Parte II do Cap. X – PROCURAI O ALMA E O ESPÍRITO

Certos puritanos ou ascetas aconselharam o homem a fugir da mulher com o pretexto de que ela era uma encarnação do mal, uma filha do Diabo. Como quereis que o amor divino desperte no homem se ele tem tais ideias sobre a mulher? Estará constantemente abatido, enfadado, repugnado. Porque não se há-de pensar, antes, que, sob a aparência desta ou daquela mulher, se esconde a Divindade, que tomou a sua forma, que é uma princesa que assim se disfarçou? As pessoas não sabem viver na beleza. Ora, é precisamente a beleza que o nosso Ensinamento vos traz: adotai um certo modo de vida e vivereis sempre com beleza. Os seres humanos patinham continuamente na fealdade; então, como podem ser felizes? Veem-se uns aos outros só como órgãos, vísceras, carne, nada mais. Não se apercebem do esplendor que está por detrás, e essa atitude leva a consequências desastrosas. Agora, deve ser-nos mostrada a beleza, pois só a beleza nos salvará e nos fará felizes. Temos uma necessidade absoluta de beleza. Se, doravante, considerardes os homens e as mulheres como almas e espíritos, vereis as mudanças que ocorrerão em vós, pois sereis obrigados a agir de forma diferente em relação a eles. Por detrás das suas roupas e da forma do seu corpo ou do seu rosto, descobrireis o seu espírito e a sua alma, que são filho e filha de Deus. Se souberdes ter em atenção a alma e o espírito, todas as criaturas que negligenciastes, que abandonastes, que desprezastes, e das quais desdenhastes, vos parecerão extremamente preciosas. O Céu, que as enviou assim disfarçadas, considera-as seres excecionais nos quais está contida a Divindade. Para mim, por exemplo, não tem importância que sejais educados, bonitos, ricos, ou um pouco feios, pobres e ignorantes; aos meus olhos, o essencial é a vossa alma. Porque é que eu não procuro a companhia dos mais instruídos, dos mais ricos, dos mais belos? Porque são as almas que me interessam. Isso até já me valeu muitas críticas: «Mas porque é que ele se rodeia de pessoas que não têm influência na sociedade, que não são ricas nem instruídas e nada podem fazer por ele? Porque é que ele aprecia essas pessoas?» Como é que Jesus agia? Buscava as almas e os espíritos.1 Enquanto considerardes as pessoas segundo a sua riqueza, segundo a sua situação, o seu conheci mento livresco ou a sua beleza exterior, não compreendestes o essencial. Para mim, só contam as almas e os espíritos, porque, no além, essas almas e esses espíritos são príncipes e princesas. No dia em que começardes a apreciar as almas e os espíritos, isso será a prova de que evoluístes verdadeiramente, pois compreendestes o essencial, e o Céu, que vos vê, decidirá ajudar-vos, porque sabe que, então, vale a pena. Ao invés, se continuardes a fazer juízos terra-a-terra, ele deixar-vos-á a marcar passo, dizendo: «Desembrulha-te com essa gente! Verás o que farão por ti: nada!» Ter em consideração as almas e os espíritos é já estar conectado com o mundo espiritual, e este não pode deixar-vos sem auxílio. Mudar a sua maneira de ver as coisas é mudar o seu destino. Eu escolhi considerar as mulheres como almas, ou mais ainda, como divindades, e sou o primeiro a beneficiar com isso, porque estou constantemente inspirado, dilatado, entusiasmado. Mesmo a mais feia, a mais vulgar, para mim é uma alma, uma filha de Deus, e posso fazer um trabalho com ela. Fazendo alguma coisa pela sua alma, toco o próprio Deus, e Ele nunca me abandonará.

Deveis aumentar a vossa atenção e o vosso amor por esta ciência, adotar uma atitude sagrada para com as verdades que vos revelo. Os seres humanos estão a perder, cada vez mais, o sentido do sagrado, querem desmistificar tudo, porque, segundo dizem, há muitos mitos. É o que eles fazem; saqueiam tudo sem se aperceberem do que perdem, pois, quando assim agem, a Natureza fecha-se para eles, não lhes faz qualquer revelação. A Natureza só se descobre diante dos seres humanos que têm o sentido do sagrado. Por isso, se cultivardes aqui esta atitude sagrada, posso prever que tereis revelações extraordinárias, que não virão só de mim, pois não serão tão substanciais se não vierem também de vós. Se souberdes encontrar a atitude certa, as revelações virão também de vós e compreendereis as verdades que antes nunca tínheis entendido.

Sèvres, 29 de dezembro de 1970

Nota 1. Cf. «Et il me montra un fleuve d’eau de la vie», Parte IX, cap. 2: «La para bole de l’ivraie et du froment»