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A VIA DO SILÊNCIO

Autor:Aïvanhov, Omraam Mikhaël

10.00

Informação adicional

Peso200 g
ISBN

978-989-8147-45-5

Ano

2011

Edição

1

Idioma

Formato

145×210

Encadernação

Cartonada

N. Pág.

168

Colecção

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«Está muito enganado quem pensa que o silêncio é necessariamente o deserto, o vazio, a ausência de toda a actividade, de toda a criação, numa palavra, o nada! Na realidade, há silêncio e silêncio… mas, de uma maneira geral, podemos dizer que existem duas espécies de silêncio: o da morte e o da vida superior. É precisamente este último que é necessário compreender e é dele que falamos aqui. Este silêncio não é uma inércia mas sim um trabalho, uma actividade intensa que se realiza no seio de uma harmonia perfeita. Também não é um vazio, uma ausência, mas uma plenitude comparável àquela que experienciam os seres unidos por um grande amor e que vivem algo tão intenso que não conseguem exprimi-lo por gestos nem por palavras. O silêncio é uma qualidade de vida interior.»

Vós ides visitar uma família e, logo à entrada, sois assaltados por uma algazarra: os cães
ladram, as crianças brigam e choram, o rádio e a televisão berram, os pais gritam, as portas
batem… Vivendo continuamente no meio de todo este barulho, como é que as pessoas não
haveriam de ter o sistema nervoso doente? Só há barulho por toda a parte: nas estradas, nas
cidades, nas fábricas, nos locais de trabalho… Na Natureza, existe cada vez menos silêncio, e agora
até o céu se tornou ruidoso! Não sabemos aonde havemos de ir para, finalmente, termos silêncio…
É por isso que vos peço que procureis fazer o mínimo barulho possível quando vindes às nossas
reuniões. Izgrev, o Bonfin e todos os outros centros fraternais são lugares onde vindes para encontrar condições que não tendes na vida corrente, para vos regenerardes e fazerdes um trabalho
espiritual. Peço-vos, pois, que procureis não trazer para aqui os barulhos do mundo vulgar.
Eu sei que, no início, isso parecerá difícil para alguns. Não fazer barulho não é a principal preocupação dos humanos: eles falam alto, gritam, batem com os objectos… Nem sequer têm ideia de que este comportamento poderá ser tão nocivo para eles quanto para os outros.
Manifestam-se tal como são: sentem-se muito bem assim e quem os rodeia não tem outro remédio
senão suportá-los. Pois bem, esta é uma forma de egoísmo muito prejudicial para a evolução.
Sim, atenção!, porque, pelo contrário, é preciso ter o cuidado de não incomodar os outros
com o barulho; conseguindo esse autocontrolo, as pessoas tornam-se conscientes e desenvolvem
numerosas qualidades: a delicadeza, a sensibilidade, a bondade, a generosidade, a harmonia…
E serão elas próprias quem primeiro beneficiará com isso! É bastante necessário compreender
a importância da ligação que existe entre uma atitude e o resto da existência.
Eu tenho necessidade de silêncio. Só no silêncio é que me dilato e encontro as condições para o meu trabalho. Para mim, o barulho é impossível de suportar, faz-me fugir. Quando ouço barulho, só tenho uma vontade: largar tudo e partir para o mais longe possível. É claro que aqueles que vêm aqui pela primeira vez ficam um pouco desconcertados com o silêncio; não têm este hábito e interrogam-se:
«Mas aonde é que eu vim parar? Parece que estou num convento!»
Porquê num convento? O silêncio não pertence ao convento, pertence à Natureza, a todos os
sábios, a todos os Iniciados e a todas as pessoas sensatas.
Quanto mais evoluído se é, mais necessidade se tem do silêncio. Ser barulhento não é, pois,
um bom sinal. Muitas pessoas fazem barulho apenas para que reparem nelas! Falam alto, riem,
entram sem precaução numa sala quando toda a gente já está instalada, batem com as portas,
chocam com as coisas ou empurram-nas, só para atrair a atenção. Fazer barulho é, para elas,
uma maneira de se afirmarem, de mostrar que estão ali. Pois bem: é preciso que saibam que os
tonéis vazios são os que fazem mais barulho: toda a gente nota logo a sua presença! Sim, há
imensas pessoas que são como os tonéis vazios: para onde quer que vão, fazem uma barulheira
ensurdecedora, que revela a sua insuficiência, a sua mediocridade.
Eu observo as pessoas e o seu comportamento revela-me imediatamente a sua educação, o seu
carácter, o seu temperamento, o seu grau de evolução.
Tudo é expresso na maneira como elas se apresentam e falam. Algumas falam como que para encobrir, para esconder alguma coisa, como se receassem que o silêncio pudesse revelar exactamente o que elas pretendem camuflar. Assim que as encontrais, elas começam imediatamente a contar toda a espécie de histórias para impor uma certa ideia delas mesmas, dos outros ou dos acontecimentos. Podeis dizer: «Mas elas falam para travar conhecimento!» Admitamos que sim; mas, para travar conhecimento, o silêncio é, por vezes, mais eloquente do que a palavra.
Sim, vivendo juntas durante alguns minutos em silêncio, as pessoas conhecem-se melhor do que
mantendo uma conversa longa e inútil.
O ruído retém o homem nas regiões psíquicas inferiores: impede-o de entrar nesse mundo subtil em que o movimento se torna mais fácil, a visão mais clara, o pensamento mais criativo.
É certo que o ruído é uma expressão da vida, mas não dos graus superiores da vida; ele revela, na
realidade, uma imperfeição na construção ou no funcionamento dos seres e dos objectos. Quando
uma máquina, um aparelho, começa a ter falhas, estas provocam toda a espécie de ruídos; e se, cada vez mais, os fabricantes se preocupam em construir aparelhos silenciosos, é porque estão conscientes de que com isso trazem uma verdadeira melhoria: o silêncio é sempre um sinal de aperfeiçoamento.
A própria dor é um ruído que nos previne de que as coisas estão a deteriorar-se nos nossos órgãos.
Num corpo são, os órgãos são silenciosos.
Evidentemente, eles expressam-se, porque estão vivos, mas expressam-se sem barulho. O silêncio
é sinal de que tudo funciona correctamente no organismo.
Logo que alguma coisa comece a fazer um pouco de ruído, atenção! É o prenúncio da doença.
O silêncio é a linguagem da perfeição, ao passo que o barulho é a expressão de algum
defeito, de alguma anomalia ou de uma vida ainda desordenada, anárquica, e que precisa de ser dominada, elaborada. As crianças, por exemplo, são barulhentas porque transbordam
de energia e de vitalidade. As pessoas idosas, pelo contrário, são silenciosas. Podeis dizer:
«É claro, as pessoas idosas gostam do silêncio porque têm menos forças e, por isso, o barulho
incomoda-as.» É um pouco verdade; mas também pode acontecer que tenha havido nelas uma
evolução e que agora seja o seu espírito que as impele a entrar no silêncio. Para reverem a sua
vida, reflectirem e tirarem daí algumas lições, elas têm necessidade deste silêncio, no qual se faz
todo um trabalho de desapego, de simplificação, de síntese. A busca do silêncio é um processo
interior que conduz os seres para a luz e para a verdadeira compreensão das coisas.

ÍNDICE

I – Barulho e silêncio
II – A realização do silêncio interior
III – Deixai as vossas preocupações à porta
IV – Um exercício: comer em silêncio
V – O silêncio, reservatório de energias
VI – Os habitantes do silêncio
VII – A harmonia, condição para o silêncio interior
VIII – O silêncio, condição para o pensamento
IX – Procura do silêncio, procura do centro
X – O verbo e a palavra
XI – A palavra de um mestre no silêncio
XII – Voz do silêncio, voz de Deus
XIII – As revelações do céu estrelado
XIV – A sala do silêncio