ESGOTADO TEMPORARIAMENTE
O Mestre Omraam Mikhaël Aivanhov (1900-1986) nasceu na Bulgária. Em 1937 partiu para França, onde transmitiu o essencial do seu ensinamento.
Aquilo que nos espanta, desde a primeira abordagem, na sua obra, é a multiplicidade de pontos de vista sob os quais é apresentada esta única questão: o homem e o seu aperfeiçoamento. Qualquer que seja o tema abordado, ele é invariavelmente tratado em função do homem, em tunção do uso que este pode fazer desse tema, para uma melhor compreensão de si mesmo e uma melhor conduta na sua vida.
«Quando se fala do ser humano, é preciso saber que se está perante uma criatura que, sendo uma, tem uma dupla natureza, inferior e superior. Assim, falar da natureza humana em si não tem muito sentido. Quando, para justificar maneiras de agir deploráveis, de diz «É humano!», na realidade isso significa, muito simplesmente: «É animal!». Na realidade, a natureza dita “humana” é só a natureza inferior, uma herança do reino animal da qual todos temos registos em nós, ninguém está livre desta herança.
A diferença entre os seres é que em alguns surge a necessidade de dominarem essas tendências animais, pois sentem que a sua verdadeira natureza é a natureza divina, que é como uma chama neles, que devem preservar e alimentar.»
IV
COMO ESCAPAR ÀS LIMITAÇÕES DA NATUREZA INFERIOR
Todas as fraquezas têm a sua raiz na personalidade. Por isso, é inútil ocupardes-vos das vossas fraquezas, pois, para corrigirdes apenas uma, necessitaríeis de uma vida inteira. E mesmo assim!… Deveis ocupar-vos da raiz, da personalidade, porque é ela que as alimenta todas. E a personalidade caracteriza-se pelo egocentrismo. Quando se entrega à personalidade, o homem só se ocupa de si próprio, não vê mais ninguém, toma-se pelo centro do Universo, acha que todos devem satisfazê-lo, girar à sua volta, olhá-lo com amor, perguntar-lhe se precisa de alguma coisa.
Reparai no que se passa com os namorados. Se o rapaz não olhou para a sua amada (ou inversamente), ela fica furiosa: «O quê? Ele faz-me isto! Nem sequer olha para mim, não vem falar comigo, não vem ver-me!» Para ela, não importa que ele não tenha tempo, que esteja cansado, ela não pensa nele; e lá começam as censuras. A personalidade não tem generosidade nem piedade. Ela é que deve possuir tudo, absorver tudo, e, como nunca está saciada, não só é ingrata, como se ofende quando não lhe dão mais. Esta necessidade de receber, de se apropriar, de possuir, está na origem de toda a espécie de tendências perniciosas: a revolta, o ciúme, a crueldade, a vingança.
Enquanto a sua personalidade tiver tanta preponderância, o homem viverá sempre atormentado, porque encontrará sempre alguém que não lhe dá a consideração que ele pretende, que não anda à sua volta, que recusa inclinar-se perante ele ou que não o reconhece como um ás, um génio, uma divindade… Todos as infelicidades do homem advêm do facto de ele alimentar a tal ponto a sua natureza inferior, que ela se torna como uma montanha que lhe barra a entrada do Reino de Deus.
Jesus disse: «É mais fácil a um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a um rico entrar no Reino de Deus.» Nunca se explicou muito bem porque é que Jesus escolheu esta imagem do camelo, mas eu quis compreender e diverti-me a procurar. Sim, vede bem os meus divertimentos. Eu também me divirto! As pessoas dizem sempre: «Divirtam-se!» Então, eu divirto-me, realizo os bons desejos dos outros. Diverti-me a perguntar: «Ora bem, o que é que caracteriza o camelo?», e descobri que é a reduzida extensão do seu corpo astral, porque o camelo é sóbrio, atravessa o deserto sem beber nem comer durante vários dias. Ao passo que o corpo astral de um rico é enorme, inchado, porque ele quer absorver o mundo inteiro. É por isso que não passa na porta do Reino de Deus, onde só podem penetrar aqueles que souberam dominar os seus apetites, as suas cobiças. Foi neste sentido que Jesus falou, senão seria disparatado: como é que um camelo, com um corpo tão grande, poderia passar pelo buraco de uma agulha, enquanto um rico, que pode ser muito magro, não conseguiria passar pela porta do Reino de Deus?
A personalidade dos seres humanos está tão inchada porque a instrução, a educação que lhes dão os impele sempre a desenvolverem a sua natureza egoísta, e agora ela é como um tumor gigantesco nas criaturas: já não se pode tocar-lhes, já não se pode dizer ou fazer seja o que for sem provocar reações doentias. Isto não é normal; é preciso que eles aprendam a desenvolver a sua individualidade, que se esqueçam um pouco de si próprios, que se coloquem na situação dos outros, dizendo: «Se ele não veio trazer-me isto, ou aquilo, talvez seja porque está ocupado, fatigado, doente…» e que, em vez de ficarem a remoer, ruminando ideias de vingança, fiquem calmos, numa atitude sensata.
Se a educação fosse dirigida por sábios, por Iniciados, eles ensinariam métodos para desenvolver a natureza superior no homem, a sua individualidade, que instruídas, o que lhes desenvolve a personalidade.1 Então, cada um procede como se só ele existisse: toma-se pelo centro do Universo e pretende que o mundo inteiro o sirva. Como quereis que, com esta mentalidade, as pessoas possam continuar a viver em conjunto? Por todo o lado há contestações, revoltas, desordens, por causa deste desenvolvimento exclusivo da personalidade. E a culpa é das escolas e das universidades, que orientaram a instrução numa direção errada. Se eu tivesse – suponhamos! – responsabilidades no domínio da educação, daria uma outra orientação à instrução das crianças e dos jovens, e tudo mudaria… Ao fim de alguns anos, é certo, mas tudo mudaria.e é generosa, desinteressada, impessoal. Agora já não se educa as crianças, elas apenas são instruídas, o que lhes desenvolve a personalidade.1 Então, cada um procede como se só ele existisse: toma-se pelo centro do Universo e pretende que o mundo inteiro o sirva. Como quereis que, com esta mentalidade, as pessoas possam continuar a viver em conjunto? Por todo o lado há contestações, revoltas, desordens, por causa deste desenvolvimento exclusivo da personalidade. E a culpa é das escolas e das universidades, que orientaram a instrução numa direção errada. Se eu tivesse – suponhamos! – responsabilidades no domínio da educação, daria uma outra orientação à instrução das crianças e dos jovens, e tudo mudaria… Ao fim de alguns anos, é certo, mas tudo mudaria.
ÍNDICE
I. Natureza humana… ou natureza animal?
II. A natureza humana, reflexo invertido da natureza superior
III. À procura da nossa verdadeira identidade
IV. Como escapar às limitações da natureza inferior
V. O sol, símbolo da natureza divina
VI. Explorar os recursos da natureza inferior, dominando-a
VII. Aperfeiçoar-se é dar à natureza superior cada vez mais condições para se manifestar
VIII. A voz da natureza divina
IX. O homem só pode desenvolver-se servindo a sua natureza superior
X. Como favorecer as manifestações da natureza superior em si e nos outros
XI. O retorno do homem a Deus