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O RISO DO SÁBIO

10.00

Informação adicional

Peso200 g
ISBN

978-989-8147-98-1

Ano

2013

Edição

1

Idioma

Formato

110×180

Encadernação

Cartonada

N. Pág.

190

Colecção

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«O riso do sábio é o riso da liberdade. Aquilo que o sábio compreendeu libertou-o dos fardos inúteis da existência, para o projetar até às regiões onde brilha um sol eterno.
O o maior desejo do sábio é transmitir, aos que vivem perto dele ou que vêm visitá-lo, essa sabedoria que ele conquistou à custa de tanto esforço. Mas é necessário muito tempo para eles conseguirem assimilá-la! Por isso, a única coisa que o sábio pode comunicar de imediato é a alegria que lhe advém dessa sabedoria, a alegria que enche o seu coração, que transborda do seu coração, e o seu riso é a expressão dessa alegria, a que também podemos chamar amor.»

VII Capítulo

A candeia do sábio
está cheia de ALEGRIA

Um sofrimento ou uma situação interior difícil de resolver têm muitas vezes origem num pequeno
detalhe sem importância, mas, como não lhe destes atenção no momento devido, esse detalhe acabou por bloquear tudo em vós. Um pouco de humidade, um cabelo, uma poeira, são suficientes para que um aparelho se avarie. As diferentes peças desse aparelho continuam lá, não falta nenhuma, mas o aparelho para de funcionar. E vós continuais a ter o vosso espírito, a vossa alma, o vosso intelecto, o vosso coração, o vosso corpo físico, mas sentis-vos desanimados, aniquilados, perdidos, e tudo isso por causa de uma pequena poeira! Então, que fazer? No momento em que uma poeira aparece, afastai-a com um sopro e a ordem será reposta.
Vós direis: «Soprar?… Mas soprar como?» Na nossa Fraternidade da Bulgária, quando os irmãos
e as irmãs vinham ter com o Mestre Peter Deunov para lhe contar as suas desgraças, por vezes ele
começava a rir e esse riso era tão contagiante que, alguns segundos depois, eles também riam. O riso do Mestre fazia-lhes bem, pois era o riso de um sábio. Sim, rir é uma forma de soprar. Mas, evidentemente, eu não vos aconselho que apliqueis vós próprios este método quando alguém vem falar-vos das suas dificuldades, dos seus desgostos. Porquê?
Porque o vosso riso talvez não seja ainda o de um sábio.
E o que é que tem de tão particular este riso do sábio? É o riso da liberdade. Aquilo que o sábio
compreendeu libertou-o dos fardos inúteis da existência, fez com que ele ultrapassasse essas regiões das nuvens e da poeira que são o plano astral e o plano mental inferior, para se elevar até às regiões onde brilha um sol eterno.
E o maior desejo do sábio é transmitir, aos que vivem perto dele ou que vêm visitá-lo, essa sabedoria
que ele conquistou à custa de tanto esforço.
Mas é necessário muito tempo para comunicar aos seres aquilo que se compreendeu por si mesmo!
Por isso, a única coisa que o sábio pode comunicar de imediato é a alegria que lhe advém dessa
sabedoria, a alegria que enche o seu coração, que transborda do seu coração, e o riso é a expressão
dessa alegria, a que também podemos chamar amor. Por causa dessa alegria, desse amor que vem
até eles, os humanos são levados a refletir. Pelo menos questionam-se acerca dos caminhos pelos
quais, também eles, poderiam atingir esse estado de consciência.

Evidentemente, haveria muito a dizer sobre o riso e o seu significado. Alguns filósofos debruçaram-
se sobre este assunto: Aristóteles, Descartes e Bergson, por exemplo. Algumas pessoas fizeram
notar que, nos Evangelhos, é mencionado que Jesus chorou e nunca que ele riu. Mas o que se conhece realmente acerca da vida de Jesus?…
Quanto aos moralistas, há muitos séculos que eles dizem e repetem que «o sábio estremece quando
ri». Porquê? Porque o riso, que é muitas vezes sinónimo de escárnio, de falta de respeito, de desprezo, pode tornar-se uma arma perigosa.
Além disso, atualmente vê-se cada vez mais os humoristas fazerem rir o mundo inteiro escarnecendo de tudo e de todos, especialmente de figuras públicas, políticos e até membros do clero. E com o pretexto de que o clero pode ser ridicularizado, aproveita-se para ridicularizar também a religião. Aqueles que fazem isso e aqueles que os encorajam, aplaudindo, não se apercebem dos efeitos deploráveis de uma tal atitude. Desse modo, destrói-se tudo o que é sagrado, tudo o que merece ser estimado e respeitado. Cada um põe-se a pensar que tem o direito de ridicularizar seja o que for e seja quem for, isso dá-lhe um sentimento de superioridade.
Vós direis: «Mas sabe-se que tudo isso não passa de um divertimento.» Talvez, mas provoca
algo que não é bom para ninguém. Mesmo para os que fazem chacota, pois, frequentemente, eles ridicularizam seres que, mesmo imperfeitos, são superiores a eles. Então, o que esperam ganhar com isso?… Com exceção do dinheiro, é claro. Como é que não se apercebem de que estão a destruir algo neles próprios?
E que dizer dos efeitos nocivos desta atitude para a educação das crianças? Para se desenvolverem
convenientemente, as crianças precisam de respeitar os adultos. E se lhes mostram continuamente
quão ridículos e grotescos são os seus pais, os seus professores e os governantes do seu país, não é de estranhar que em seguida elas já não respeitem nada. E depois as pessoas queixam-se: «Estes adolescentes são insuportáveis, que insolência! Vejam como eles se riem na cara dos adultos!» Mas de quem é a culpa? Quem lhes deu o exemplo?
Os gestos, as atitudes, as palavras, são ocasiões em que cada um pode encontrar-se numa situação
ridícula. Alguém gagueja, troca uma palavra por outra, tem um gesto desajeitado, tropeça e cai, e
toda a gente ri. Depois de rirem, as pessoas sentem- se bem, mas como se sente aquele de quem
elas riram? Só quem se acha ridículo tem o direito de rir de si próprio; os outros deveriam mostrar-se um pouco mais reservados. Quanto aos que se riem de pessoas atingidas por situações de invalidez,
isso é verdadeiramente criminoso e a Justiça divina mostra-se implacável. Ninguém está livre
de ter um acidente e aquele que se ri dos outros liga-se carmicamente a eles: sem saber, atrai para
si correntes nocivas das quais, um dia, será vítima.
Por vezes, nada pode ferir mais alguém do que ser gozado. Há mulheres que nunca se curaram
de chacotas de que foram alvo durante a infância: porque eram muito magras ou muito gordas, sobretudo na família e na escola, onde lhes deram todo o tipo de alcunhas. Muitas confidenciaram-me isso.
Quantas pessoas teriam preferido receber pancada a ser alvo de chacota! Só que a pancada é punida pela lei, ao passo que o primeiro energúmeno que aparece pode ridicularizar publicamente os homens e as mulheres mais respeitáveis sem ser incomodado.
Então, cada vez mais, para fazer mal às pessoas faz-se chacota delas. Neste domínio, tudo é
permitido, pode-se mesmo feri-las mortalmente com sarcasmos que nenhum tribunal pronunciará
uma condenação. E, além disso, a multidão rirá e aplaudirá. Por isso se diz que «o sábio estremece
quando ri».
Contudo, a verdadeira sabedoria não é triste nem sombria como muitos imaginam, porque
na verdadeira sabedoria também existe o amor: o coração e o intelecto trabalham em conjunto.
A candeia do sábio não projeta unicamente a luz fria do intelecto que raciocina, assinala e sublinha
as mínimas imperfeições; ela brilha mas, ao mesmo tempo, difunde calor e amor, e é por isso
que é alegre. Sim, a candeia do sábio está cheia de jovialidade. Como o sol. Objetivamente, o sol
que brilha no céu aparenta ser apenas uma bola de fogo, mas então por que é que as crianças o
desenham pondo-lhe um grande sorriso? Instintivamente, as crianças compreenderam algo muito
importante: elas sentem que há alegria na luz do sol. Como também há alegria no dançar da chama
de uma candeia.
Mas por quantos sofrimentos e tormentos deve um ser humano passar, quantas lutas interiores deve ele empreender para saborear essa alegria da luz, esse sentimento que vive quando todos os
conflitos que o dilaceram foram resolvidos harmoniosamente! E o seu riso agora é o da vitória: ele
conseguiu elevar-se acima dos elementos à solta e apaziguá-los. É esse o significado do riso do
sábio e é por isso que, através do seu riso, ele pode reconfortar os seres que sofrem. Em certas ocasiões, penso no riso do Mestre Peter Deunov: ele ria como uma criança e, por vezes, até as lágrimas lhe vinham aos olhos. Quando ele ria assim, sentíamo-lo tão próximo, tão amigável, tão fraterno.
O riso do sábio é a manifestação de um ser que se libertou. Por que é que os humanos continuam a
criar limitações e cargas inúteis para si próprios? É porque se embrenham na matéria que eles perdem a sua alegria. Todos os fardos que amontoaram
pesam no seu coração. Se se desembaraçarem deles, a alegria voltará.
Muitos viajantes que visitam países muito pobres ficam frequentemente espantados ao descobrirem
uma população sorridente, ao passo que nos países prósperos as pessoas apresentam um semblante carregado. Pois bem, contrariamente àquilo que se possa imaginar, a abundância material não torna as pessoas mais alegres. Elas ficam prisioneiras desse mundo artificial que construíram para si próprias. As coisas foram tão longe, a economia, a finança e os negócios ocupam um lugar tal, que não se vislumbra como sair dessa engrenagem, e enquanto os negócios, supostamente, prosperam, os humanos periclitam.
Evidentemente, os responsáveis de todo o tipo, quando têm de aparecer em público, esforçam-se
por mostrar um rosto aberto e até sorridente. Eles sabem que é necessário fazer crer que tudo vai
bem: a vida é bela! Mas, frequentemente, existe nessa atitude algo de artificial que não sossega as
pessoas um pouco perspicazes; muito pelo contrário elas sentem que lhes mentem, têm mesmo
a impressão de que se riem delas. Pela expressão do rosto, pelo olhar, pelo sorriso, cada um
de nós transmite a vida. Mas essa vida deve ser autêntica, deve vir do interior, não se pode fingi-la. Nada pode substituir o trabalho espiritual, o trabalho sobre si próprio, para criar essa vida que
tranquiliza, apazigua e encoraja os seres. No sábio, tudo se faz naturalmente. Como é que a luz interior não encontraria a melhor forma de se exprimir?
E vós, o que deveis fazer se alguém vier falar-vos das suas deceções, dos seus desgostos?
Enquanto não sois capazes, como o sábio, de rir para as apaziguar, sabei pelo menos uma coisa:
frequentemente, a pessoa que vos confia o seu sofrimento fá-lo mais para vos levar a partilhar
o seu estado do que para encontrar uma solução.
E então? Se vos deixais invadir pelos seus mal-estares, não a ajudareis, pois ficareis paralisados
e correreis o risco de vos afundar com ela. Se pretendeis ajudar alguém, não permitais que a sua
perturbação penetre em vós. Permanecei lúcidos, tranquilos, sólidos, pois é a única maneira de tirar a pessoa da situação em que se encontra. Dir-me-eis que ela ficará descontente por não participardes nas suas desgraças. É possível, mas isso não deve inquietar-vos.
Estai conscientes de que, ao acompanhar os humanos nos seus estados negativos, só se pode
satisfazer a sua natureza inferior. E a satisfação da natureza inferior não dura muito tempo, pois ela é
insaciável: um verdadeiro sorvedouro. Vós acreditais que, com a vossa simpatia, a vossa compaixão,
podeis apaziguar uma pessoa, mas, pouco tempo depois, recomeçam os mal-estares, as queixas, e
a situação pode permanecer assim durante toda a vida. Essa pessoa ficará satisfeita se estiverdes
sempre dispostos a partilhar o seu sofrimento, mas isso não a melhorará. E vós, em que estado ficareis?
Uma criança cai e magoa-se. Se lhe disserdes: «Oh, meu pequenino, magoaste-te!…» e puserdes
um semblante consternado, isso só fará com que ela redobre os seus gritos. Mas se lhes disserdes:
«Levanta-te, isso não é nada, continua a brincar», ela acalma-se rapidamente. Os humanos são como as crianças, não devemos alimentar as suas fraquezas e os seus estados negativos.
Se um dos vossos amigos tem um dente estragado, vós não tendes a bondade estúpida de vos
queixardes com ele, aconselhai-lo a tratar o dente para não se arriscar a perder toda a sua dentadura.
Pois bem, psiquicamente também há dentes para tratar… ou para arrancar! É esse o verdadeiro amor. Este amor é desconhecido da maioria dos humanos: a tradição é lamentar a situação daquele que sofre e chorar com ele. Mas não, deveis ajudá-lo a endireitar a situação opondo resistência ao seu desânimo. E, se ele ficar ofendido, paciência! Permanecei firmes afirmando o poder da luz. É a única maneira de fazerdes algo por ele.
Vós direis: «E se, apesar dessa atitude, eu não conseguir ajudá-lo?» Pois bem, é porque não
podeis fazer nada por ele. Isso acontece. Há seres que ninguém pode ajudar porque alimentam dentro deles um estado que impede que alguém os ajude.
Mas ficai a saber que, apesar de tudo, não perdestes tempo ao tentar ajudá-lo. Desde logo porque,
em vez de vos terdes deixado devorar, saístes reforçados, e essa força que adquiristes podereis
usá-la a ajudar outras pessoas. Não vos inquieteis, pois encontrareis sempre alguém que será capaz de receber e apreciar aquilo que fazeis por ele.
A verdade é que só conseguireis ajudar os outros nas suas dificuldades, nos seus desgostos,
quando já tiverdes aprendido a ultrapassar os vossos.
Muitas pessoas falam aos outros de paciência e de coragem mas elas próprias não param de
se queixar e de choramingar por tudo e por nada! Mesmo que tenhais sérias razões para estar tristes, inquietos e perturbados, começai por fazer um esforço para recuperar o autodomínio, pois muitas vezes as preocupações e as deceções tomam proporções desmesuradas simplesmente porque não se soube, à partida, considerar certos acontecimentos como aquilo que eles são: incidentes sem grande gravidade.
Indo de imediato contar aos outros por que estais infelizes e irritados, vós sobrecarregai-los
sem, com isso, resolverdes os vossos problemas. Mas se, pelo contrário, disserdes para vós próprios: «Vou caminhar um pouco para mudar de ideias, ou ouvir música, meditar, orar», há todo
um trabalho interior que tem como consequência livrardes-vos das vossas angústias. Pensando que
protegeis os outros, protegeis-vos a vós mesmos.
E não vos parece que é o momento de aprender a rir um pouco dos vossos pequenos infortúnios?
Enquanto não conseguis ajudar os amigos com o vosso riso, tentai perceber se, por vezes, ele não é
uma solução para os vossos problemas.
Passear-se com as suas preocupações, com os seus desgostos, inscritos no rosto é uma falta de
amor, um fardo que se coloca sobre os ombros dos outros. Não vos parece que o mundo já é suficientemente triste? Porquê acrescentar-lhe a vossa própria tristeza? Só deveis pedir ajuda se já tiverdes feito todos os esforços possíveis e não conseguistes ultrapassar as vossas dificuldades. Antes de envenenardes vinte pessoas pelo telefone contando-lhes as vossas desgraças, começai por lutar vós mesmos com todos os meios que um ensinamento espiritual vos dá.
É claro que a existência nos traz todos os dias situações que suscitam tristeza e contrariedade,
é impossível não as sentir. Mas por que se há de mostrar isso? Vós direis: «Mas como não mostrar o que se sente?» Quando encontrais alguém, não podeis fazer o esforço de introduzir um tema de
conversa, ou até contar uma anedota divertida, que lhe faça bem? Dai umas gargalhadas em conjunto com essa pessoa! Fazendo-lhe bem a ela, fareis igualmente bem a vós, pois aquilo que ela sentir virá até vós. Sim, neste caso também funciona a lei do eco, cujas correspondências na vida espiritual já vos expliquei muitas vezes.
Notas
1. Cf. La pédagogie initiatique, OEuvres complètes, t. 27, cap.
III: «Éducation et instruction. La puissance de l’exemple».
2. Cf. Aux sources inaltérables de la joie, Col. Izvor n.º 242,
cap. XVII: «Le long chemin vers la joie».
3. Cf. Natureza humana e natureza divina, Col. Izvor
n.º 213, cap. X: «Comment favoriser les manifestations de
la nature supérieure en soi et chez les autres».
4. Cf. O livro da Magia divina, Col. Izvor n.º 226, cap. XI:
«Três grandes leis mágicas : 3. A lei do choque de retorno».

ÍNDICE
I O sábio vive na esperança ……………………….. 7
II Como o pastor guarda as suas ovelhas …….. 23
III Proteger as fronteiras da nossa alma ……….. 41
IV A espera que nos mantém vigilantes ……….. 57
V «Se o teu olho for puro,
todo o teu corpo será luminoso» ……………… 69
VI O sério, as lágrimas, o riso, a festa ………….. 79
VII A candeia do sábio
está cheia de alegria ………………………………. 89
VIII Língua de ferro e língua de ouro …………….. 103
IX A vitória sobre o sofrimento:
o sorriso de Deus ………………………………….. 117
X Cada sacrifício imprime em nós
a marca do sol ………………………………………. 125
XI «O maior de entre vós
será vosso servidor» ………………………………. 139
XII Agradecer, fonte de luz e de alegria ………… 151
XIII Para que o vosso nome seja
inscrito no livro da vida …………………………. 167
XIV À mesa do banquete ……………………………… 177