«Para um discípulo, encontrar o seu Mestre é encontrar uma mãe que aceita trazê-lo nove meses no ventre para o fazer nascer no mundo espiritual. E uma vez ele nascido, isto é, desperto, os seus olhos descobrem a beleza da Criação, os seus ouvidos ouvem a palavra divina, a sua boca prova alimentos celestes, os seus pés transportam-no aos diferentes lugares do espaço para fazer o bem e as suas mãos aprendem a criar no mundo subtil da alma».
O QUE É UM MESTRE ESPIRITUAL?
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Informação adicional
Peso | 180 g |
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ISBN | 978-989-8147-72-1 |
Ano | 2012 |
Edição | 1 |
Idioma | |
Formato | 110×180 |
Encadernação | Cartonada |
N. Pág. | 185 |
Colecção |
CAPÍTULO VI
O MESTRE, ESPELHO DA VERDADE
Se um homem não se conhece, se não está consciente dos seus dons e das suas lacunas, das suas possibilidades e das suas insuficiências, não pode conseguir grande coisa da vida nem ter relações harmoniosas com as outras criaturas, e daí decorrem, para ele, complicações, choques, disputas. Pode-se mesmo dizer que as maiores infelicidades que acontecem aos humanos são devidas a essa falta de conhecimento de si mesmo. Saber o que se é, o que se representa, o que se é capaz de fazer ou não… Sim, saber situar-se – é precisamente a este respeito que as pessoas se enganam constantemente, e isso é muito grave. As empresas, os casamentos, as associações, tudo o que se faz pode ir por água abaixo se, na base, não se tiver colocado um conhecimento claro da sua própria natureza e também da natureza dos outros, evidentemente. A sabedoria começa pelo conhecimento de si mesmo.
Mas, como conhecer-se? O homem dispõe dos órgãos necessários ao conhecimento, só que está construído de tal maneira que não pode ver-se a si mesmo. Ele vê o mundo exterior, vê os outros, mas não se vê a si próprio. Para se ver no mundo físico, ele precisa de algo físico que possa reflectir a sua imagem: a superfície da água, um espelho … Precisa, pois, de se ver através de qualquer coisa exterior a ele. Acontece o mesmo no domínio psicológico: o homem tem necessidade dos outros para descobrir o que é. Mas os outros, que nem sempre são inteiramente lúcidos e desinteressados, não podem ser espelhos impecáveis e dão-lhe uma imagem deformada dele próprio. Por razões de que raramente estão conscientes, as pessoas têm simpatias e antipatias, e exageram, por isso, as qualidades e os defeitos dos outros. Se alguém é vosso inimigo, para ele vós sois antipáticos e, por consequência, ele irá amplificar os vossos defeitos ao ponto de não querer reconhecer em vós a mínima virtude.
«Se é assim, direis vós, vamos aprender a conhecer-nos através de livros. – Muito bem, mas tudo depende dos livros que escolherdes e do nível a que eles vos ajudarão a conhecerdes-vos. – Então, será a vida que nos ensinará a conhecermo-nos. – Ah! Nisso sim, eu acredito, só que será preciso muito tempo e custar-vos-á muito caro. Acabareis por conhecer-vos um pouquinho melhor, mas os danos serão irreparáveis.» O meio que eu vos aconselho, o mais económico, o mais sensato, o mais eficaz, é o de pedirdes ao Céu que vos coloque diante de um espelho perfeito, quer dizer, diante de um ser com uma grande abnegação, um grande desapego, que não tenha qualquer vontade de vos enganar para se aproveitar de vós; e esse espelho só pode ser um verdadeiro Mestre. Encontrai um Iniciado e perguntai-Ihe: «O que é que eu represento? O que é que existe em mim? Quais são as fraquezas que eu devo combater e as riquezas e talentos que devo desenvolver? A que trabalho estou predestinado?» E ele, que é desinteressado, entrará em comunicação com o Céu e dar-vos-á respostas impecáveis.
Agora, resta saber se, quando esse espelho começar a reflectir alguns dos vossos defeitos, vós não ireis ficar furiosos com ele. Pelo contrário, deveis agradecer ao Céu e dizer: «Oh! Que catástrofes eu vou evitar, que infelicidades vou afastar dos outros e de mim próprio!» Mas os humanos não querem ver-se tal qual são, preferem viver nas suas ilusões. Por isso, um Mestre sabe antecipadamente o que o espera quando abre a boca. Aquilo que lhe respondem nunca é: «Tem razão», mas: «Não, nunca, está enganado. Não é nada assim como está a dizer.» Sim, o Mestre é que se engana sempre, eles nunca!
É um problema, para um Iniciado, saber como fazer os humanos aceitarem certas verdades. Por exemplo, uma irmã vem ver-me e pergunta-me: «Mestre, gostava que me dissesse quais são as minhas fraquezas, os defeitos que devo corrigir. Não vai ficar vexada? – Não, não, aceitarei tudo.» Eu começo a dizer algumas palavras e ela começa logo a chorar! Então, eu digo-lhe: «Se chora, eu tenho que parar, porque está tão obnubilada pelo seu desgosto que já não consegue ouvir nada do que eu estou a explicar-lhe.» Para se compreender, é preciso não deixar os sentimentos sobreporem-se. O que é que se pode compreender se se começa logo por ficar vexado e triste?
E não penseis que isto só acontece com aqueles que eu recebo pessoalmente. Quando falo na sala, vejo alguns que ficam insatisfeitos com as minhas explicações e que, em vez de me escutarem, se fecham no seu descontentamento. Se é para não ouvirem, para não compreenderem nada, é inútil virem cá. Deveis vir cá unicamente com o objectivo de conhecer verdades que não conheceis e que vos ajudarão a transformar a vossa vida. Para isso, tendes de aceitar ser um pouco sacudidos. Se eu andar sempre a consolar-vos: «Ah!, coitado, como você é infeliz!», para que é que isso servirá? Quando uma criança cai e se fere, chora um pouco, é claro. E se, para a consolar, lhe dissermos: «Oh, meu querido, que horrível, magoaste-te!», ela chorará com mais força e durante mais tempo. Ao passo que, se lhe dissermos: «Vá, isso não é nada», ela levantar-se-á e pronto!, dois minutos depois já não pensará naquilo. Ou seja: não é bom estar sempre a consolar as pessoas, pois, muitas vezes, essa é a melhor maneira de aumentar a sua fraqueza e a sua preguiça.
O papel de um Mestre não é unicamente o de manifestar muito amor e ternura. Para os discípulos progredirem e evoluírem, ele também deve mostrar-se severo e dizer-lhes certas verdades. Tanto pior para eles, se não lhes agradar! Se eu me fosse preocupar com as vossas reacções, com a vossa opinião a meu respeito, acabaria por nunca fazer nada. Alguns de vós confessaram-me que, no momento em que eu lhes mostrei as suas fraquezas, detestaram-me. Mas não faz mal, eles que me detestem, eu tenho uma carapaça. Porém, para lhes fazer bem, sou obrigado a abaná-los um pouco. Se eles continuarem a julgar-se impecáveis quando, na realidade, se comportam de uma maneira absolutamente vulgar ou mesmo repreensível, que progresso poderão fazer? É muito melhor conhecerem certas verdades, mesmo que elas os façam sofrer; esses sofrimentos não durarão e o conhecimento que eles terão de si próprios permitir-Ihes-á corrigirem-se e evoluírem. Até ao dia em que, por fim, se aperceberão de que eu fui para eles de uma tal utilidade que me procurarão até nos outros planetas para me agradecerem!
Quando estais doentes, aceitais bem certos remédios desagradáveis para vos curardes. Muito bem, no domínio espiritual é preciso fazer o mesmo: estais doentes há muito tempo e necessitais de um tratamento para vos curardes. Se não quiserdes aceitá-lo, tanto pior para vós, não vos curareis.
Aliás, se eu vos deixar fazer tudo sem dizer nada, será o Céu a ficar descontente. Ele dir-me-á: «És medroso, não queres dizer a verdade para não aborreceres este ou aquele. Assim, irá tudo por água abaixo por tua culpa!» Eu gostava muito de vos agradar, mas também tenho o meu dever, as minhas responsabilidades. Aliás, um Mestre que fecha os olhos não pode ser útil. Eu nunca seguiria um Mestre assim! De que me serviria ter um Instrutor que me deixasse fazer todas as asneiras sem me esclarecer, sem me corrigir? Estão a ver? Os discípulos não têm a mínima noção do que devem esperar do seu Mestre.
Eu sei o que faço, e compreendo muito bem a situação. Eu sei que, se quiser a vossa amizade, devo enganar-vos e elogiar-vos: «Ah! Você é único. Viajei por todos os países e nunca encontrei ninguém tão sábio e tão inteligente!» Posso até procurar nos dicionários as palavras mais raras e mais poéticas para me dirigir a vós, e então ireis adorar-me. Eu não sou estúpido, sei aquilo que me é útil e aquilo que não é. Portanto, eu sei o que perco se for sincero convosco, mas vós ganhais, e por isso eu aceitei perder para que vós possais ganhar.
Por que é que existe nas pessoas esta fraqueza de estarem sempre à espera de elogios? Para se enganarem a si próprias. Elas têm necessidade de se enganar, não podem viver sem isso. O que é que aconteceria à humanidade se ela não vivesse mergulhada no engano? Se disserdes a uma mulher velha e decrépita que ela é um “velho quadro” – o que é verdade -, ela nunca mais vos perdoará. Se, pelo contrário, lhe disserdes que ela ainda está jovem, linda, adorável, eis que o “velho quadro” vos sorri, dá gargalhadas e se bamboleia e, se for rica, dar-vos-á toda a sua fortuna. Sim, por uma mentira! Isto não quer dizer que eu vos aconselho a agir assim, não, mas é uma constatação.
A maior parte das pessoas não vos dizem a verdade sobre vós mesmos, sobre os vossos defeitos e as vossas fraquezas, porque têm medo de perder o vossos favores ou de fazer de vós seus inimigos. Por detrás desta atitude amável, delicada, existe, pois, um interesse, e assim vós continuais a ter os mesmos defeitos que, com o tempo, só se ampliam. Mas um verdadeiro Iniciado comporta-se de maneira diferente. Como não tem qualquer interesse, não tem medo, nem tem nada a perder, já ganhou tudo, porque conhece a verdade. Ele não hesitará em vos mostrar as vossas fraquezas, tudo aquilo que vos prende nas regiões infernais e vos impede de ir para o país da luz, para o Paraíso… Ele ousará dizer-vos tudo aquilo que vos torna doentes e infelizes, porque quer dar-vos meios, métodos para remediar as vossas imperfeições e as vossas lacunas.
Porém, o Mestre, para dizer a verdade ao discípulo, não o fará de qualquer maneira. Primeiro, o discípulo é como uma criança que tem necessidade de que a sua mãe o alimente, o proteja, o acaricie. Mas, ao fim de algum tempo, quando a criança já está mais crescida, tal como a mãe desmama o filho que esteve a amamentar, também o Mestre desmama o discípulo. Será isto indiferença, crueldade? Não, mas chegou o momento em que a criança pode alimentar-se sozinha. Reparai no que acontece com os animais: ao princípio, as mães são extremamente ternas para com as suas crias, mas ao fim de algum tempo afastam-nas e dão-lhes umas patadas: «Vá, vai-te embora, desenrasca-te, agora já não tens necessidade de mim!»
Um Iniciado começa por considerar os seus alunos, os seus discípulos, como crianças que necessitam de ternura, de coragem, e depois, quando eles crescem e já se aguentam nas pernas, dá-lhes algumas pancadas, diz-lhes a verdade. Mas ele não os afasta, mantém-nos junto de si e começa a cinzelá-los, a esculpi-los, a modelá-los ou, para vos dar uma outra imagem, a aplicar-lhes um tratamento com algumas injecções e algumas operações. Sim, é esta a verdade. Para alguns, ela é difícil de escutar e suportar, mas, para o discípulo que decidiu evoluir, avançar, ela é magnífica; ele até suplica ao Mestre que lha diga, porque este vê certas coisas que o entravam, que o mantêm prisioneiro ou o levam a fazer asneiras.
Só aqueles que são verdadeiramente tocados pela graça de Deus pedem a verdade, mesmo que ela seja dolorosa. Quantas vezes eu quis atrair a atenção de certos irmãos e irmãs sobre alguns dos seus defeitos muito vincados, e eles, em troca, ripostavam: «Oh! Não, não é verdade, eu não sou assim!…» Se eu lhes falasse das suas qualidades, eles aprovar-me-iam, ficariam maravilhados com a minha perspicácia e a justeza das minhas observações. Mas, em relação aos seus defeitos, ah! não, eu observei mal.
Eis, pois, o método dos verdadeiros Iniciados: quando é preciso, dizem a verdade, sem terem medo de perder os seus amigos. E se os amigos se sentem ofendidos, feridos, com as suas observações tão verídicas… pois bem, que quereis? Se esses amigos não são suficientemente honestos e sinceros para reconhecer que é verdade, mais vale perdê-los. Que utilidade terá, para um Iniciado, ter amigos desonestos para com eles próprios?
Não, um Iniciado não tem medo de perder os seus discípulos, ele sabe que um verdadeiro discípulo não irá deixá-lo, porque raciocina correctamente; ele diz: «Confio no meu Mestre. Ele não tem qualquer interesse em magoar-me ou em destruir-me. O que é que ele ganhará se eu estiver morto? Se ele me falou assim é porque tem as suas razões. E, como ele sabe melhor do que eu como deve agir, confio nele. É seguramente por bem. Eu aceito.» Nesse momento, o Mestre, que o observa, regozija-se por ver que tem ali um verdadeiro discípulo digno de receber a Iniciação. Receber a Iniciação, conhecer a verdade, a sabedoria, viver na luz – nada há acima disso. Mas é preciso ter vencido em si próprio essa natureza inferior que fica sempre vexada, ferida, que se sente ultrajada e é vingativa.
Se soubésseis a quantidade de pessoas a quem a verdade ofendeu e que, em seguida, se vingaram de mim! São mais numerosas do que os cabelos da vossa cabeça. E isso aconteceu porque eu as roubara, extorquira, esmagara ou assassinara? Não, pelo contrário, eu dei-lhes um amor que mesmo na sua família nunca tinham encontrado, mas ousei dizer-lhes a verdade, apenas isso! Elas ignoravam que, enquanto não corrigissem certos defeitos muito antigos, ficariam retidas, entravadas, e vedariam a si próprias o caminho da evolução. No mundo espiritual existem barreiras que só podem ser ultrapassadas sob certas condições. Quando pedis que vos sejam reveladas as leis e a beleza das regiões superiores, com as entidades luminosas que as habitam, as suas cores, as suas músicas, os seus perfumes, toda essa ordem, essa simetria, esse esplendor, não sereis aceites pelos habitantes dessas regiões se não fordes dignos disso. E para se ser digno é preciso, pelo menos, ter aceitado reconhecer os seus próprios defeitos e corrigi-los.
O vosso ponto fraco, o que vos impede de aceder à verdadeira Iniciação, é serdes, muitas vezes, demasiado susceptíveis. O vosso instrutor ousou repreender-vos, ousou assinalar certos defeitos em vós? Ele nunca deveria tê-lo feito; deveria agir como as pessoas bem-educadas e não mencionar sequer a menor das vossas lacunas, nem imiscuir-se no vosso aperfeiçoamento. Aliás, vós ireis abandoná-lo e isso será uma boa punição para ele… Estais a ver? As pessoas afirmam que gostam da verdade, que procuram a verdade, mas, nesta atitude, onde está o amor à verdade?
Muitos de vós já me disseram: «Mestre, se soubesse em que estado eu fiquei quando me disse isto ou aquilo!… Mas depois eu vi, compreendi, e fiquei tão feliz! Agradeço-lhe de todo o meu coração.» E por que é que não ficais logo felizes? Por que é que havereis de passar primeiro por estados terríveis? É pena, é preferível ficardes imediatamente felizes, reconhecidos, e compreenderdes. Porque o objectivo, o meu objectivo, nunca é o de demolir seja quem for, mas o de ajudar as pessoas, transformá-las, embelezá-las, salvá-las. Por isso, não é o facto em si que deve contar para vós, mas o seu objectivo. Podem oferecer-vos um presente com um propósito criminoso, mas, como não estais informados, só vedes o presente, alegrais-vos com ele e morreis envenenados. É assim que sois enganados. Não é, pois, a aparência que se deve ter em conta, mas sim o objectivo. O meu objectivo, em tudo o que faço, é sempre o de ajudar-vos, e, se fordes sinceros, não podereis deixar de reconhecer isso mesmo.
Eu sei que, sempre que dou um abanão em alguém, arrisco imenso: se essa pessoa trabalha na rádio, fará uma emissão contra mim… se é um jornalista, escreverá um artigo para me caluniar… se é um pintor, far-me-á uma caricatura… Eu sei isso, mas aceito para tentar levar a pessoa a ver claro. As consequências para mim não contam: ela pode tornar-se minha inimiga, mas paciência! eu ajo para seu bem. Quando, anos depois, os acontecimentos me derem razão, ela lembrar-se-á e reconhecerá que eu queria o seu bem, queria que ela fosse livre, rica e amada por todos.
Como já vos tenho dito, considero-me como um cirurgião-dentista. E conheço a minha profissão. Não tenho equipamento moderno, o meu alicate é ainda de um modelo antigo, não utilizo anestésicos; então, os “clientes” gritam, é evidente. Mas, apesar disso, tudo cicatriza, tudo se recompõe e depois eles ficam contentes. Recentemente, houve mesmo uma irmã que veio ter comigo e me disse: «Mestre, sacuda-me de novo, como no outro dia. – Ah! Mas, porquê? – Porque isso fez-me imenso bem!» Eu olhei para ela e vi que estava a ser sincera. Então, disse-lhe: «Não pense que as coisas se passam assim!… Eu só chamo alguém à atenção quando sinto que é o momento; hoje, não o farei, porque não é oportuno»; e ela foi-se embora sem nada ter conseguido. As pessoas imaginam que eu ajo por capricho! Não. Tudo o que faço é determinado, pesado, calculado para dar este ou aquele resultado. Não se trata de maltratar alguém. Que mérito haveria nisso? Trata-se de curar, de fazer bem, de levar a pessoa a reflectir, a entrar em si. Sim, os irmãos e irmãs ainda não conhecem as razões da minha conduta, não as compreendem; imaginam que eu ajo como me “dá na gana” e em qualquer momento.
De futuro, tende mais confiança nos meus métodos. Aliás, eu tenho ainda alguns de que não fazeis a menor ideia. Quando vos dou um abanão, quando faço uma “operação”, aplico um método que não conheceis, mas é sempre para vosso bem, para retirar qualquer coisa que vos faz sofrer e que bloqueia a vossa evolução. Mas, se não tiverdes confiança em mim, fazei o que quiserdes, vós sois livres, mas eu digo-vos antecipadamente: não obtereis qualquer resultado, qualquer vantagem, somente estragos, dívidas a pagar. Ao passo que, com os meus métodos, sereis vós que, no final, vos tornareis reis, senhores, sempre ricos e vitoriosos. Compete a vós escolher.
Compreendei, daqui em diante, que, se eu ouso chamar-vos à atenção muitas vezes, é porque sou desinteressado. Se tivesse um interesse, não ousaria fazê-lo, teria medo de perder-vos, e o medo é mau conselheiro. A minha audácia e o meu “descaramento” provam-vos como sou desinteressado. Mas, como vós não sabeis discernir a que corresponde esta manifestação da minha parte, achais que é por mau humor, ou por maldade, ou por falta de educação… enfim, achais que eu sou um grosseirão!… Não, vós nunca vistes que esta audácia decorre do meu desinteresse. Tornai-vos também desinteressados e fareis a mesma coisa: direis aos outros a verdade sem temerdes que eles vos deixem, pois não quereis aproveitar-vos deles.
Um instrutor diz a verdade ao seu discípulo para o ajudar. E se o discípulo não compreendeu, se ele não quer ser ajudado, pois bem, que se vá embora, um dia virão outros que procurarão a verdade. Que quereis que um Mestre faça com pessoas tão susceptíveis? São sempre grandes príncipes, grandes sábios, que não suportam que se lhes faça o menor reparo, mesmo que seja para o seu bem!
E suponhamos que eu estou a cometer uma injustiça para convosco ao criticar-vos. Se tiverdes compreendido o que eu hoje vos disse, não ireis ficar agarrados a isso; pelo contrário, continuareis a mostrar-vos irrepreensíveis. E, um dia, quando vos apresentardes novamente diante de mim, eu arregalarei os olhos, exclamando: «Oh! mas que maravilha!» Então, vós é que saireis vitoriosos, e eu corrigirei o que vos disse e inclinar-me-ei.
Tendes o direito de vos exercitardes para vos tornardes melhores e sair vitoriosos, mas não tendes o direito de ficar ofendidos. Estais ofendidos? Isso não tem importância, eu não dou dois centavos por aqueles que se sentem ofendidos em vez de se porem a trabalhar. Suponde que os sacudi de propósito, para que arregaçassem as mangas… E eis que, em vez de trabalharem, eles ficam agastados! É demasiado fácil amuar sem resolver os problemas, sem aprender, sem pôr na vida um pouco mais de amor, um pouco mais de luz. Então, agora, ao trabalho, para depois poderdes vir dizer-me: «Veja, meu caro Mestre, enganou-se!» E eu responderei: «É verdade, enganei-me.» Até agora, eu nunca o disse, porque nunca me destes ocasião para isso: ficastes sempre agastados.
Então, o que é que esperais? Mobilizai-vos, fazei tudo para me convencerdes de que eu estava cego e me enganei. Mostrai-mo, eu ficarei muito feliz com isso. Se vos julguei mal, tendes o direito de me mostrar que sois mais nobres, mais genero¬sos, do que aquilo que eu penso. Enquanto não mo mostrardes, eu sou obrigado a constatar que tenho razão. Mas ter razão não me traz vantagem, porque eu fico triste quando tenho razão. Preferia não a ter, preferia ter-me enganado. Eu digo, por exemplo, acerca de uma pessoa, que ela não tem amor ou não tem discernimento, e eis que ela mostra com a sua atitude um amor e um discernimento formidáveis: que magnífica surpresa para mim! Sim, em certos casos, eu ficarei feliz por constatar que me enganei.
ÍNDICE
– Como reconhecer um verdadeiro Mestre espiritual
– A necessidade de um guia espiritual
– Não brinqueis ao aprendiz de feiticeiro
– Não confundir exotismo e espiritual idade
– Saber equilibrar o mundo material e o mundo espiritual
– O Mestre, espelho de verdade
– Não esperar de um Mestre senão a luz
– O discípulo perante o Mestre
– A dimensão universal de um Mestre
– A presença mágica de um Mestre
– O trabalho de identificação
– «Se não vos tornardes como crianças »