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O HOMEM À CONQUISTA DO SEU DESTINO

10.00

Informação adicional

Peso200 g
ISBN

978-989-8691-10-1

Ano

2014

Edição

1

Idioma

Formato

110 x 180

Encadernação

Cartonada

N. Pág.

198

Colecção

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SINOPSE:

«Por causa dos erros que cometeu nas suas incarnações anteriores, o homem tem de sujeitar-se ao seu destino; os hindus dizem que há um “carma” a pagar. Mas isso não significa que ele não possa reagir. Pelo contrário, ele deve combater com as armas do amor e da luz, para triunfar sobre o seu destino e ficar sob a alçada da Providência. Já não há destino para o homem que conseguiu viver no amor e na luz.
Ele mudou de plano, as leis já não são as mesmas.
Seja o que for que vos aconteça, deveis sempre manter a consciência de que existe em vós uma região inatacável, inacessível: o vosso espírito. É aí que deveis refugiar-vos para trabalhar. Então, mesmo que o carma vos atormente, vós sentis-vos acima dele, sempre acima: o carma quer limitar-
-vos, vós libertais-vos; ele quer tornar-vos sombrios, vós iluminais-vos…»

Omraam Mikhael Aivanhov

VI Capítulo

AS LEIS DA NATUREZA E LEIS MORAIS

Quando se observa os humanos, constata-se que eles não têm a noção da medida certa, nem
nas suas escolhas, nem no seu comportamento: ou se empanturram sem parar ou, pelo contrário, não comem o suficiente, e em ambos os casos minam a sua saúde; ou, então, trabalham demasiado e esgotam-se, ou não trabalham e “enferrujam”, acontecendo o mesmo com o sono, as distrações, os sentimentos, os pensamentos… Para explicar estas anomalias, dir-se-á que eles “passaram das marcas”, que transgrediram leis que deveriam conhecer e respeitar.
Existem leis físicas que regem o funcionamento do nosso organismo e também a própria natureza;
os humanos talvez não as respeitem, mas ao menos admitem a sua existência, o que não acontece com as leis morais. Hoje em dia são raros os que aceitam reconhecê-las; e, apesar de ainda restar uma pequena crença no valor de uma certa ordem das coisas, a maioria dos escritores, dos filósofos, dos artistas ou dos cientistas emite teorias, escreve livros ou cria obras cujo único objetivo é varrer este resto de crença. É justamente sobre estas leis que eu quero falar, pois sem o reconhecimento delas falta algo ao saber humano, algo essencial.
Na realidade, não é difícil constatar que as leis morais pertencem a um mundo que não está
separado do mundo físico. Tomemos como exemplo um alcoólico. Inicialmente, ele era um homem
delicado, simpático, culto, atento, honesto, generoso, nenhuma qualidade lhe faltava. Mas, a partir
do momento em que começou a beber, todas estas qualidades se foram perdendo e acabaram
por desaparecer. Consideremos outro exemplo: um homem tem a paixão do jogo ao ponto de descurar os seus deveres e esquecer que tem mulher, filhos, emprego… Inicialmente, o jogo era uma atividade que nada tinha a ver com a moral, mas acabou por ser o domínio moral a sofrer as consequências.
Como é que os humanos não viram as correspondências que existem entre estes dois mundos? Eles
só acreditam no lado material; muito bem, o lado material tem importância, mas o domínio moral,
o domínio interior, está estreitamente ligado a ele.
Para a Ciência Iniciática, existem três mundos: o mundo divino, que é o das ideias, o mundo psíquico, que é o dos pensamentos e dos sentimentos – é justamente esse o mundo moral – e, finalmente, o mundo físico, que é o das formas e da concretização. O mundo material está ligado ao mundo moral, que, por sua vez, está ligado ao mundo das ideias, situado a um nível muito mais elevado. Se os humanos não veem estas relações é porque não estudaram nem observaram bem as coisas, e, enquanto esta lacuna não for preenchida, advirão sempre daí consequências desastrosas para eles.
Mesmo que se ignore as leis morais, quando se começa a transgredi-las é-se obrigado a suportar as
consequências dessas transgressões, que podem ser de maior ou menor gravidade; é então que se percebe que este domínio moral também tem as suas leis, mas muito mais subtis do que as leis físicas, pois elas não estão inscritas apenas no organismo, mas também na alma e no espírito do homem.
Aquele que não as respeita vê-se acusado, pelos outros, de ser egoísta, individualista; em breve se
sente privado de apoio e de amizade e, seja qual for a transgressão que cometeu, tem de pagar. Como?
De todas as maneiras: com remorsos, sofrimentos, desgostos, deceções, amarguras e, talvez, também com dinheiro. Podereis constatar isto em qualquer domínio.
Tudo tem nexo, tudo está interligado; o mundo moral é regido por leis imutáveis e irredutíveis que
é necessário conhecer. O homem não dá importância a estas leis, porque elas não estão escritas, e
acredita que tudo lhe é permitido. Não! Enquanto ele não compreender que estas leis existem, não
poderá fazer um progresso verdadeiro. Não é permitido dizer: «Eu penso que…» e «Eu posso fazer
aquilo que quero…». Perguntar-me-eis: «Porquê?»
Porque pagareis. Podereis acrescentar: «Mas eu tenho todos os direitos!» Fazei o que quiserdes,
mas pagareis. Na natureza tudo se paga, mesmo as felicidades, mesmo as alegrias e os êxtases. «Mas eu não tenho dinheiro!» Estas leis não vos pedirão dinheiro (os humanos é que vo-lo pedem sempre), mas pedir-vos-ão uma parte das vossas forças, do vosso saber, da vossa saúde, da vossa beleza ou da vossa luz. Se souberdes analisar-vos, constatareis que há um défice na vossa caixa; os Justiceiros, as Forças cósmicas, as Inteligências que governam o universo, retiram-vos qualquer coisa e vós empobreceis!
Para se ficar muito rico é necessário nunca transgredir as leis da natureza, nem as leis morais,
nem mesmo as leis humanas. Ainda que as leis criadas pelos homens não tenham a mesma razão de ser que as leis da natureza, enquanto se vive numa sociedade onde elas são muito poderosas será melhor submeter-se a elas (respeitar o código da estrada, por exemplo)… Se puderdes transgredi-las sem que ninguém se aperceba, a natureza não vos castigará, pois ela nada tem a ver com isso. Mas, se transgredirdes uma lei da natureza, mesmo que a sociedade continue a respeitar-vos e a inclinar-se perante vós, ficareis doentes: sim, a lei da natureza pôr-vos-á de cama! Ela é que vos punirá e em parte alguma conseguireis escapar-lhe. Podereis ir seja
para onde for, que a lei encontrar-vos-á, porque tudo se regista no vosso interior. A natureza previu
que o homem haveria de arranjar sempre uma maneira de transgredir as leis, e por isso colocou
nele aparelhos registadores. Ela só tem de dar uma olhadela neles para ver o que o homem comeu e
bebeu, o que ele pensou, sentiu ou fez. É impossível enganá-la! E agora quereis convencer-me de que só os homens fazem registos? Como é que o homem poderia ter fabricado um objeto sem que a natureza lhe tivesse dado antes o modelo? A natureza fez registos antes do homem, mas ele é demasiado cego para reconhecer isso. Portanto, a natureza tomou todas as precauções, e se o homem transgride as suas leis tem de pagar.
De agora em diante, procurai não transgredir nem as leis humanas, nem as leis da natureza, nem as leis morais, que são ainda superiores às da natureza. Mas, na realidade, as leis morais fazem parte da natureza, pois esta tem graus. Primeiro, há uma natureza puramente física; depois, acima dela, uma natureza mais subtil à qual pertencem os pensamentos e os sentimentos; finalmente, para além destas duas naturezas, reina o mundo divino.
Também a natureza obedece; da mesma forma que nós devemos obedecer às suas leis, ela obedece às leis do espírito, pois o espírito comanda a natureza.
Quando o homem consegue ultrapassar estas duas naturezas – a puramente física e a mais subtil, a dos pensamentos e dos sentimentos –, fica acima das suas leis. Torna-se tão puro, luminoso e forte, e está em harmonia tão perfeita com o espírito, que nesse momento é a natureza que lhe obedece e, faça o que fizer, ele não transgride nada. É o único caso em que o homem pode permitir-se tudo sem cometer qualquer transgressão.
Mas só os seres excecionais, os seres predestinados, conseguem elevar-se acima das leis da natureza e das leis morais. Esses seres sempre existiram, existem e existirão, mas são muito pouco numerosos.
Eles podem permitir-se tudo sem nunca cometer um crime ou um pecado. Isto é muito difícil de
explicar, mas eu recebi revelações fantásticas nestedomínio, das quais não podeis ter qualquer ideia,
pois é impossível falar-vos sobre isso.
No entanto, para vos ajudar a compreender, vou dizer-vos algumas palavras, Quando um homem é
muito puro, muito luminoso, o que quer que ele faça será sempre para o bem. E quando um homem
é sórdido, tenebroso, e está afundado em regiões infernais, mesmo que queira fazer o bem, só provocará estragos; assemelha-se àquele que, tendo as mãos sujas de óleo, quer tirar uma pequena mancha do rosto de alguém: acaba por sujá-lo ainda mais.
No seu desejo de purificar os outros, um homem assim suja-os; no desejo de simplificar a vida deles,
só a complica. Porquê? Porque tudo o que se liberta dele é tão caótico e tenebroso que, o que quer que faça, ele causa sempre destruição. Mas se um ser é pura luz, puro amor, pura inteligência, mesmo se bater em alguém, em vez de o matar, salvá-lo-á, porque tudo o que há nele, tudo o que sai dele, é divino. Para chegar a este ponto culminante, a séfira Kéther, é preciso estar predestinado pelos Vinte e Quatro Anciãos, é preciso estar predestinado há muito tempo… Mas, enquanto estiver no caminho, o discípulo deve compreender que há leis a respeitar.
Os humanos reconhecem que, na sua atividade profissional, há comportamentos convencionais e
outros que o não são; mas, quando se trata do domínio moral, pensam que não há qualquer regra a respeitar, e é nisso que se enganam. Quando Hermes Trismegisto dizia: «O que está em baixo é como o que está em cima, e o que está em cima é como o que está em baixo», ele enunciou esta mesma verdade, mas sem especificar nada, e as suas palavras compreendem todos os planos, todos os domínios, todas as atividades do homem. Com efeito, nestas duas expressões “em baixo” e “em cima” está contido um grande número de princípios, de atividades, de objetos, de cores, de formas, de criaturas, de regiões.
Muitos compreenderam que o que está em baixo, quer dizer, na terra, é semelhante ao que está
no alto, no Céu. Isto não é totalmente verdadeiro: o que está na terra não é semelhante ao que está
no Céu. Nem as formas, nem as dimensões, nem a luz, nem as cores, nem a glória, nem a grandeza – nada é, em baixo, exatamente como é em cima; as leis é que são as mesmas. Hermes Trismegisto não especificou isso, pois ele queria dar às suas palavras um conteúdo mais vasto, que só os que são capazes de penetrar na cabeça de um pensador ou de um Iniciado podem descobrir.
Pelo conhecimento que têm das leis físicas, os cientistas chegaram a aplicações extraordinárias,
como a expedição à lua, por exemplo. Mas, se conhecessem as leis morais, as suas realizações
seriam ainda maiores, não somente na matéria, mas no domínio vasto, infinito, da alma e do espírito.
Eles estudam a física e a química, é certo, mas há uma física e uma química espirituais que eles não
conhecem. Portanto, falta uma coisa essencial à ciência oficial: o conhecimento deste mundo psíquico regido pelas leis morais. E, além disso, os intelectuais, como procuram apagar da consciência humana o pouco de senso moral que nela ainda resta, trabalham para a sua demolição. Tudo vai desmoronar-se por causa dos que negam ou recusam a existência das leis morais.
Evidentemente, nem sempre é fácil descobrir estas leis, mas isso não é razão para afirmar que elas não existem. Não há nada que permita diminuir ou negar o que acabo de vos dizer. Se o homem
souber observar-se e analisar-se, se tiver paciência suficiente, mais cedo ou mais tarde constará que
cada transgressão interior deve ser paga, porque esse domínio é regido pelas leis imutáveis da moral
eterna.
Vós cometeis uma transgressão, mas dizeis:
«Eu como, durmo, ganho dinheiro, estou muito bem, não vejo qualquer modificação!» Pois bem, é porque sois cegos, não sabeis ver o que se passa no lado subtil do vosso ser. Continuareis, durante
anos, a fazer as vossas negociatas, as vossas traficâncias, sem vos aperceberdes de que qualquer
coisa começa a abandonar-vos. E o que é que vos abandona? É a vós que compete descobrir. Eu sei de antemão o que vos deixará e que modificações enormes, assustadoras, ocorrerão em vós. Alguns anos depois, tereis perdido a vossa frescura, o vosso entusiasmo e, sobretudo, o gosto pelas coisas.2 Isto são perdas imensas do ponto de vista espiritual! Se não vos apercebeis disso, é porque permanecestes no estado animal. Pode acontecer que continueis a trabalhar e a ganhar muito dinheiro, mas deixareis de ser um filho de Deus, uma filha de Deus, leve e irradiante como a luz. No vosso interior, houve randes modificações.
Os animais comem, caçam, lutam, acariciam-se, protegem os seus filhos, e muitos homens não fazem mais do que isso; eles não sabem que foram enviados à terra com a missão de manifestar
a glória de Deus e de fazer desabrochar tudo o que neles há de subtil e de divino. Enviaram-nos
à terra para fazerem dela um jardim do Paraíso. É esta a sua missão, mas eles esqueceram-na; comem, bebem, criam raízes aqui na terra e já não querem desapegar-se. Então, alguém virá desenraizá-los e devolvê-los ao outro lado, onde lhes mostrarão que estragaram a sua existência, e, evidentemente, nesse momento eles sofrem – o Purgatório e o Inferno não são outra coisa. Mas, quando tiverem pago e se tiverem limpo, subirão mais alto, ao primeiro Céu, e de novo descerão à terra para poderem continuar a desenvolver-se no bem. É assim a história do género humano.
É necessário lembrar incessantemente aos homens a sua missão na terra e dizer-lhes: «Então,
o que viestes aqui fazer? Recordai-vos!» Recordar-se… como recordar-se? Numa Escola Iniciática,
com as grandes verdades e as boas influências que recebe, com a ajuda dos Anjos, o discípulo começa a recordar-se do mundo luminoso de onde desceu e para o qual deverá voltar um dia. A maior bênção que o discípulo pode receber é recordar-se.
Ele recordar-se-á mesmo de todos os sofrimentos por que passou, de todas as faltas que cometeu e
de todas as suas dívidas, pois é necessário que reencontre aqueles que lesou, a fim de se reconciliar
com eles e de reparar tudo, para liquidar o seu carma. É isto que espera o discípulo, é isto que vos
espera a todos. Um dia, sereis obrigados a pagar por tudo o que tirastes injustamente aos outros.
Evidentemente, não são coisas agradáveis de ouvir, tanto mais que os humanos preferem não ter juízo e ignorar eternamente as verdades desagradáveis.
Mas, mesmo que não queiram ouvir, um dia serão obrigados a conhecer a verdade, e vós sois muito
privilegiados por conhecê-la aqui por meu intermédio.
Preparai-vos, pois, para reparar todos os vossos erros, como eu próprio me preparo. Suponhamos
que eu fui o maior malfeitor, o maior incendiário.
Bom, eu arrependo-me, lastimo e quero reparar as minhas faltas. Suponhamos que fiz mal a todos vós: desonrei-vos, massacrei-vos… suponhamos! Agora, ao suportar-vos, ao amar-vos, ao falar para vós, eu estou a pagar, estou a reparar. Mas suponhamos que isto não é verdade… Tanto melhor! É uma questão que eu deixo de lado propositadamente; não vou dizer-vos agora porquê e como é que eu vim à terra, nem de que região provenho, isso só a mim diz respeito.
Mas considerai que eu sou um homem que transgrediu todas as leis e que agora estou condenado
a pagar-vos certas dívidas. Pois é, para vós é agradável ouvir semelhante coisa, não é verdade?…
E se eu aceito falar nestes termos sem que isso me incomode, por que é que vós não decidis
raciocinar como eu e reparar as vossas faltas em relação ao vosso marido ou à vossa mulher, aos vossos filhos, aos vossos pais e aos vossos amigos? Evidentemente,
preferis crer que sois irrepreensíveis e que eu sou culpado e criminoso. Sim senhor, sim senhor, mas será que é verdade? Pouco importa…
Se eu sou capaz de me confessar imperfeito perante vós, fazei o mesmo perante os outros. Alguém tem um filho que está sempre a atormentá-lo, a desonrá-lo, e vem queixar-se junto de mim: «O que terei eu feito a Deus para ter um filho assim? – Certamente contraiu uma dívida para com ele no passado, senão ele não teria surgido na sua família.» Muitos pais, que são justos e honestos, sofrem porque têm filhos que são uns vadios. É verdadeiramente espantoso; segundo as leis naturais, isso deveria ser impossível, pois eles nunca semearam um germe daqueles.
Mas há sempre uma razão, pois a lei é justa.3
Há dias, um irmão veio falar comigo: estava muito atormentado, pois manifestava uma grande
bondade e uma grande generosidade para com os seus e, em troca, só recebia ingratidão e crueldade; ele estava desolado com esta injustiça. Eu disse-lhe:
«Quer que eu lhe dê uma chave, um remédio, um antídoto eficaz? Não voltará a ficar revoltado nem
furioso, restabelecer-se-á completamente quando souber uma coisa: o mundo invisível utiliza estes
meios para o reforçar, ou para o libertar, ou para o fazer refletir, ou para o tornar melhor. E o que
o corrói e o torna doente é pensar que tudo o que lhe acontece é injusto. Pense que é justo e ficará
curado.» Este irmão confiou em mim e restabeleceu-se, tornando-se tranquilo e radioso; pensa que
talvez esteja a pagar por antigas transgressões e isso salvou-o. Evidentemente, é necessário aceitar esta maneira de pensar, senão os tormentos continuam, os tormentos que corroem o vosso organismo, o vosso estômago, o vosso coração ou o vosso sistema nervoso.
Hoje, eu digo-vos a mesma coisa: se a injustiça vos atormenta, aceitai esta ideia de que só há injustiça aparentemente, não na realidade. Mesmo que não seja assim, esta ideia é eficaz, pois, ao aceitá-la, vós libertais-vos, deixais de sofrer, tomais-vos melhores. Eu verifiquei isso por mim. Antigamente, eu não conhecia este remédio e interrogava-me muitas vezes sobre tudo o que me acontecia.
Agora, já não faço perguntas, penso que tudo é justo e merecido, mesmo que não seja verdade.
O que é que Jesus fez aos humanos para ser crucificado?…
Evidentemente, o destino de Jesus era excecional e não deveis imaginar que o vosso caso é semelhante ao dele. No entanto, pode acontecer que pessoas inocentes sejam presas ou massacradas.
Se elas se revoltarem contra essa injustiça, vão atormentar-se inutilmente. Aqui, na terra, mesmo
que estejais inocentes, deveis pensar que sois tão culpados como os outros, pois pensando assim
libertais-vos.
Vós sois chamados a descobrir em vós mesmos uma região espiritual onde as leis são imutáveis. À
menor transgressão destas leis, tereis de pagar, mais cedo ou mais tarde. O que vos engana é que o pagamento não é imediato, mas tudo se regista, tudo tem repercussões. Encontramos a mesma lei em muitos domínios. Na química, por exemplo, é necessário esperar um certo tempo para obter a viragem do tornesol, que passa do vermelho ao azul, ou inversamente; para provocar uma mudança completa, basta uma última gota, mas esta gota vem depois de muitas outras. Acontece o mesmo no mecanismo de um relógio: os ponteiros só se deslocam depois do funcionamento de numerosas rodas. O tempo que decorre entre o desencadear do movimento e o aparecimento de um resultado visível ou tangível é mais ou menos longo, mas, como tudo está ligado, o resultado aparece infalivelmente.
Suponde que tendes determinado vício ou determinada paixão; não vedes imediatamente as suas
repercussões e continuais a cometer os mesmos excessos, o que desencadeia outras engrenagens,
e mais outras, e um dia perguntais a vós mesmos por que vos sentis extenuados e doentes. Mas o que está a acontecer-vos já tinha sido desencadeado há muito tempo. Recebeis hoje a intimação de um credor, mas devíeis estar à espera dela! Por que é que os humanos não compreenderam esta lei que se encontra inscrita por toda a parte? Todas as suas tribulações, todas as suas infelicidades, provêm do facto de eles não terem sabido estudar e interpretar os mecanismos dos seus diferentes órgãos físicos e psíquicos.
Se desejais tornar-vos um filho de Deus, um ser completo, vivendo a vida da alma e do espírito,
deveis respeitar as leis da verdadeira moral, não há outra solução. As portas estão fechadas para todos os que transgridem estas leis. O mundo invisível não se submete aos caprichos dos humanos desrespeitadores, anarquistas e devassos. «O mundo invisível?», questionareis vós. Sim, esse mundo é invisível, e se dizeis que não podeis acreditar num mundo que é invisível, eu responder-vos-ei que não sabeis raciocinar. Será que o vosso pensamento é visível? E a vossa consciência, e as vossas opiniões, e os vossos sentimentos? E todos os vossos projetos?
Conseguis vê-los?… Não. No entanto, estais convencidos da sua existência. Envolveis-vos em
contendas e chegais a matar pessoas por causa das vossas convicções, que também não são visíveis.
Nem sequer vos apercebeis de que assentais toda a vossa vida em coisas que não vedes! Só o mundo invisível existe, tudo o resto é duvidoso. Ao negar a realidade do mundo invisível, cortais o ramo sobre o qual estais sentados e um dia caireis no meio do chão. Como é que as pessoas não têm vergonha de recusar estas verdades, em vez de reconhecerem que ainda não estudaram nada? Ao negarem o mundo invisível, os homens assinam a sua sentença
de morte.4
Os homens sofrerão até compreenderem que o mundo invisível é a única realidade. E eis o argumento que eu apresentarei a um desses ignorantes: acreditais somente no que é visível, não é verdade?
E se, uma noite destas, alguém vos apertar o pescoço, a vós que viveis na opulência, e vos disser:
«A bolsa ou a vida!», bom, mesmo que até aí não tenhais acreditado na vida, uma vez que ela é invisível, nesse momento começais a acreditar, pois dareis tudo o que é visível para preservar uma coisa que é invisível. Que inconsequência! Para serdes lógicos, deveríeis dizer: «Levai a minha vida, não a minha bolsa!» Mas então seríeis mortos! E o que faríeis ao vosso dinheiro?… Nada é mais precioso do que aquilo que não se vê. A vida é uma realidade invisível e, apesar disso, estais dispostos a dar tudo para a preservar. Ah, os humanos são extraordinários!
O mundo invisível existe? Ele pede para ser respeitado como o mundo visível? Sim, e mesmo
muito mais! É necessário tomar consciência desta vida subtil e apreciá-la. Vereis o que então se passará em vós. Mesmo que os outros não se apercebam de nada, interiormente vivereis uma vida de liberdade, de alegria, de leveza, de inspiração, uma vida musical, harmoniosa; vivereis a verdadeira poesia!… E, se o conseguirdes, isso refletir-se-á mesmo nas vossas questões materiais. As pessoas começam a aperceber-se do que viveis, e talvez o mundo inteiro vos traga tesouros, porque tudo está ligado: a riqueza interior atrai a riqueza exterior, só que é necessário tempo para ver os seus efeitos.
Se conseguirdes viver esta vida interior perfeita, as vossas vibrações e as vossas emanações chegarão ao mundo inteiro, até às estrelas mais longínquas, de onde vos trarão todas as felicidades e todas as bênçãos.
Uma felicidade vem apresentar-se perante vós, está já a caminho, aproxima-se e diz-vos: «Cá estou
eu! – Mas, de onde vens tu? Quem te chamou e quando? – Foste tu, há muito tempo!» Pois é, as felicidades estão a caminho, mas é necessário tempo para elas chegarem, pois vêm de longe… Infelizmente, passa-se o mesmo com os males. As pessoas não se apercebem, mas há muito que os atraíram.
Aliás, o que pode acontecer a alguém que é sombrio, ignorante ou estúpido? As maiores glórias?… As maiores iluminações?… A visita dos maiores Arcanjos?…
É impossível! Ele não pode atrair tais esplendores.
Porquê? Porque existe uma lei de afinidade que os Iniciados da antiguidade esconderam nestas
palavras: «Cada ovelha busca a sua parelha». Esta frase contém toda uma ciência, mas, como os humanos eram ainda demasiado primitivos para compreender a lei das correspondências (a que se pode chamar, também, lei da afinidade, lei do eco, do choque de retorno, da polaridade), os Iniciados preferiram dá-la ao povo como uma fórmula. «Como é que eu pude atrair todos estes males? – Pela tua maneira de pensar ou de agir, era fatal!», dirão os Iniciados.
E em relação às alegrias? Elas chegam-vos porque trabalhastes, fizestes sacrifícios, fostes generosos…
Tudo é justo, o Céu não pede a vossa opinião, vós tendes o que mereceis.

Notas
1. Cf. O Livro da Magia Divina, Col. Izvor n.º 226, cap. XI: «Três grandes leis mágicas».
2. Cf. La pierre philosophale – des Évangiles aux traités alchimiques, Col. Izvor n.º 241, cap. IV: «Et si le sel perd sa saveur…».
3. Cf. A educação começa antes do nascimento, Col. Izvor n.º 203, cap. I: «Instruir primeiro os pais» e cap. II: A educação começa antes do nascimento».
4. Cf. Olhares sobre o invisível, Col. Izvor n.º 228, cap. I: «O visível e o invisível» e cap. II: «A visão limitada dointelecto, a visão infinita da intuição».

ÍNDICE

I A lei da causa e efeito …………………………… 7
II «Separarás o subtil do espesso» ……………… 33
III Evolução e criação ……………………………….. 45
IV Justiça humana e justiça divina ……………… 57
V A lei das correspondências ……………………. 81
VI Leis da natureza e leis morais ………………… 109
VII A lei do registo …………………………………….. 129
VIII A reincarnação …………………………………….. 143