NOTA INTRODUTÓRIA

O livro que o leitor ora tem em mãos, ROTEIRO PARA UMA NOVA ERA destina¬ se a ser isso mesmo. Um guia que procurará colocar à sua disposição um resumo actualizado das linhas mestras dos ensinamentos teosóficos e espiritualistas sobre o sentido da vida e a natureza de Deus, do Homem e do Universo. O livro procurará ser suficientemente amplo para incluir todos os temas centrais desses ensinamentos, mas também suficientemente compacto para ser útil aos leitores que com eles já contactaram e àqueles que os abordam pela primeira vez.
O autor não é um místico. É um ser racional que aprecia e gosta de compreender o extraordinário mundo oculto que se esconde para lá do alcance dos cinco sentidos. Não partilha do interesse, hoje muito disseminado, em adoptar uma postura ingenuamente lamechas ou irracionalmente crédula em relação a tudo o que se diz ou se ouve sobre estes temas. Poucos assuntos se prestam de modo tão imediato à crendice e ao disparate como aqueles que lidam com a espiritualidade, pois tocam um ponto nevrálgico em cada um de nós.
Na verdade, na sociedade desnorteada em que vivemos, é cada vez maior o número de pessoas que se sentem impotentes para encontrar respostas coerentes ao contraste entre a abundância frívola de bens materiais e o crescente sentimento de vazio, de abandono, de sem¬ sentido que medra crescentemente no nosso íntimo.
Todos nós sentimos já uma e outra vez, a facilidade com que nos enfadamos das coisas, mesmo aquelas que foram as mais desejadas. Aquele objecto, aquele bem, aquele ser que acreditávamos ir mudar a nossa vida, definha agora no armazém das desilusões, onde foi fazer companhia a tantos outros. Na vida pessoal ou profissional onde tantas vezes, investimos o nosso melhor, recebemos, com frequência, a indiferença ou o abuso como retorno. E são estas as vezes em que a ingratidão mais dói: quando demos tudo, de coração e mente abertas, e recebemos em resposta, o mais negro desdém quantas vezes acompanhado de requintes de maldade ou cinismo. E, nestes momentos, que se acumulam na vida de todos nós, sentimos uma necessidade imperiosa de tentar compreender a lógica deste mundo sem lógica e de nos colocar a coberto de um novo desgosto ou frustração. Viramo¬ nos, então, para a «espiritualidade».
Na verdade, o caminho da «espiritualidade» inicia¬ se, habitualmente, a partir de uma de duas situações:

• Ou um forte impulso interior rumo a uma melhor compreensão do sentido último do mundo e da existência humana;
• Ou como resposta a uma situação traumática que, inesperadamente, se abateu sobre a nossa vida.

Geralmente, é através da leitura de um livro que procuramos as primeiras respostas. Mas, infelizmente, a busca da «espiritualidade» não está mais a coberto dos excessos da nossa sociedade de consumo. O número de livros, autores e propostas é absolutamente desconcertante sobretudo para aqueles que buscam com sinceridade. É difícil saber por onde começar e em quem confiar. Certos livros falam uma linguagem metafórica e obscura que não sabemos decifrar. Outros apresentam¬ nos um mundo cor¬ de¬ rosa que se pode alcançar sem esforço. Outros ainda convidam¬ nos a «amar muito», numa linguagem lamechas e simplória. Uns quantos mais lidam com energias, com cristais, com auras, mas com uma ligeireza e leviandade que fazem desconfiar. E a desorientação continua…
Foi esta a situação que me levou a escrever este livro. Também eu sinto a mesma perplexidade que o leitor quando me dirijo, numa livraria, à secção de «ciências ocultas ou espiritualidades». O número e a variedade de obras disponíveis é avassalador. Alguns autores mais conhecidos aproveitam a onda da fama para escreverem livro atrás de livro, onde repetem sistematicamente as mesmas ideias; outros de que não conhecemos o nome, falam¬ nos muitas vezes de bagatelas; outros ainda procuram despertar a nossa curiosidade com títulos alarmistas ou sensacionalistas; uns poucos, muitas vezes modestos e anónimos, procuram encaminhar o leitor para rumos bem assentes nas mais sólidas tradições espiritualistas. Espero ser capaz de ombrear com estes últimos.
O meu objectivo é conduzi¬ lo através das ideias¬ mestras da tradição teosófica e de alguns novos movimentos ou personagens que parecem transmitir mensagens verídicas e úteis, oriundas dos planos espirituais. Tanto quanto possível, procuro utilizar uma linguagem acessível a qualquer leitor de cultura média. Mantive, na medida do desejável, a terminologia tradicional consagrada pelo tempo, mas tendo a preocupação de clarificar o seu sentido.
Este livro é apresentado em dois volumes.
No 1.º volume, o leitor encontrará:
• Um prefácio, onde o autor refere os primórdios do seu percurso espiritual.
• Capítulo «Em Busca da Espiritualidade», onde se aborda a urgência moderna em descobrir os caminhos da espiritualidade, se traça o percurso da descoberta da espiritualidade oriental no século XX e se distingue entre as espiritualidades ocidental e oriental;
• Capítulo «Tempora Nostra» onde se analisa em algum detalhe a nossa sociedade e os seus excessos;
• Um «Decálogo Espiritualista», sintetizando¬ se em dez ideias¬ mestras os principais ensinamentos da Teosofia e do Espiritualismo;
• Capítulo «As Origens», analisando a perspectiva teosófica sobre o aparecimento do Cosmos e do Homem distinguindo¬ se entre as noções de «Kosmos» e «Cosmos»;
• Capítulo «O Cosmos, o Sistema Solar e as Três Grandes Forças Básicas», onde se abordam as energias Fohat, Prana e Kundalini e a sua influência no universo e na vida humana;
• Capítulo «Os Planos Solares, os Corpos Humanos» onde se detalharão as características principais dos sete planos solares e dos corpos humanos que lhes correspondem.
• Capítulo «Da Mónada ao Ser Humano», estudando a verdadeira natureza do ser humano e a sua evolução até atingir a sua Individualização.
• Capítulo «O Lado Oculto da Evolução» onde se explicará a estrutura oculta do Sistema Solar e a evolução do Homem, desde as origens.

No 2.º volume, o leitor encontrará: (Este volume estará disponível na próxima semana)

• Capítulo «As Grandes Leis do Universo», onde se apresentarão algumas das mais importantes leis regentes do universo.
• Capítulo «As Três Grandes Leis Cósmicas: A Lei da Evolução», onde se apresentará a visão teosófica da Evolução Cósmica:
• Capítulo «As Três Grandes Leis Cósmicas: A Lei do Karma», em que se esclarecerá a natureza e o funcionamento do karma;
• Capítulo «As Três Grandes Leis Cósmicas: A Lei da Reencarnação», onde se explicará o mecanismo da reencarnação e se discutirá o determinismo e o livre-arbítrio;
• Capítulo Os Raios», onde se esclarecerá a sua natureza e influência na vida humana;
• Capítulo «Hierarquias e Centros», onde se desvendarão as principais Hierarquias e Centros energéticos que actuam no nosso planeta;
• Capítulo «Novas Mensagens Canalizadas: O Livro de Urântia, as Mensagens de Kryon», onde se apresentam novas e surpreendentes revelações sobre as causas do actual desvario da vida na terra.

Entremeados no texto, encontrará também alguns inspiradores contos zen.

Um monge e seus discípulos seguiam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião a ser arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu¬ se na água e pegou no animal com a mão. Quando o trazia para fora, o escorpião, erguendo o ferrão, picou o monge que, devido à dor, o deixou cair novamente no rio. Foi então à margem, pegou num ramo de árvore, adiantou¬ se outra vez a correr pela margem, entrou no rio, colheu o escorpião e salvou¬ o de novo. Quando o monge regressou e se
juntou aos seus discípulos na estrada, eles que haviam assistido à cena, receberam¬ no perplexos e compungidos.
– Mestre, deve estar muito doente! Porque foi salvar esse bicho mau e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda, picou a mão que o salvou! Não merecia a sua compaixão!
O monge ouviu tranquilamente os comentários e respondeu:
– Ele agiu conforme sua natureza, e eu … de acordo com a minha.

Um jovem turista americano que se encontrava de visita ao Nepal foi visitar um monge budista. Ao entrar nos seus aposentos, apercebeu¬ se que não havia nada além de livros e velas.
– Onde estão as suas coisas? – Perguntou¬ lhe o jovem.
– Que coisas? – respondeu¬ lhe o monge.
– Ora, a sua mobília, roupas, equipamentos, sei lá,
as suas coisas.
– E onde estão as tuas? – perguntou¬ lhe monge.
O jovem, olhando¬ o surpreendido, disse. – Onde estão as minhas coisas? Eu só estou aqui de passagem.
– Pois eu também!