhe os materiais necessários.

Como é que a mãe forma o filho?… Comendo, bebendo, respirando, pensando, vivendo, ela dá-lhe materiais e a criança vai-se desenvolvendo progressivamente. É a mãe que o forma, mas não pode criá-lo. Nós também não podemos criar o Cristo em nós; é preciso que, primeiro, a nossa alma seja fertilizada para conceber o Cristo, e depois, tal como uma mãe, podemos formá-lo por intermédio de tudo o que emanamos de nós próprios, por tudo o que podemos viver de melhor.

Quando, de tempos a tempos, vivemos estados de consciência muito elevados, quando temos o desejo de ajudar o mundo inteiro, de trabalhar para o Senhor, de nos despojarmos, de fazermos algo nobre e grandioso, as partículas que então emanamos vão acrescentar-se ao nosso corpo da glória. É assim que podemos fazê-lo crescer: ele só pode ser formado com o melhor de nós mesmos. E se o alimentarmos durante muito tempo com a nossa carne, o nosso sangue, o nosso fluido, a nossa vida, um dia ele começará a brilhar, a irradiar e a tornar-se-á muito forte, muito poderoso, invulnerável, imortal, porque é formado por materiais que não enferrujam, não se oxidam, que são eternos, e faz maravilhas, primeiro em nós, e depois fora de nós. Portanto, por intermédio deste corpo da glória, deste corpo de luz, o Cristo pode fazer milagres.

Antes de ter formado em si este corpo, o homem não tem luz, é apagado, fraco, vulnerável, doentio; no entanto, cada um traz em si um germe do Cristo, que pode desenvolver. E assim voltamos à lei da afinidade. O discípulo deve, pois, conseguir superar-se, ir mais além, para atrair as partículas mais puras, mais luminosas, do oceano etérico, e acrescentá-las ao seu corpo da glória. Pode obtê-las desde já, inicialmente em pequena quantidade, depois cada vez mais, dia após dia. Aliás, é isso que nós aqui fazemos todas as manhãs, no nascer do Sol: afastamo-nos da Terra e ligamo-nos ao Sol, para obtermos algumas partículas muito luminosas que acrescentamos ao nosso corpo da glória. Eis mais uma parcela do verdadeiro saber.
Eu trabalhei, durante anos e anos, unicamente com a intenção de ver, de compreender a estrutura do edifício que é o Universo. Sim, durante anos… Era a única coisa que me interessava, e desdobrei-me durante dias e noites a fio, para ter uma visão clara desta estrutura, das ligações que existem entre todos os elementos. Eu sabia que tudo o resto não tinha importância. O essencial era ver a estrutura. Por isso, enquanto os humanos se limitarem a estudar tudo o que está disperso no plano físico, no mundo dos factos, as conclusões a que chegarem serão sempre erradas. Só elevando-se até ao mundo das leis e dos princípios, para contemplarem essa estrutura, é que terão a visão clara de todo o conjunto, como eu tive. Demorei anos, mas hoje possuo-a, e é por isso que posso instruir-vos, esclarecer-vos, aconselhar-vos: porque tenho sempre como referência esse modelo de perfeição.

Ainda ninguém, ou quase ninguém, reconhece o valor desta filosofia. Mas não será sempre assim. Existem forças mais poderosas do que os homens que, um dia, os obrigarão a reconhecer o valor deste Ensinamento. Confio absolutamente que assim será, e por isso não me preocupo. Vivo com a convicção de que, mais cedo ou mais tarde, cada coisa estará no seu devido lugar. Por enquanto, na terra está tudo ao contrário: o que tem valor é abafado, e o que não tem qualquer valor está em primeiro lugar. Notai: aquilo a que se dá valor é ao ouro, às joias, às casas, aos automóveis. E às ideias divinas?… Nenhum valor! Ora, é precisamente o contrário daquilo que eu vi no edifício cósmico. No Alto, em primeiro lugar, está uma ideia divina, uma verdade. É isso que se considera no Alto: uma ideia. O resto vem depois. Os humanos inverteram tudo: põem em primeiro lugar o que para a Inteligência Cósmica está em último, e inversamente. Mas não será assim para sempre, pois existe uma lei da correspondência segundo a qual a beleza interior também deve estar revestida exteriormente com uma bela aparência, e a fealdade interior envolta em fealdade exterior. Assim decidiu a Inteligência da Natureza.5

Evidentemente, no mundo humano, na maioria dos casos, as coisas passam-se ao contrário; os homens com mais vícios e mais diabólicos é que estão rodeados de tudo o que existe de mais rico e mais sumptuoso, e aqueles que têm as maiores qualidades, pelo contrário, não possuem nada do que corresponde a essas qualidades. Como não cobiçam nada, não fazem nada para se apoderar das riquezas de que não dispõem, e então possuem apenas algumas coisas sem importância no plano físico; exteriormente, nada corresponde a todo o esplendor que neles existe.

No passado longínquo, quando a verdadeira ordem das coisas era respeitada, todos aqueles que eram pobres interiormente eram pobres exteriormente, e os que eram ricos interiormente também o eram exteriormente. Tal como o Senhor. O Senhor, que possui todas as qualidades e virtudes, possui também toda a riqueza do Universo. Só aqui, entre os humanos, é que não existe essa ordem. Mas, como a lei é absoluta – tudo o que está em baixo deve ser como o que está em cima –, um dia existirá uma outra disposição das coisas, e cada um encontrará o seu lugar: os que são ricos em inteligência, bondade, nobreza, terão todas as riquezas exteriores, e aqueles que não tiverem estas qualidades nada possuirão. Evidentemente, não serão os humanos que restabelecerão esta ordem, pois eles não sabem quem merece e quem não merece. Isso será obra da Inteligência Cósmica, pois a lei das correspondências é uma lei absoluta no Universo.

Com esta chave que hoje vos dei, podeis reconstruir tudo em vós, produzindo, com os vossos pensamentos e os vossos sentimentos, vibrações e emanações muito mais elevadas, que irão procurar, no espaço muito longínquo, entre milhares de elementos, aqueles que lhes correspondem. Com a lei da afinidade, pode-se fazer tudo, mas é preciso saber e, sobretudo, persistir. Alguns de vós vêm falar comigo, queixando-se nestes termos: «Mestre, há anos que trabalho, que oro, que medito, e não tenho qualquer resultado!» Como estais enganados! Falar assim é não ter compreendido nada deste Ensinamento extraordinário.

Há uma coisa que deveis saber, é que para se obter resultados materiais pelo trabalho espiritual é necessário muito tempo.6 Sinto que, por vezes, deveis pensar em relação a mim: «Ele diz que faz um trabalho, mas onde é que estão os resultados? Não se vê nada…» Sim, talvez por agora não se veja, mas isso é porque eu não gosto de empreender coisas fáceis e rapidamente realizáveis. Lancei-me naquilo que existe de mais difícil e que demora mais a realizar. Se quisesse coisas fáceis, elas seriam visíveis muito mais rapidamente e até já se teriam realizado, tal como certas plantas que, em poucos meses, começam a dar frutos. Sim, mas as minhas plantas são de uma natureza tal, que precisam de muito mais tempo para crescer e dar frutos, mas oh que frutos!

Só o que é muito difícil, quase irrealizável, me interessa e me atrai. Porque é que se há de pedir aquilo que é fácil e que não dura? Só vale a pena trabalhar para qualquer coisa cujo esplendor ultrapasse a imaginação. Considerai o caso de alguém que dedica cinco ou seis anos da sua vida a preparar-se para ser médico, engenheiro ou químico. Cinco ou seis anos é pouco! Porque é que as pessoas não hão-de concentrar-se numa qualidade que só conseguirão desenvolver verdadeiramente após vários séculos? A inteligência divina, a beleza celeste, o autodomínio perfeito, por exemplo… Julgais que podeis obter um diploma de autodomínio em quatro ou cinco anos? Pois bem, é a estas coisas que as pessoas devem agarrar-se: àquilo que é difícil. Um diploma de manicura ou de pedicura obtém-se em alguns meses; isso é fácil, demasiado fácil…

Convido, pois, os humanos a entrarem noutros domínios, a empreenderem outras atividades, outros estudos, e ver-se-á se em cinco, seis ou dez anos eles terão obtido diplomas. São necessários séculos para se ser bem-sucedido em empreendimentos desta natureza. Sim, mas vale a pena!

Le Bonfin, 10 de agosto de 1968

Notas:
1. Cf. Harmonia e saúde, Col. Izvor n.° 225.
2. Cf. Centros e corpos subtis – aura, plexo solar, centro Hara, chakras… Col. Izvor n° 219.
3. Cf. A via do silêncio, Col. Izvor n.° 229, cap. II: «A realização do silêncio interior», cap. VII: «A harmonia, condição para o silêncio interior» e cap. IX: «Procura do silêncio, procura do centro».
4. Cf. «No começo era o Verbo» – comentários aos Evangelhos, Obras completas, t. 9, cap. XIII: «O corpo da ressurreição».
5. Cf. «Connais-toi toi-même» – Jnani yoga, Œuvres complètes, t. 18, cap. I: «La beauté».
6. Cf. A fé que move montanhas, Col. Izvor n.° 238, cap. XIII: «Rabota, vrémé, véra: o trabalho, o tempo, a fé»

Índice:

I Como semeardes, assim colhereis………………………………… 9
II A importância da escolha Procurar o trabalho e não o prazer… 33
III A atividade criadora como meio de evolução ………………… 37
IV A justiça……………………………………………………………………. 65
V A lei da afinidade: a paz ……………………………………………… 95
VI A lei da afinidade: a verdadeira religião………………………… 113
VII Leis da Natureza e leis morais……………………………………… 129
VIII A reencarnação ………………………………………………………….. 151
IX Não pareis a meio caminho!………………………………………… 187
X Saber utilizar as suas energias……………………………………… 197
XI Como obter a quintessência…………………………………………. 203
XII A moral da nascente …………………………………………………… 215
XIII Porque se deve procurar modelos no Alto …………………….. 227
XIV Pelos seus pensamentos e pelos seus sentimentos, o homem é criador no mundo invisível… 237
XV Não corteis a ligação …………………………………………………. 247
XVI «Se és luz, irás rumo à luz»………………………………………… 265
XVII A questão do duplo. Os novos registos …………………………… 271
XVIII A moral assume toda a sua importância no além…………….. 281
XIX O melhor método pedagógico: o exemplo………………………. 293
XX «Se alguém te bater numa face» …………………………………….. 303