O Mestre Omraam Mikhaël Aivanhov (1900-1986) nasceu na Bulgária. Em 1937 partiu para França, onde transmitiu o essencial do seu ensinamento.
Aquilo que nos espanta, desde a primeira abordagem, na sua obra, é a multiplicidade de pontos de vista sob os quais é apresentada esta única questão: o homem e o seu aperfeiçoamento. Qualquer que seja o tema abordado, ele é invariavelmente tratado em função do homem, em tunção do uso que este pode fazer desse tema, para uma melhor compreensão de si mesmo e uma melhor conduta na sua vida.
«Para a maioria dos homens e mulheres que se preparam para ser pais e mães, a constituição do seu filho, o seu carácter, as suas faculdades, as suas qualidades, os seus defeitos, dependem do acaso… ou da vontade de Deus, de que eles não têm uma ideia muito precisa. Como ouviram falar nas leis da hereditariedade, eles ficam com a ideia de que aquela criança se parecerá física e moralmente com os seus pais, os seus avós, um tio ou uma tia. Mas não pensam que podem fazer qualquer coisa para favorecer ou impedir essa parecença, nem, de um modo geral, parar contribuir no sentido do bom desenvolvimento do seu filho, tanto no plano físico como nos planos psíquico e espiritual. Pois bem, é nisso que eles se enganam! Os pais podem agir favoravelmente sobre o filho que vem incarnar-se na sua família.»
Omraam Mikhaël Aivanhov
I Capítulo: INSTRUIR PRIMEIRO OS PAIS
É possível que alguns de vós perguntem por que é que eu, sendo um pedagogo, só raramente
abordo a educação das crianças. Todos os pedagogos se ocupam das crianças, e eu não, sou uma
exceção. Porquê? Porque penso que é preciso começar por instruir os pais.
Não acredito em nenhuma teoria pedagógica, creio somente na maneira de viver dos pais antes
e depois do nascimento dos filhos. Eis a razão por que eu nunca quis falar sobre a educação das crianças.
Se os pais nada fazem para se educar a si próprios, o que farão para educar os seus filhos? Fala-se aos pais da educação dos filhos como se eles estivessem verdadeiramente preparados para isso;
desde que tenham filhos, consideram-se aptos. Não, na maior parte das vezes não estão, e há que
começar por instruí-los a eles, há que ensinar-lhes como devem agir para influenciar beneficamente
os seus filhos.
Pois sim, mas aqueles que não conhecem o meu programa criticam-me: «Pedagogo? Pff! Ele
não é pedagogo, nunca fala da educação das crianças!» É que eles não compreenderam ainda o meu ponto de vista. Enquanto os pais não estiverem perfeitamente preparados, bem se poderá dar-lhes as melhores explicações pedagógicas, que isso não servirá de nada, e, até, ao quererem aplicar noções que não compreenderam, eles farão muito mal aos seus filhos.
Há imensas pessoas que querem ter filhos mas não se preocupam em saber se reúnem realmente
condições para isso: se têm boa saúde e meios materiais para os criar e, acima de tudo, se possuem
as qualidades necessárias para ser, para essas crianças, um exemplo, uma segurança, um conforto
em todas as circunstâncias da vida! Elas nem pensam nisso. Trazem os filhos ao mundo e esses
filhos crescerão completamente sós, entregues a si próprios, desembaraçar-se-ão como puderem, e
um dia também eles terão filhos em condições tão deploráveis como aquelas em que os seus pais os
tiveram a eles.
Fico espantado ao ver tantos rapazes e moças que desejam casar-se sem pensar em preparar-se
para o seu futuro papel de pais e de mães. Quando encontramos certas mulheres muito jovens e já grávidas, isso deixa-nos a pensar… uma criança que traz dentro de si outra criança! Vê-se no seu rosto: uma criança. Então, que resultado quereis que isso dê? É preferível não ter filhos enquanto não se estiver preparado para isso; senão, pagar-se-á muito caro, garanto-vos.
Vós direis: «Preparar-se… Mas como?» Preparar- se é ter pensamentos, sentimentos e uma atitude
que atrairão para uma família seres excecionais.
Sim, a Ciência Iniciática explica que não é por acaso que esta ou aquela criança nasce numa determinada família: consciente ou inconscientemente – e na maior parte das vezes inconscientemente –, foram os seus pais que a atraíram. Por isso, os pais devem chamar conscientemente génios, divindades.
Porque eles podem escolher os seus filhos… É isso que a maioria não sabe.
E preciso, pois, rever tudo desde o começo, e o começo é a conceção dos filhos. Os pais não pensam que devem preparar-se para isso com meses, anos, de antecedência, encarando a conceção como um ato sagrado. Muitas vezes, é numa noite de pândega, depois de terem comido e bebido demasiado, que eles concebem um filho! É esse o momento que escolhem, se é que ainda se pode dizer que o “escolheram”! Podiam decidir esperar por um momento de paz, de lucidez, um momento em que reinasse entre eles uma grande harmonia. Mas não, esperam até ficar excitados pelo álcool e já não saberem às quantas andam; é nesse magnífico estado que eles concebem um filho! Deste modo, que elementos introduzem nele? Uma criança que vem ao mundo carregada de tais elementos não pode deixar de ser a primeira vítima dos seus próprios pais. Então, afinal quem é que devemos educar? Na minha opinião, não são os filhos, mas sim os pais.
Se, em casa, os pais não param de oferecer aos filhos o espetáculo das suas disputas, das suas
mentiras, das suas poucas-vergonhas, como podem eles imaginar que vão educá-los? Tem-se observado que um bebé pode ficar doente e manifestar distúrbios nervosos na sequência de discussões entre os pais: mesmo que ele não tenha assistido, essas disputas criam à sua volta uma atmosfera de desarmonia de que ele se ressente porque está
ainda muito ligado aos pais. O bebé não está consciente, mas, apesar disso, é muito recetivo, é o seu corpo etérico que recebe os choques.
Os pais devem tomar consciência das suas responsabilidades.
Se forem incapazes de mostrar-se à altura da sua missão, não têm o direito de convidar espíritos a incarnar-se. Vejo alguns comportarem-se de forma tão estranha que não posso deixar de
perguntar-lhes: «Mas, afinal, vós gostais dos vossos filhos?» Eles ficam indignados: «Como? Se
gostamos dos nossos filhos? É claro que sim! –
Pois bem, eu acho que não, porque, se gostásseis deles, mudaríeis de atitude, começaríeis a corrigir
em vós certas fraquezas que se refletem neles de um modo muito negativo. Vós não fazeis qualquer
esforço! É isso o vosso amor?»
Eu sei que o futuro da Fraternidade está nas crianças, mas é dos pais que me ocupo, fazendo-
-lhes compreender que não devem trazer filhos ao mundo só para satisfazer o instinto atávico de
procriação. Esse instinto existe, é claro, mas deve ser compreendido de maneira mais espiritual; é
preciso que o pensamento, a alma, o espírito, participem nesse ato, para que a criança esteja ligada
a um mundo superior. Na maioria dos casos, os humanos contentam-se com a bestialidade:
comem, bebem, procriam como os animais, não existe nada de espiritual nos seus atos. O amor não
tem qualquer importância, e esse prazer de alguns minutos eles terão depois de pagá-lo, eles e os seus filhos, durante a vida inteira.
Quereis que eu me ocupe das crianças? Não, é de vós que me ocupo em primeiro lugar, e ao ocupar-me de vós ocupo-me indiretamente das crianças que já tendes e daquelas que tereis no futuro.
ÍNDICE
I – Em primeiro lugar, instruir os pais
II – Uma educação que começa antes do nascimento
III – Um plano para o futuro da humanidade
IV – Ocupai-vos dos vossos filhos!
V – Uma nova compreensão do amor materno
VI – A magia da palavra
VII – Nunca deixar uma criança inactiva
VIII – Preparar as crianças para u sua futura vida de adultos
IX – Preservar na criança o sentido do maravilhoso
X – Um amor sem fraqueza
XI – Educação e instrução